tag:blogger.com,1999:blog-58703594383600379682024-03-13T04:30:19.583-07:00Blog do Andrei"Mas a crônica não é crônica. Um dia ela é conto. Outro dia ela é poema. Outro dia é uma piada, etc. Crônica é uma página livre, onde o sujeito escreve o que quiser" (Paulo Mendes Campos)Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.comBlogger235125tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-72489112107148524332012-11-22T10:28:00.000-08:002012-11-22T11:29:33.731-08:00A arte de trovar<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-2vLGLBmE5QU/UK5oEOMX7TI/AAAAAAAAA1w/RuX6IxCC6Sg/s1600/DSC_0034-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://3.bp.blogspot.com/-2vLGLBmE5QU/UK5oEOMX7TI/AAAAAAAAA1w/RuX6IxCC6Sg/s320/DSC_0034-2.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Tahoma, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">São
16h da primeira quinta-feira de outubro e o calor do sol castiga
quem transita pelo populoso centro de Caxias do Sul. Próximo à
esquina da avenida Júlio de Castilhos com a rua Moreira César, um
rapaz de não mais de 1,70m se move com passos calculados, tentando não
sair da sombra de uma árvore, no canteiro central. Ele tem a pele
bronzeada, a barba por fazer e o cabelo arrepiado a base de gel e
spray. Veste calça jeans e uma camisa do Juventude. Entre os dedos
da mão direita, segura um cigarro que mal tem tempo de levar à
boca. Não mão esquerda, está com dois buquês de crisântemos
rosa. Outros 5 buquês, de rosas vermelhas e amarelas, mantém presos
sob o braço esquerdo. Com o olhar atento de quem está sempre na
rua, não perde de vista o balde que está ao lado da porta
de uma ótica, recheado com pelo menos mais 5 buquês de flores
diversas. Nesta tarde, como em qualquer outra, a missão de Diego
Moroni é repassar o maior número possível deles para as mãos dos
românticos transeuntes ou motoristas da cidade.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O
vendedor de flores que até pouco tempo atrás podia ser visto todas as tardes na esquina da rua Coronel Flores com a Sinimbu, mas que há
alguns dias deixou de ter ponto fixo, é o tipo de pessoa que já
deve ter ouvido mais de uma vez que deveria se candidatar a vereador, pela popularidade de que desfruta. Entre seus incontáveis
amigos do Centro, estão senhores em carros tão enormes quanto luxuosos, que baixam os
vidros para trocar com Diego algumas palavras sobre qualquer
banalidade que caiba em 10 ou 15 segundos, e senhoras – mais
freguesas do que os homens – preocupadas em ter algum enfeite para
receber as visitas na sala de estar. Vendendo flores desde os 10 anos
de idade, Diego já descobriu que regar as amizades, e principalmente
a clientela, é fundamental para não perdê-las.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Diego
nasceu em São Marcos, há 35 anos, mas mora em Caxias desde os 20,
no bairro Reolon. Divide a casa com o pai, a mãe, 8 irmãos e um
cunhado, mas planeja se mudar em breve para um apartamento no Centro.
Quer morar com a namorada. Já foi entregador de jornal e chapista do
McDonald’s, mas sempre trabalhando meio turno, pois nunca deixou de
vender suas rosas, crisântemos, orquídeas e gerberas.<span style="color: red;">
</span>Nos
finais de semana, Diego faz bicos como vendedor de bebidas em shows e
em estádios de futebol, o que explica se seu rosto parecer familiar
para públicos bem distintos. Com o salário e a comissão que recebe
por buquê vendido, sua renda mensal gira em torno de R$ 1.000, sem
contar os bicos. </span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Tahoma, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-Lk6hAsiqEwk/UK5umjIEQuI/AAAAAAAAA2A/RJeF1cLiL3c/s1600/DSC_0067.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://1.bp.blogspot.com/-Lk6hAsiqEwk/UK5umjIEQuI/AAAAAAAAA2A/RJeF1cLiL3c/s320/DSC_0067.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;">Bem
articulado, Diego concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual
Cristóvão Mendonza.</span> <span style="color: #222222;">Preocupado
em atender bem a clientela estrangeira, chegou a frequentar por dois
anos um curso de inglês. “Quando o cliente diz ‘</span><span style="color: #222222;"><span style="font-size: small;"><i>no</i></span></span><span style="color: #222222;">’</span><span style="color: #222222;">,
eu respondo ‘obrigado’.” Mas por que obrigado? "Porque é
assim também na língua dele”, confunde-se. Mas o que vale é a
intenção. Nas suas mãos, os buquês custam R$ 10 cada, mas,
“dependendo da cara do freguês”, como não tem vergonha de
admitir, pode oferecer 2 ramalhetes por R$ 15. A clientela feminina é
mesmo maioria. “Algumas compram para oferecer para uma amiga, mas a
maioria é para enfeitar a casa”, analisa.</span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;">Na tarde em que
acompanhamos o seu trabalho, enquanto ele está em sua estratégica
posição sob a árvore do canteiro, uma senhora se aproxima do balde
com os buquês. Ele interrompe uma conversa com uma amiga que estava
passando por ali ao acaso, deixa-a aguardando e atravessa a rua para
atender a também já conhecida Neusa Nery, de 42 anos, freguesa há
alguns anos. Nessa ocasião, Neusa compra dois ramalhetes de rosas
para a mãe e um ramalhete de crisântemo para a cunhada, ambas
falecidas. É véspera de finados, o que, segundo Diego, não chega a
incrementar o movimento. Talvez os mortos prefiram arranjos comprados
prontos nas floriculturas. Antes de ir embora, Neusa deixa um elogio.
</span><span style="color: #222222;">“Sempre
que eu penso em comprar flor, m</span><span style="color: #222222;">inha
referência aqui em Caxias é ele”, brinca, sob o olhar orgulhoso
do vendedor.</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Quando não há nenhum freguês em potencial passando
por perto, ocasião em que Diego aproveita para acender mais um
cigarro, aproveitamos para perguntar qual o segredo para ser um bom
vendedor de flores. “É saber trovar”, ensina. O que é trovar?
“É ver uma senhora passando e sugerir: ‘vai uma flor para
enfeitar a casa?’. Ou se passa um casal, perguntar para o homem:
‘não quer dar uma rosa para a namorada?’”. Mas não há
argumento que supere a simpatia, um dom que ele sabe dizer até
quando desenvolveu. “Sou simpático assim desde os 8 anos. Acho que
desde essa idade que eu aprendi a gostar de alegrar as pessoas, de
fazer todo mundo rir”, conta, com um sorriso bem característico,
que é quase disfarçado. Talvez como o de quem acabou de contar uma
piada que talvez só ele tenha entendido e você ficou no vácuo. </span><br />
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Diego é mesmo um gozador. Ou será que alguém que leve a vida muito
a sério vestiria, por baixo da camisa do Juventude, uma do Caxias,
só para agradar a alviverdes e grenás? Das 8:30 às 20:30, o
florista Diego, que os colegas conhecem por Alemãozinho, ganha seus
dias se aproveitando da melhor forma dos afetos humanos. Pois
enquanto houver romantismo, haverá um florista sorrindo pela rua.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="color: #222222;"><i><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: x-small;">*foto Paulo Pasa</span></i></span></div>
<br />Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-214102298398883512012-11-08T10:19:00.003-08:002012-11-16T09:53:11.259-08:00Caminho livre<div class="western" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span>
<br />
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><i>Há alguns meses, aproveitando a repercussão do filme </i>Na estrada (adaptação do clássico On the road, do Jack kerouac)<i>, sugeri na reunião de pauta da revista uma matéria sobre mochileiros. Encontrei gente bem bacana, com histórias e modos de viajar bem diferentes, mas que têm em comum uma certe aversão ao turismo convencional e um amor pelo improviso. Abaixo, a reportagem.</i></i></span></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<b style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Eles
amam viajar, mas não reservam hotel</b><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> e nem acumulam milhas aéreas.
Não fazem check-in e dispensam qualquer serviço de bordo. Se
precisar, dormem na rua. Na hora de pegar a estrada, os sapatos do
dia a dia dão lugar a botas com a sola gasta, duras de barro. Para
os adeptos do mochilão, a “indiada” – alguém já disse por aí
– é boa porque é ruim. Seria melhor se fosse pior. Afinal,
turismo convencional é para os fracos.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="western" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O
mochilão é mais do que uma forma alternativa de viajar pelo mundo,
privilegiando gastos menores. É um estilo de vida, filosofia em que
a imersão em culturas diferentes se dá não pela visita ao museu da
moda ou pelos souvenires comprados na loja do aeroporto, mas sim pelo
café na casa de um desconhecido, pela carona ou pelo ônibus lotado.
Nos últimos anos, a cultura mochileira virou pop. São dezenas de
blogs, livros, filmes e programas de televisão, dedicados a contar
histórias de viagens, que tornam esse estilo cada vez mais popular
(e menos estranho para os pais superprotetores). Em Caxias do Sul,
encontramos pessoas que já nasceram com a mochila pronta, e outras
que em algum momento da vida trocaram o turismo das agências pela
aventura improvisada, substituindo o táxi pelos próprios pés.
Conversando com todos eles, em comum percebe-se a ânsia por se
tornar mais livre, de precisar cada vez menos para viver. E o
inevitável desejo que permeia qualquer saída além do portão:
conhecer pessoas.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="western" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Aos
28 anos, a produtora cultural Mona Carvalho é uma dessas pessoas
apaixonadas por improvisar a vida de estrada em estrada. Morou na
Espanha, na Itália e na Colômbia, sempre procurando fugir do
convencional em cada lugar. Já pediu esmola para voltar para casa
após um show de Marylin Manson, já teve que deixar uma casa de
família por sofrer assédio de velho tarado, já usou as próprias
malas como cama e as roupas como cobertor.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="western" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Entre
as viagens preferidas, o trajeto até a cidade de Bucaramanga, na
Colômbia, onde ganhou uma bolsa de estudos para cursar Manutenção
de Bens Culturais, em 2007. O trajeto, feito de ônibus e caronas
“nada memoráveis”, segundo ela, durou duas semanas e meia,
passando por Paraguai, Bolívia, Peru e Equador, até chegar à
pátria de Gabriel García Márquez. No caminho, entre uma escapada e
outra do roteiro previsto, enfrentou desde deslizamento de terra até
travessia de rio pendurada em uma corda, além de longas caminhadas
no meio do nada atrás de carona. Para quem chega da Europa, a
realidade latino-americana pode ser traumática. A viagem que duraria
um ano, durou 3 meses, e foi derrotada por uma crise de identidade
que trouxe Mona de volta para Caxias, para concluir o curso de
Educação Artística, na UCS. Ainda assim, valeu a pena. “Botar
uma mochila nas costas e viajar sem planejar nada, pelo menos uma vez
na vida, é obrigação. Todo mundo deveria fazer isso pelo menos uma
vez na vida”. Mona não cansa de recomendar experiências como as
que acumulou. Segundo ela, a transformação que a vida longe de casa
e sem regras provoca, é o que mais compensa. “Quando tu conhece
uma cultura diferente e está aberto a isso, tu recomeça do zero.
Deixa pra trás muito preconceito, fica menos ‘enjoada'. E percebe
que não precisa de nada do que tem em casa para viver. É muito
bom”.</span></div>
<span style="color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-h_EQ5v2r2rA/UJv0NLGheHI/AAAAAAAAA1Q/knbztXpNFHs/s1600/475698_10150604792086234_1477927469_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-h_EQ5v2r2rA/UJv0NLGheHI/AAAAAAAAA1Q/knbztXpNFHs/s320/475698_10150604792086234_1477927469_o.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="western" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: black;">Atualmente,
<b>Mona</b> (foto acima) vive na casa dos pais. Recentemente, pediu demissão do emprego,
na Secretaria Municipal da Cultura, para se dedicar aos projetos
culturais que toca de forma autônoma, aproveitando o que considera
um cenário favorável da cidade nesta área. Mas já sente a pressão
por parte dos amigos. “Eles dizem ‘pô, tu está louca, como foi
deixar o cargo bacana que tu tinha...’, mas eu não preciso disso.
Só um pouco de grana – até para viajar. Mas ter amigos, música,
natureza, estar fazendo tudo isso...é o que me basta”. </span>
</span></div>
</div>
<div class="western" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="western" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: black;"><b>A
satisfação que Mona </b>sente viajando de ônibus, trem ou de
carona, o cinegrafista da UCS TV Dirceu Borba experimenta caminhando.
Dirceu é praticante de trekking, a famosa “trilha”, e está
sempre na estrada. Entre os pertences mais queridos que mantém no
apartamento que divide com a esposa, está uma bota que transformou
em troféu, com uma placa identificando a quilometragem percorrida
pelo calçado: 1000 km. </span>
</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: black;"><br /></span></span></div>
</div>
<div class="western" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: small;">Dirceu
é natural de Concórdia, em Santa Catarina, e desembarcou no Rio
Grande do Sul de mochila nas costas, sem endereço. Em Porto Alegre,
onde trabalhava na TV Guaíba, dormia na rodoviária, sem que os
patrões soubessem. Em Caxias, afirma ter passado muitas noites no
Parque dos Macaquinhos. Na estrada desde os 19 anos, quando saiu do
Exército, a viagem que mais o marcou ocorreu em 2004, quando fez a
pé a trilha dos incas rumo a Machu Picchu, no Peru. Mas nem são as
belas paisagens da cidade perdida que fazem o catarinense querer
voltar em breve: as melhores lembranças são justamente do pior
trecho da viagem, as 22 horas passadas no tenebroso “trem da
morte”, que liga Quijarro a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia,
deixaram muito mais saudades. Construído na década de 50, o trem
ganhou esse nome devido a um surto de malária que vitimou muitos
operários que trabalhavam na construção. Meio século depois, o
que assusta os passageiros são os solavancos e até algumas
descarriladas no caminho, além da superlotação e as invasões de
nativos a cada parada, que obrigou Dirceu a dormir com as mochilas
amarradas junto ao corpo, para evitar furtos. Mas são experiências
como essa que proporcionam as melhores lembranças e as melhores
histórias para contar. Também são uma escola, que ensina a tolerar
as diferenças e exercitar o autoconhecimento. </span><span style="font-size: small;">“</span><span style="font-size: small;">Viajando
sozinho, tu passa a dar outro valor para as coisas que no cotidiano
passam batidas. A comida, por exemplo. A gente está sempre
reclamando de fome mesmo sabendo que meio-dia vai almoçar, que à
noite vai jantar. Longe de casa, em uma aventura, tu come coisas que
achou que nunca teria coragem de comer”, observa o aventureiro.</span></span></div>
<span style="color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-n0AbaUvykII/UJv0zbH40SI/AAAAAAAAA1Y/gy2blikDxoo/s1600/DSC_6935.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://4.bp.blogspot.com/-n0AbaUvykII/UJv0zbH40SI/AAAAAAAAA1Y/gy2blikDxoo/s320/DSC_6935.jpg" width="320" /></a></div>
<br /></div>
<div class="western" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: black;">Aos
47 anos, <b>Dirceu</b> (foto acima) não pensa em sossegar. Está sempre atrás de uma
nova trilha, especialmente no Rio Grande do Sul. “Não sou uma
pessoa muito urbana. Me sinto enlatado na cidade”, metaforiza. Ao
contrário do que se poderia esperar, Dirceu não é avesso à
tecnologia (tanto que trabalha com ela). Apenas prefere o equilíbrio.
"Falta na sociedade saber estar livre de tanta parafernália,
aproveitar a saúde, se movimentar. Um dia as coisas vão precisar
cair do céu", observa. </span>
</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: black;"><br /></span></span></div>
</div>
<div class="western" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: small;"><b>A
vida a pé</b></span><span style="font-size: small;">,
carregando o mínimo possível em uma mochila, parecia improvável
para Elias e Neiva Mussatto. Casados há 40 anos, o bancário e a
assistente social passavam por uma fase de conflitos internos,
confrontados com a hipótese da aposentadoria e o que viria depois.
Para entender melhor o momento que atravessavam, buscaram respostas
em um dos mais famosos destinos dos viajantes: o místico caminho de
Santiago de Compostela. Durante 30 dias, percorreram a pé os mais de
800 km do caminho francês até a cidade espanhola, uma das 9 rotas
para se chegar à catedral de Santiago.</span></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span></div>
</div>
<div class="western" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: black;">Despidos
de qualquer luxo, <b>Elias e Neiva </b>(foto abaixo), que já haviam rodado o mundo como
turistas, caminhavam de 25 a 30 quilômetros por dia, dormiam em
albergues que chegavam a ter 100 camas em um mesmo espaço e comiam
somente o necessário, que se tornava cada vez menos durante o
caminho. As tralhas medicinais levadas para eventuais bolhas nos pés
e outras enfermidades, foram deixadas pelo caminho logo nos primeiros
dias. Estavam bem preparados (como treino, passaram por um ano de
academia e pequenas caminhadas pelo interior do estado). Ao fim de
cada dia, calculavam o quanto haviam gasto e se surpreendiam com a
economia deste modo de viajar. Os amigos que fizeram pelo caminho
aguardam ansiosamente pela próxima viagem dos dois, que deve ser
pelo caminho português até Santiago. </span>
</span></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: black;"><br /></span></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-fEOZRGnrZXg/UJv1ABNZ6cI/AAAAAAAAA1g/e6JwB-V6jTo/s1600/DSC00180.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="http://2.bp.blogspot.com/-fEOZRGnrZXg/UJv1ABNZ6cI/AAAAAAAAA1g/e6JwB-V6jTo/s320/DSC00180.JPG" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: black;"><br /></span></span></div>
<div class="western" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: black;">"A
sensação de chegar a pé em uma cidade pela primeira vez é
incrível. Você se sente feliz e totalmente livre, tendo apenas a
mochila nas costas", comenta Neiva, cuja veia aventureira
surpreendeu os 4 filhos. “Esses meus filhos são muito machistas.
Quando chegamos, diziam: 'o pai a gente sabia que ia conseguir, mas
tu nos surpreendeu!'. E até hoje eles acham que o Elias é que
carregava minha mochila”, brinca a senhora, que demorou a conseguir
usar sapato de salto alto novamente após acostumar com o tênis. </span>
</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: black;"><br /></span></span></div>
</div>
<div class="western" style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: black;">Os
melhores momentos da aventura estão registrados em um vídeo bem
editado por Elias, com direito à trilha sonora de Raul Seixas e
Roberto Carlos. Ele exibe a obra com orgulho, na sala da casa que
divide com Neiva. Lembranças da viagem preferida do casal também
estão na parede da sala, onde um mapa em alto relevo representa a
rota que marcou um novo período de suas vidas. Depois de Santiago de
Compostela, o casal embarcou em uma nova peregrinação, fazendo o
caminho de São Francisco, na Itália. Mas esse tinha “só” 350
km. Elias, de 57 anos, e Neiva, de 55, se aposentaram no ano passado.
Em alguma estrada espanhola, concluíram que o ciclo de trabalho já
havia sido cumprido. Era hora de dar início a uma nova fase, talvez
de trabalho voluntário. Ainda aguardam pela
inspiração que lhes aponte qual o próximo caminho na vida. Mas só
mesmo para o ano que vem. Por enquanto, os novos mochileiros de
Caxias estão de férias, deixando acumular na caixa de entrada de
e-mail os convites para novos passeios. Mas ainda há muita estrada a
percorrer antes de pendurar as botas. </span>
</span></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: black;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;"><i>fotos: acervo pessoal</i></span></div>
Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-7063191368355804302012-10-18T15:17:00.003-07:002012-11-16T09:53:49.354-08:00Vizinhas<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, serif;">Parece
querer o destino que eu conviva com muito mais vizinhas
do que vizinhos. Vizinhas que na maioria das vezes passam por dramas
solitários, que de certa forma passei a acompanhar, como ouvinte ou
observador. Já revi alguns conceitos de vida nesse contato com as
vidas que minhas vizinhas levam, em São Francisco, em Bento, em São
Leopoldo, em Caxias do Sul. Para não constranger nenhuma, os casos
que conto abaixo estão quase todos no passado e não explicitam onde
foi. Mas quase todas ainda vizinham comigo, ainda são protagonistas
das histórias que em algum momento eu pude conhecer.</span></div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, serif;">Tive
uma vizinha de uns 60 anos, talvez mais, que era bem solitária.
Compartilhava comigo no elevador notícias do filho que passou por
uma cirurgia delicada. Quando não nos encontrávamos no prédio, era
no shopping, onde nos fins de tarde ela ia tomar sorvete e voltava
com as compras para a casa. Tinha bom coração, essa vizinha, que
mais de uma vez me socorreu quando precisei de filtro de café e
papel higiênico. Meus vizinhos sempre foram mais úteis para mim do
que eu para eles. Outra vizinha, de seus 40 e poucos anos, que tem
como companheira de apartamento uma gata que eu ajudava a cuidar
quando ela viajava, fez sopa pra mim quando fiquei doente.</span></div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, serif;">Tive
outra vizinha que convive com o drama de cuidar de um filho autista.
A dor de não conseguir escola especial, de não ver o filho brincar
com os amigos ou ter uma namorada, de não poder ter aparelhos
eletrônicos muito modernos em casa, porque ele destrói tudo logo no
primeiro dia. Há pouca paz no cotidiano dessa mãe, que apesar disso
é uma pessoa ótima, forte como poucas e até bem-humorada.</span></div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, serif;">Com
algumas vizinhas que tive, convivi muito pouco mesmo. Mas menos nem
por isso esqueço delas. Teve uma que se jogou em direção a um chão de pedras para dar fim à vida, mas sobreviveu. Outra cuidava da mãe com câncer, e
com boa dose de razão reclamava do barulho que chegava do andar
debaixo. Outra, que vivia sozinha no andar de baixo, queria saber
sobre mim mas tinha vergonha de perguntar e pediu a uma outra que
descobrisse quem eu era, pedia notícias sobre meu estado civil. Foi
estranho me imaginar como assunto de conversas entre vizinhas. </span>
</div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, serif;">Claro
que nem tudo é drama. Certa noite de verão em que eu estava na
janela, estendendo roupas, pude ver no apartamento de baixo um pouco
do corpo de uma vizinha que enchia o prédio com seus gemidos de
prazer. Naquela noite, o amor estava sendo praticado bem próximo à
janela. Não sei se por ouvirmos o nosso muito de perto, mas
fato é que tem um som sempre belo o amor dos outros.</span></div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, serif;">Quando
morei em uma pensão, tive uma vizinha de quarto por duas noites, até
ela se mudar para um apartamento, que iria dividir com a
proprietária, pagando aluguel. Era de Pelotas, tinha 30 e poucos
anos, trabalhava em um sebo e me contou sobre o plano de fazer
intercâmbio na Inglaterra. Também tinha um filho, acho que de 5
anos, que morava em Pelotas com os avós, pais dela. Quando retornei
à casa alguns meses depois, para fazer uma matéria, soube que ela
estava de volta ao quarto que morava antes, dessa vez com o filho,
com quem passou a dividir a cama. Acredito que os planos de viagem
tenham sido postergados. </span>
</div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Georgia, serif;">Nunca
fiz mais por minhas queridas vizinhas do que ouvi-las. Talvez seja a
única serventia de alguém que não é nada prático e não troca a
própria resistência do chuveiro quando queima. Por isso ouço-as
sempre com atenção (às vezes alguma curiosidade de jornalista
atrás de pauta), aconselho como posso, concordo com quase tudo o que
me dizem sobre a vida. Pois, em geral, minhas vizinhas dramáticas
também têm em comum o fato de saber mais sobre a vida do que eu. </span>
</div>
</div>
Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-10551077988239764792012-10-11T14:15:00.002-07:002012-10-11T14:18:44.047-07:00A vida que restou das cinzas<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;"><i>No início de outubro, fui pautado para fazer uma matéria sobre a reconstrução da Vila Sapo, em Caxias, que foi afetada por um incêndio 10 dias antes. 20 casas ficaram totalmente destruídas e três jovens irmãos morreram. É a história mais triste que já escrevi.</i></span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-orkuoXVPzIc/UHcwtWEMqnI/AAAAAAAAA0Q/Es5ajfSagjc/s1600/vila.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="220" src="http://1.bp.blogspot.com/-orkuoXVPzIc/UHcwtWEMqnI/AAAAAAAAA0Q/Es5ajfSagjc/s320/vila.jpg" width="350" /></a></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;">Dizer
que é possível imaginar a dor que a pessoa está sentindo é uma
das formas mais comuns de se tentar confortar alguém. Mas a dor de
Maria Cardoso, 41 anos, é inimaginável. E qualquer forma de tentar
consolá-la enquanto admira as fotos dos filhos Maikiel, de 17 anos,
Mateus, 12 e Marieli, 3, mortos no incêndio que levou também a casa
de Maria e outras 19 moradias na Vila Sapo, no bairro Serrano, na
última madrugada de agosto, parece mera tentativa de parecer
solidário. Para a mãe que engole o choro diante de cada jovem ou
criança que vê passar na rua, resta pela frente uma vida desde já
incompleta. E que dificilmente se tornará maior do que o vazio que
sente. As
fotos que Maria mantém guardadas no envelope de um estúdio
fotográfico de Caxias do Sul são as únicas lembranças materiais
que conseguiu reunir dos filhos, já que tudo foi consumido pelas
chamas. Impressas em papel ofício recentemente, as imagens foram
tiradas de um cartaz feito pelos colegas de escola dos meninos, para
homenageá-los no velório. Além delas, uma montagem que reúne lado
a lado os retratos dos três, com o nome de cada um e uma mensagem
religiosa, foi presente de uma amiga. Desde sábado, está emoldurada
em um porta-retratos que repousa no pequeno altar que Maria ergueu na
sala da casa onde mora provisoriamente, no bairro Pioneiro. </span>
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O
trágico incêndio na Vila Sapo começou<b>
</b>por
volta das 23:30 da sexta-feira, 31 de agosto,
na casa em
que
Maria vivia com
os filhos, e logo se espalhou pela vizinhança. Embora a causa não
seja confirmada, é provável que tenha sido provocado por uma vela
esquecida acesa pelos meninos, que tomavam conta da casa. Naquele
mesmo dia, no fim da tarde, a energia elétrica foi cortada pela Rio
Grande Energia (RGE), por conta de um curto-circuito. Sem luz, os
jovens devem ter recorrido às velas, pois a menina nunca dormia no
escuro. A mãe, que estava trabalhando, só chegou ao local cerca de
1 hora depois, quando os bombeiros já haviam controlado o fogo, mas
ainda não confirmavam se havia vítimas ou não. Relembrando
daquela noite, Maria fala
sem gaguejar ou dar sinais de fraqueza diante de memórias tão
tristes. Conta que estava trabalhando normalmente, quando seu chefe
avisou que as casas de 2 colegas haviam incendiado e perguntou se ela
os conhecia. Ao saber que se tratava de seus vizinhos, logo imaginou
que a sua também estivesse envolvida, porque as moradias eram todas
muito próximas. Foi levada até a Vila Sapo por um segurança da
empresa, mas quando chegou já era tarde demais. O fogo havia
consumido tudo. Ao sentir a falta dos filhos, que nunca saíam de
casa à noite e não estavam entre os vizinhos, que assistiam
impotentes ao trabalho dos bombeiros, Maria pressentiu o pior. Sem
conseguir permancer no local, foi levada até a casa de uma tia para
se acalmar. E quando voltou, por volta das 4:00, teve a confirmação
do que já esperava intimamente. Seus 3 filhos, cujos corpos foram
encontrados abraçados, estavam mortos.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-UR8no5vF6TY/UHcxWUb5a0I/AAAAAAAAA0c/TU6SqPgc0Ow/s1600/DSC_0158.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-UR8no5vF6TY/UHcxWUb5a0I/AAAAAAAAA0c/TU6SqPgc0Ow/s320/DSC_0158.JPG" width="212" /></a></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;"><b>Foi
na casa onde vive há poucos dias</b>,
enquanto espera por um dos apartamentos prometidos pela prefeitura
aos moradores que perderam suas casas, que Maria Cardoso aceitou
receber a reportagem de O CAXIENSE na chuvosa tarde de terça-feira
(18), após uma breve entrevista por telefone na noite anterior. Sem
querer, a reportagem interrompeu uma das raras horas de sono que ela
conseguiu ter desde o dia em que viu seus filhos pela última vez,
após se despedir para o que esperava ser uma jornada normal de
trabalho na empresa Agrale, onde trabalha, há dois anos, no turno da
noite. Tímida e de poucas palavras, Maria conta que sempre foi de
chorar pouco e não gosta de expressar as emoções que sente. Parece
tratar do assunto com mais resignação do que desespero. Ao
responder sobre como tem sido seus últimos dias, conta que o
isolamento tem sido a melhor forma de tentar absorver a dor, e por
isso pede, repetidas vezes, para que não seja publicado seu
endereço. Está cansada de ouvir as pessoas e suas palavras de
conforto, por mais sinceras que sejam. “Todo mundo insiste me fazer
lembrar do que aconteceu. Até gente que eu nem lembrava vinha me
perguntar como eu estava. Isso é muito ruim, é como ter uma ferida
e ouvir todo mundo dizendo: 'olha, tem que cuidar isso aí'”,
comenta. Ainda sem se sentir preparada para recomeçar a vida, Maria,
que é separada e não cogita constituir nova família, ganhou férias
do trabalho, e agora passa os dias tentando absorver a dor, tendo
pouco contato com as pessoas. Mas sabe que em algum momento será
necessário seguir em frente com a parte que restou da vida que
tinha. "A morte dos meus filhos mudou tudo, pois minha vida era
só em torno deles. Quando chegava em casa, de madrugada, tinha que
amamentar e colocar a pequena para dormir. Não tem como preencher
esse vazio que fica. Uma parte da minha vida se foi, agora preciso
aprender a continuar sozinha com o que sobrou para viver",
afirma. À Vila Sapo, Maria também não pensa em voltar. Nas poucas
vezes em que visitou o local após o incêndio, diz ter sentido algo
como "uma sensação escura e sinistra", que prefere
evitar. No chão onde ficava sua casa, improvisou uma pequena capela
de tijolos, contendo apenas uma rosa. </span>
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: small;"><span style="color: #222222;"><b>Na
humilde Vila Sapo, a área atingida pelo incêndio </b></span><span style="color: #222222;">ainda
guarda as marcas deixadas pelo fogo nas vigas de madeira que sobraram
da maioria das casas. Pelo chão, alguns poucos pertences que as
famílias preferiram tentar não recuperar, como peças de roupa,
cadernos e brinquedos. É provável que nada venha a ser construído
tão cedo pela prefeitura, que aguarda um levantamento técnico sobre
as condições da área. Moradores que aguardam pelas habitações
prometidas, como a faxineira Zeli Toledo, de 43 anos, começam a se
mudar das casas de amigos e parentes para casas alugadas em outros
bairros da cidade. Além do teto e dos móveis, cada família lamenta
a perda daquilo que representa maiores recordações afetivas. No
caso de Zeli, por exemplo, o vestido do batizado da filha é perda
bem maior do que o dinheiro que estava na carteira. E mesmo quem
escapou de perder a casa, convive agora com a lembrança de cenas que
jamais gostariam de ter visto, e com a perda de amigos e bons
vizinhos, como todos parecem lembrar dos 3 filhos de Maria. "Ele
(Maikiel, o mais velho) era como um irmão pra mim. A gente tava
sempre brincando, 'se arriando' em tudo. Vai deixar muita saudade",
lembra o estudante Jefferson de Góis, de 16 anos, que mora do outro
lado da rua onde ocorreu o incêndio. </span></span>
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: small;"><span style="color: #222222;"><br /></span></span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><span style="color: #222222;">Enquanto
amigos, vizinhos e familiares</span><span style="color: #222222;">
não encontram respostas para a tragédia, Maria Cardoso tem na
crença em Deus uma resposta que a conforta. Antes de se despedir da
reportagem, fez questão de compartilhar o quanto tem buscado, na
religião, a força para atravessar o momento difícil. Conta que,
por ter ensinado aos filhos o amor a Deus, acredita que eles estejam
juntos no céu, olhando por ela. "Tenho certeza que ensinei o
melhor pra eles. E eles sabiam que Deus estaria com eles até na hora
da morte". </span></span>
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;"><b><span style="font-size: x-small;">*</span><i><span style="font-size: x-small;">Fotos: Paulo Pasa</span></i></b></span></span></div>
</div>
Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-38216128008674326982012-10-04T13:55:00.002-07:002012-10-04T13:57:55.733-07:00Mãe no telefone<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Noite
passada, por volta das 21h, conversava pelo chat do Facebook com uma amiga, quando ela
interrompeu bruscamente seu próprio raciocínio: “Já venho, mãe
no telefone”. Bem assim, com essas mesmas palavras que uso para
interromper uma conversa toda vez que minha mãe liga (normalmente
depois das 20h dos dias mais calmos da semana, porque ela acha que eu
sou muito ocupado).</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Só
ontem, ao ser destinatário e não remetente da mensagem, percebi que "já venho, mãe
no telefone" é das frases mais bonitas que podemos dizer. Pode valer mais que "eu te amo", só pra citar uma que sempre
declaramos à toa por aí. E talvez seja a
única que não permita ao amigo responder algo como "não
demore", por mais urgente que possa ser a pauta do bate-papo.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Mãe
no telefone é uma interrupção sincera. Nem a mãe que por acaso
diz "já venho, filho chorando", está tão isenta de qualquer desconfiança. Ninguém mente sobre uma ligação da mãe, que é
coisa séria. Inventamos outras desculpas, nunca essa. Não há o
menor receio de ser mal interpretado diante de tal justificativa. Com
saudade de mãe não se brinca. E nossas saudosas mães, quando
ligam, é porque estão de coração apertado. Acredito que não haja
sono tranqüilo para uma mãe sem antes ter notícias do filho. Mas
nem por isso elas ligam todas as noites. Preferem dormir preocupadas
a dar a entender que estão ficando chatas com suas preocupações.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não
bastasse todo o trabalho de criar, de educar, de entregar para os
braços pouco acolhedores do mundo, caber ainda à mãe a tarefa de
ligar para o filho distante é demais. Mas nós, filhos desgarrados
do lar, somos assim, esquecemos de dar notícias, sempre distraídos
com o cotidiano a as buscas que nos dispersam de quem está sempre
disponível.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Menos
mal que toda a distância, toda a saudade, toda a falta de notícias
e a consequente preocupação mútua, encontra toda a redenção
nesta simples frase, que pode ser dita ou digitada em dois segundos, de forma tão automática quanto escrevemos o próprio nome.
"Já venho. Mãe no telefone".</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-2385903002700994202012-09-25T18:37:00.002-07:002012-09-25T19:38:20.436-07:00O filho da lenda<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Há uns dois meses, tive a sorte e a honra de conhecer e conversar com o bluesman Mud Morganfield, filho do grande Muddy Waters, talvez o maior da história do Blues. A entrevista saiu na revista, mas como a maioria dos amigos não vivem em Caxias, achei que valeria postar aqui também. A introdução do texto fala sobre o show que Mud fez por aqui, na mesma noite da entrevista. </i></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-zxUl2IF8R9M/UGJdlJNlQjI/AAAAAAAAA0A/wZ3t6KS_YMU/s1600/mud.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://2.bp.blogspot.com/-zxUl2IF8R9M/UGJdlJNlQjI/AAAAAAAAA0A/wZ3t6KS_YMU/s320/mud.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: small;">A reunião de fãs de blues, na última quarta (25) no Mississippi Delta Blues Bar, para assistir ao filho de uma das maiores lendas do gênero, Muddy Waters (breve contexto histórico: sem ele, não haveria Rolling Stones), esquentou a noite gelada, típica de Caxias. Quando o cinquentão <span class="il" style="background-color: #ffffcc; color: #222222;">Mud</span> Morganfield, sua brilhantina e seu terno vermelho subiram ao palco – que fervia depois dos argentinos da </span><span style="font-size: small;">Nico Smoljan Band, que acompanham o bluesman na turnê – os comentários davam a noção do que mais impressionava ali: a semelhança de <span class="il" style="background-color: #ffffcc; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #222222;">Mud</span>, o primogênito, com o pai. "Até o jeito de xingar os músicos é igual", afirmou um mais exaltado. </span></span></span><br />
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: small;"><br /></span></span></span>
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: small;">A semelhança vai do visual ao timbre da voz.</span><span style="font-size: small;"> E o carisma não fica atrás. <span class="il" style="background-color: #ffffcc; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #222222;">Mud</span> conversa com a plateia, convida garotas para subir no palco, conta histórias do pai, brinca com os músicos ("meu tecladista tem 22 anos. Nunca teve o coração partido. O que pode saber sobre o blues?", provocou). Em seu show, <span class="il" style="background-color: #ffffcc; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #222222;">Mud</span> mistura músicas próprias do seu álbum mais recente, </span><span style="font-size: small;"><i>Son of the Seventh Son</i></span><span style="font-size: small;">, com clássicos eternizados na voz do pai, como </span><span style="font-size: small;"><i>Hoochie Coochie Man</i></span><span style="font-size: small;"> e </span><span style="font-size: small;"><i>I Can't Be Satisfied</i></span><span style="font-size: small;">.</span></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;">Horas antes da apresentação, O CAXIENSE foi até o Personal Hotel conversar com <span class="il" style="background-color: #ffffcc; color: #222222;">Mud</span> Morganfield, que na quinta-feira (26) voaria para Buenos Aires, dando sequência a turnê. Descontraído, fala sem a pressa que se poderia imaginar de quem está a poucas horas de se deslocar para um show. E quando fala do "pops", como se refere carinhosamente ao pai, não dissimula a honra que é ser o herdeiro do blues de Chicago.</span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><b>É a sua 3ª passagem pelo Brasil, mas a primeira em Caxias. O que está achando?</b></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><i>Só deu para conhecer um pouco, mas estou gostando. Estive no bar ontem, é um clube fantástico. Um pouco pequeno, mas muito bonito. E o Toyo (Bagoso, proprietário do bar) é um grande cara.</i></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><b>Você esteve recentemente em um festival em Ilha Comprida, no interior de São Paulo. Também temos um festival aqui...</b></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><i>Em novembro, certo? Talvez no ano que vem, cara. Neste ano já tenho data agendadas na Inglaterra, por isso não poderei vir. Mas será um prazer se puder tocar na edição de 2013.</i></span></span><br />
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><i><br /></i></span></span>
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><b>E como tem sido tocar com os músicos argentinos?</b></span></span><br />
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><i>Eles estão me acompanhando por toda a turnê na América do Sul, são músicos fantásticos. Mas temos um baixista brasileiro também (Arthur 'Catuto' Garcia, da banda The Headcutters), que é incrível. </i></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><b>Você é filho de uma lenda do blues e é impossível não falar sobre isso. Seu pai foi o maior de todos? Como ele influencia sua música?</b></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><i>Bom, para mim ele certamente foi o melhor, sim. Particularmente, eu amo tudo o que ele gravou, até as músicas que não fizeram nenhum sucesso. É uma benção ser filho de Muddy Waters, mas também de minha mãe (Mildred McGhee), que me levava para os bares para ouvir blues. De certa forma, já nasci com o blues dentro de mim.</i></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><i><b>Quais artistas mais inspiram o seu trabalho?</b></i></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><i>Certamente meu pai em 1º lugar, mas também outros músicos daquela época, como Howlin’ Wolf, James Cotton e Chuck Berry. Como cresci acompanhando os artistas da Motown, também me inspiro muito neles e em suas canções de amor. Mas meu músico preferido, sem dúvidas, é Barry White.</i></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><b>E as garotas caxienses, o que achou?</b></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><i>São anjos...(longa pausa). Anjos que escaparam do paraíso. Realmente lindas....deve estar faltando alguns anjos no paraíso, certamente (risos).</i></span></span><br />
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><i><br /></i></span></span>
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><b>Vai fazê-las dançar hoje à noite?</b></span></span><br />
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><i>Seria ótimo se elas dançassem um pouco, sim. </i></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;">Sem decepcionar <span class="il" style="background-color: #ffffcc; color: #222222;">Mud</span>, as garotas dançaram muito. Só não se mexeram mais porque faltou espaço no ambiente lotado de entusiastas do blues.</span></span><br />
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span>
<br />
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/DO23rrk1-8I" width="560"></iframe>
<div style="text-align: right;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: x-small;"><i><br /></i></span></span>
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: x-small;"><i>*foto by Paulo Pasa</i></span></span></div>
</div>
Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-74917999122420933902012-09-06T14:29:00.000-07:002012-09-10T19:30:43.428-07:00A casa dos 39 quartos<br />
<div style="background-color: white; text-align: left;">
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Enquanto o tempo para
escrever novas crônicas que irão mudar a vida dos amigos leitores e
redefiniros rumos da humanidade não aparece, sigo postando aqui
algumas das matérias que tenho escrito para a revista O Caxiense. O texto abaixo é sobre
uma pensão da cidade onde 40 pessoas improvisam suas vidas – e
onde por um mês eu improvisei a minha, até encontrar apartamento.
Confesso que foi uma das maiores frias em que já me meti. Mas quando voltei lá, rendeu
uma boa história. </i></span></div>
<br />
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-9nHCememmKM/UE5HGW3gZ7I/AAAAAAAAAzQ/BOhGQYmUCTA/s1600/DSC_0079.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://1.bp.blogspot.com/-9nHCememmKM/UE5HGW3gZ7I/AAAAAAAAAzQ/BOhGQYmUCTA/s320/DSC_0079.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><b><br /></b></span></span>
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><b>Na casa da dona Natália</b> (foto) só se namora aos sábados. Assaltar a geladeira, só até as 22:00, no máximo 22:30. E para tomar banho, recomenda-se não ter pressa em encontrar um chuveiro livre. Melhor voltar para o quarto e tentar mais tarde. Essa é toda a etiqueta necessária para a boa convivência entre os quase 40 moradores da casa.</span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;">Nos 39 quartos da Pensão Para Moças e Rapazes Santo Expedito, número 3.262 da Rua Tronca, convivem os tipos mais diversos imagináveis, desde o engravatado com sapatos bem engraxados – normalmente recém-chegado na cidade – até malandro de regata e chinelo de dedos que vive de bicos. Indivíduos que podem parecer bem diferentes do lado de fora, mas quando cruzam o portão levam vidas bem parecidas: usam os mesmos banheiros, estendem as roupas no mesmo varal e fazem o mesmo barulho quando caminham sobre o piso de madeira, atrapalhado sem querer o sono dos que ainda não se acostumaram.</span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;">Para morar na pensão, o inquilino precisa pagar um mês adiantado, mesmo que pretende se hospedar por menos tempo. O preço médio, R$ 300, parece justo, pois inclui internet, TV a cabo e roupas de cama (que são lavadas aos sábados), além dos móveis básicos de um quarto – cama e roupeiro. Alguns custam um pouco mais, pois são mais espaçosos, têm guarda-roupas de 6 portas e até criado-mudo. Outros um pouco menos, pois só têm uma cama e um pequeno guarda-roupas. A lotação está sempre perto do limite. Atualmente, apenas 2 quartos estão vagos.</span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;">Dividida em uma casa, um porão adaptado e um puxadinho, onde ficam a maioria dos quartos, a pensão conta com duas cozinhas bem equipadas: tem geladeira, micro-ondas, fogão, purificador de água. Aos que chegam, a proprietária faz questão de dizer que é tudo de uso comum, inclusive os talheres e as panelas. Mas os que cozinham são poucos e sempre a mesma turma, que já se sente em casa, fala mais alto, escolhe o canal da TV. O cardápio é quase sempre o mesmo: Arroz, feijão e massa. No pátio interno, há dois disputados tanques de lavar roupas. A roupa lavada é pendurada nos varais, igualmente requisitados e sempre cheios. A maioria dos quartos – cujas portas são precedidas de uma escada de 3 degraus e protegidas por uma tramela, mas sem cadeado, a não ser que o morador já tenha um – só tem a mobília da casa e as poucas coisas dos hóspedes que cabem, em geral, rádio e televisão. As diferenças estão nos detalhes que ajudam a identificar cada morador: Um violão, uma pilha de livros, um notebook, um frigobar, um aquecedor.</span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><b>Ninguém mora na pensão por gostar</b>. Afinal, não é hotel, nem é pousada. Lembra mais uma república de estudantes, porém sem tantos amigos, sem nenhuma festa. As portas rangem, há frestas nas paredes, a água não sai em abundância de todos os chuveiros, ouve-se qualquer barulho dos quartos vizinhos, inclusive os roncos, mais frequentes entre 23:00 e 2:00. Não há requinte nenhum. São as necessidades – de gastar o mímino, de ter companhia, de ter um teto – que fazem a casa estar sempre cheia. Outro motivo para tanta gente passar um bom tempo na pensão é a sina de planos que não dão certo. São moradores que se cansam, saem em busca de um apartamento ou uma casa alugada, mas depois voltam, porque o patrão demitiu, o namoro terminou ou o orçamento foi mal calculado. Para os bons filhos que à casa tornam, as portas da pensão estão sempre abertas.</span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;">Morador mais antigo da casa, o metalúrgico Jair Rodrigues, de 38 anos, vive na pensão por achar mais prático – não precisa comprar móveis, nem pagar água e luz – e seguro. Natural de Cruz Alta, ocupa o quarto 13 há quase 3 anos. E por já ter se habituado à rotina e à convivência com os outros moradores, não pensa em sair por enquanto. Mas financiar um apartamento pelo programa Minha Casa, Minha Vida é um sonho acalentado a cada prédio construção que observa na rua.</span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-pjKKjk5oWZU/UE5kKyhZbLI/AAAAAAAAAzg/kHPaz-iV-u0/s1600/DSC02692.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-pjKKjk5oWZU/UE5kKyhZbLI/AAAAAAAAAzg/kHPaz-iV-u0/s320/DSC02692.JPG" width="320" /></a></div>
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span>
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;">Há dois meses, o jovem <b>Gerson Fink</b> (foto), de 25 anos, é o responsável pela trilha sonora da pensão. Mas ele não é nenhum DJ. O som que espalha pelo ambiente de 6 a 8 horas por dia é o do seu violão, praticamente um companheiro de quarto, pois Gerson não tem televisão, rádio e nem computador. Vive só com o violão e as palhetas. Quando está ensaiando as 17 músicas que pretende incluir em seu primeiro CD, já intitulado <i>Miragem</i>, toca e canta alto, sem medir o volume. Os vizinhos não reclamam do seu porp-rock influenciado por Jota Quest e Bidê ou Balde. “A pensão é tri, mas sei que logo vou sair, pois gosto de viver o momento, ir para onde der vontade. Só eu comigo mesmo”, comenta Gerson, que é natural da pequena Barão, a 100 km de Caxias, e desde que saiu da casa dos pais, há 3 anos, já passou por Carlos Barbosa, Gramado, Porto Alegre e Florianópolis. Nunca teve endereço fixo e nunca deu prioridade a isso. Atualmente, trabalha em um hotel, organizando o café da manhã. Como está ganhando um bom salário e tendo as horas livres que precisa para focar em suas músicas, deve permanecer pos mais algum tempo no quarto 26.</span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;">Não é o violão de Gerson que tem incomodado <b>José Costa Neto </b>(foto abaixo), de 16 anos, um dos recém-chegados quando fomos à pensão. Para ele, o problema é o frio. José é alagoano e ainda não completou um mês na casa. Aproveitou o primeiro salário de auxiliar de produção que recebeu na metalúrgica Randon para comprar um aquecedor elétrico. Ele não compartilha da boa vontade de Gerson com o cotidiano compartilhado. Sente falta da privacidade de quando morava apenas com os pais, em Maceió. Na primeira noite, diz ter ficado com medo, pois era a primeira vez que ficava sozinho. E, embora já tenha se acostumado, acredita que em pouco tempo irá se mudar para a casa do tio, que foi quem o convidou para tentar a sorte como metalúrgico no Sul.</span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: left;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-9eYQgmbj5wc/UE5k_8q_eeI/AAAAAAAAAzo/7VDVcxudo-Q/s1600/Neto.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-9eYQgmbj5wc/UE5k_8q_eeI/AAAAAAAAAzo/7VDVcxudo-Q/s320/Neto.JPG" width="320" /></a></div>
<br /></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;">Aos 57 anos, Natália Francisca, a proprietária, é daquelas senhoras que já viveram de tudo. Casou aos 11 anos, aos 12 teve o primeiro filho. Com o primeiro marido, foram 8 filhos, mais um com o segundo. O terceiro e atual marido, o pedreiro Lúcio da Silva, de 37 anos, ela conheceu como inquilino na pensão. Há 8 anos vivem juntos, o que para ele significou apenas "trocar de quarto", como costuma brincar. Ainda que só tenha estudado até a 2ª série do ensino fundamental, dona Natália se orgulha de exibir diplomas de massoterapeuta, cabelereira, manicure e overloquista (costureira). Há pouco tempo, também entrou para o comércio. Abriu uma pequena loja de roupas na garagem, que ajuda a incrementar a renda. Segundo ela, que resiste em contratar funcionários para ajudar no serviço, a pensão dá muita despesa e pouco lucro. Os gastos com luz e água ultrapassam os mil reais mensais. E ainda há o aluguel e os impostos, que ela se orgulha em dizer que paga, ao contrário de outras casas do gênero, que seriam irregulares, segundo ela.</span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;">A pensão Santo Expedito é a segunda incursão de dona Natália neste ramo. Há quase 30 anos, abriu a primeira, que se chamava Catarina – em alusão ao estado onde nasceu, no município de Anita Garibaldi – com o dinheiro que recebeu de fundo de garantia da metalúrgica Eberle, onde trabalhava. Os negócios começaram bem. Logo na segunda semana, ocupou todos os quartos do primeiro andar da casa que alugara – a proprietária vivia no térreo – e precisou emprestar a própria cama para um casal de clientes. Desde então, poensou em desistir apenas uma vez, quando se sentiu cansada e vendeu o que tinha para tentar a vida em Blumenau, onde comprou uma lanchonete. Porém, o negócio não deu certo e ela vendeu tudo novamente – nunca recebeu o valor da venda – para voltar a Caxias apenas um ano depois, alugando a casa onde deu início à pensão atual, na Tronca. E quando achou que iria se recuperar do golpe sofrido em Santa Catarina, um incêndio destruiu boa parte do puxadinho e uma das cozinhas da pensão. Ninguém ficou ferido, mas moradores perderam tudo e ela, que não tinha seguro, precisou pagar toda a reconstrução. "Não passo necessidades, mas pelo que já trabalhei na minha vida, adquiri muito pouco", lamenta Natália, que só não está na pensão quando vai à igreja às segundas-feiras, ou quando vai a São Paulo em excursões de lojistas à procura de roupas baratas.</span></span><br />
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-KOWvLBJzlZs/UE5llzITBFI/AAAAAAAAAzw/CU0ZnI5IRS8/s1600/DSC_0026.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://1.bp.blogspot.com/-KOWvLBJzlZs/UE5llzITBFI/AAAAAAAAAzw/CU0ZnI5IRS8/s320/DSC_0026.JPG" width="320" /></a></div>
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span>
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;">Apesar dos percalços, dona Natália não se imagina fazendo outra coisa. Gosta de conviver com os moradores, já fez muitos amigos e diz ter tido poucos problemas com inquilinos nestes anos todos. Impõe poucas regras. Uma delas, a mais difícil de fazer cumprir, é quanto às visitas íntimas. “Tá achando que minha casa é motel?”, ela constrange os que não cumprem. A motivação maior para manter o negócio, segundo ela, é ajudar a quem precisa. “Às vezes chega gente aqui com o dinheiro que só dá para pagar o mês, bem trocadinho. Nesse caso, eu ajudo pagando rancho, passagem de ônibus, empresto telefone e até dinheiro, mas só pra quem se presta a procurar emprego”, destaca.</span></span><br />
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;">Entre os que recebem a ajuda da dona da pensão também estão alguns idosos deixados pelos filhos, que às vezes visitam com freqüência, às vezes, não. Quem cuida mesmo é dona Natália, que leva até no hospital quando necessário. Só pede para a família assumir a responsabilidade quando considera que estão muito doentes e é preciso procurar médios ou enfermeiros que ajudem a cuidar diariamente. No dia a dia por trás do portão da pensão Santo Expedito, dona Natália ajuda os inquilinos como pode. Sem querer, eles ajudam dona Natália a continuar fazendo o que gosta. Para quem topa a vida em grupo, a troca parece justa.</span></span><br />
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><br /></span></span>
<div style="text-align: right;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: x-small;"><i>*fotos 1 e 4 by Paulo Pasa</i></span></span></div>
</div>
Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-83975748080699877102012-08-23T15:07:00.002-07:002012-08-23T15:14:47.463-07:00A longa noite dos desempregados<br />
<div align="LEFT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif;"><i>A matéria abaixo saiu há algumas semanas na revista O Caxiense. É sobre a absurda fila enfrentada por quem precisa encaminhar seguro-desemprego em Caxias. A jornada que pra mim começou às 5h, mas que pra quem estava na fila começou bem antes, rendeu uma história legal de contar. E espero que boa também de ler.</i></span><br />
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div align="LEFT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-J9VFKYXroCc/UDam4DmQaHI/AAAAAAAAAyI/YFkC_yHR4DE/s1600/DSC02815.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-J9VFKYXroCc/UDam4DmQaHI/AAAAAAAAAyI/YFkC_yHR4DE/s320/DSC02815.JPG" width="320" /></a></div>
<br /></div>
<div align="LEFT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif;">Elisabete
Gabrielli tem um problema para resolver. Sentada em frente à porta de
entrada do SINE para encaminhar o pedido de seguro-desemprego, a
moradora de Ana Rech e ex-funcionária do Hospital Geral não sabia
que era necessário primeiro retirar o fundo de garantia, na Caixa
Econômica Federal, para ter acesso ao benefício. Poderia não ser
nada demais, mas são 5:30, o dia sequer nasceu, e ela é a primeira
de uma fila que dobra e esquina da Júlio de Castilhos com a Borges
de Medeiros, quase chegando na Sinimbu. Para garantir uma ficha,
pediu para o namorado guardar um lugar desde as 21:00 do dia
anterior. Elisabete, que não revela a idade e aparenta ter 40 anos,
só assumiu o posto às 5:00, nem está com sono. Mas agora este
imprevisto. Começando a se desesperar, não sabe se fica ou se volta
para casa, para tentar a sorte novamente no dia seguinte.</span></div>
<div align="LEFT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="LEFT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif;">O
emissário da má notícia foi o número 2 da fila, o açougueiro
Luis Abel, de 30 anos. Desde as 22:00 de plantão, no aguardo por uma
das 90 agora tão sonhadas fichas de atendimento, Luis tem uma
garrafa térmica, um maço de cigarros e um cobertor. É sua segunda
tentativa de encaminhar o pedido. Na primeira, pegou o primeiro
ônibus do bairro Planalto, onde mora, e chegou às 6:00. Não teve a
menor chance. Por isso decidiu radicalizar, sem dar sopa para o azar:
já está há 7 horas sentado – às vezes deitado – e irá
completar 8 horas e meia quando o SINE finalmente abrir as portas.
Sem querer muita conversa, limita-se a comentar o que ouviu no rádio,
em algum momento da manhã de sexta, dia da primeira investida: "por
que não aparece nenhum político pedindo voto aqui? Eles sabem que
isso é uma vergonha", esbraveja de dentro da jaqueta, antes de
tentar engatar mais um cochilo.</span><br />
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Xta0GjLhysI/UDarMK7AQDI/AAAAAAAAAyg/W_r7E-ZWUAc/s1600/Luis+Abel.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-Xta0GjLhysI/UDarMK7AQDI/AAAAAAAAAyg/W_r7E-ZWUAc/s320/Luis+Abel.JPG" width="320" /></a></div>
<br /></div>
<div align="LEFT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif;">O
Sistema Nacional de Empregos (SINE) de Caxias vem operando com
capacidade abaixo do ideal por falta de funcionários. As 4 vagas que
deveriam ser preenchidas com a realização de concurso público
ainda não foram ocupadas, e o quadro tende a ser agravado pela
perda, a partir do início deste mês, de 5 funcionários
terceirizados, que ajudam a manter o atendimento dentro de alguma
normalidade. Não só os que perderam o emprego saem prejudicados. A
defasagem também afeta os que pecisam fazer carteira profissional e
os que procuram vagas no mercado de trabalho. Nesta madrugada de
terça (31), a longa fila de desempregados também é formada por
seus acompanhantes. Parece ser a situação ideal para provas de
amizade e amor incondicional. Como a que está sendo dada por Paulo
Panazzolo, desde a 0:00 ao lado da esposa, Vera, recém-demitida de
uma imobiliária. Juntos na alegria, na tristeza e até no tédio, os
moradores do bairro São Caetano vieram de carro e estão sentados em
cadeiras de praia, cada um com o seu cobertor. Preferiram o chimarrão
ao café. E como estão no início da fila, aparentemente não terão
problemas para conseguir uma senha. </span>
<br />
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-epkMx9jRw-g/UDaq6q3qCLI/AAAAAAAAAyY/2JuyfcTXKpU/s1600/DSC02807.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-epkMx9jRw-g/UDaq6q3qCLI/AAAAAAAAAyY/2JuyfcTXKpU/s320/DSC02807.JPG" width="320" /></a></div>
<br /></div>
<div align="LEFT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif;">Deixando
para trás o otimismo dos primeiros para caminhar um pouco e passar
pelos não tão bem rankeados, percebe-se haver mais coisas
inusitadas além de um repórter contando pessoas. Há gente que veio
de bicicleta desde o bairro São José, amigas deixando a fila para
olhar vitrines do outro lado da rua e uma curiosa barraca de plástico
improvisada em meio ao mar de cobertores. Dentro dela, dormem as
irmãs Marina e Letícia Lovat, de 27 e 17 anos, respectivamente.
Como o sono é leve, elas acordam, baixam o plástico transparente
que as protege e se mostram receptivas à conversa. Na fila mesmo
está Marina, ex-funcionária de uma loja de acessórios para móveis.
A irmã é mais uma a demonstrar solidariedade na madrugada. "Ela
é muito companheira, nem foi difícil convencê-la a vir comigo",
elogia a mais velha. O plástico estava no porta-malas do carro e
serviu não apenas para amenizar o frio, mas também defendê-las da
chuva leve que caiu em algum momento da noite. Sob a "barraca"
mantiveram o café com leite e também os sanduíches que trouxeram
em uma bolsa térmica. Ainda que distante dos primeiros lugares, elas
também deverão cumprir com o objetivo da noite. Há menos de 50
pessoas na frente delas, sendo que nem todos concorrem a uma ficha.</span><br />
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif;">Razões para se preocupar mesmo enfrentam os recém-chegados, que nem
enxergam o início da fila por estarem a quase duas esquinas de
distância. É o caso de Rodrigo Souza, de 23 anos, que só conseguiu
chegar quase 6:00 porque não tinha ônibus mais cedo. Rodrigo
trabalhava em uma metalúrgica e veio do bairro Cidade Nova. Sabe que
dificilmente irá conseguir ser atendido, mas irá permanecer. Sua
sorte irá depender da quantidade de acompanhantes e interessados em
outros serviços que estiverem na sua frente. Mas, se todo mundo ali
estiver em busca das mesmas fichas, é bom não marcar compromissos
para a madrugada seguinte. </span>
</div>
<div align="LEFT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="LEFT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif;">De
volta ao início da fila, Elisabete Gabrielli está mais calma. Um
homem que ouvia o relato do seu infortúnio – não ter sido avisada
sobre a necessidade de retirar o fundo de garantia – apareceu com
uma solução simples, mas não cogitada até então. "Ele falou
para eu pegar a ficha e tentar trocar com alguém que consiga
atendimento para o turno da tarde. Aí tenho a manhã para ir no
banco e resolver tudo", comemora. Se tudo der certo, o
relacionamento com o namorado, que após a madrugada em claro, agora
dorme o sono dos justos, estará salvo. </span>
</div>
<br />
<br />
<br />Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-31192297822962681912012-08-08T18:42:00.002-07:002012-08-08T19:13:09.259-07:00O que achei de Na Estrada<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="color: #222222; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Na Estrada, adaptação do livro On The Road, do Kerouac, foi o filme que aguardei com maior ansiedade desde Pergunte ao Pó, também adaptação (bem fraca) de um livro que me marcou. Ao contrário de muitos fãs de On The Road, não saí do cinema desapontado. A resenha abaixo foi publicada na edição da semana passada de O Caxiense. A propósito, com o tempo vou postando aqui algumas matérias que faço na revista. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;"><b><br /></b></span>
<b style="background-color: white; color: #222222;">Salles não é Kerouac. E por que deveria ser?</b></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b style="background-color: white; color: #222222;"><br /></b></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">
</span>
<br />
<div style="background-color: white; color: #222222; font-size: 13px;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-LAyw117mZrw/UCMV2lK_PPI/AAAAAAAAAxw/MBqKRqXJZrU/s1600/Na-Estrada-mais-uma.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"></span></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><span style="color: #222222; font-style: italic;"><span lang="zxx">Adaptar para o cinema um livro que não possui apenas leitores, mas sim seguidores – o rótulo de "bíblia de uma geração" não pode ser mais adequado aqui – é um desafio que tem tudo pra dar errado. E para muitos que já foram ao cinema assistir </span></span><span style="color: #222222;"><span lang="zxx">Na estrada</span></span><span style="color: #222222;"><span lang="zxx"><i>, adaptação do livro </i>On the road<i>, de Jack Kerouac, deu mesmo. A versão dirigida por Walter Salles tem dividido opiniões de espectadores e críticos, provocando discordâncias inevitáveis sempre que uma obra sagrada é maculada.</i></span></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-size: 13px;">
<span style="font-size: small;"><span style="color: #222222;"><span lang="zxx" style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-size: 13px;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-D1TUVlFzhUw/UCMWuNZlarI/AAAAAAAAAx4/Pxocw1KtN88/s1600/Na-Estrada-mais-uma.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="224" src="http://1.bp.blogspot.com/-D1TUVlFzhUw/UCMWuNZlarI/AAAAAAAAAx4/Pxocw1KtN88/s320/Na-Estrada-mais-uma.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><span style="color: #222222; font-style: italic;"><span lang="zxx">Publicado em 1957, </span></span><span style="color: #222222;"><span lang="zxx">On the road</span></span><span style="color: #222222; font-style: italic;"><span lang="zxx"> é bíblia por eternizar a trajetória de uma geração de jovens norte-americanos que, no fim dos anos 40, de mochila nas costas, buscou um caminho às margens da sociedade de consumo, vivendo sem regras e sem rumo, de carona em carona, apenas vivendo, loucos apenas por isso: viver. Essa turma, que nomeou a si mesma geração beat (a hipótese mais consistente do porquê do nome é ser o radical da palavra beatitude – alusão a uma certa iluminação mística oriental contida no pensamento dos beatniks, os integrantes daquele grupo de escritores e poetas), ditou novos caminhos para toda uma geração, e depois outra e nunca mais parou. Sempre vai haver um pouco de Kerouac em cada hippie de qualquer época. As viagens de Sal Paradise (alterego do autor) e Dean Moriarty (inspirado em Neal Cassady, amigo de Kerouac) viraram roteiro de peregrinações de apaixonados pelo livro de todo o mundo e o livro, publicado em 1957, foi decisivo para Bob Dylan e Jim Morrison, por exemplo, se tornasem os artistas contestadores e livres que foram.</span></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-size: 13px;">
<span style="font-size: small;"><span style="color: #222222;"><span lang="zxx" style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-size: 13px;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><span style="color: #222222; font-style: italic;"><span lang="zxx">Os temas que tornam universal a saga de Sal Paradise – a jornada do herói em busca de um sentido para viver e a dramática busca pelo pai (vivida por Dean, o verdadeiro protagonista) – o que fascina o leitor de </span></span><span style="color: #222222;"><span lang="zxx">On the road</span></span><span style="color: #222222; font-style: italic;"><span lang="zxx"> há mais de meio século (no Brasil, trata-se do livro mais vendido da coleção pocket da editora L&PM). Na estrada, o filme, é fiel do início ao fim. Tudo o que os fãs do livro (entre os quais me incluo fortemente) idolatram está lá: a estrada, o jazz, as drogas e o sexo, seja ele a dois, a três ou apenas uma dupla masturbação no carro. Mas há também o drama e a melancolia que dá início e fim à geração beat, que talvez por não saber para onde ir, não tenha mesmo ido a lugar algum. Vale citar que Jack Kerouac, o papa dos beats, morreu afundado em depressão profunda, transformado em um reacionário e negando a importância de tudo o que realizou.</span></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-size: 13px;">
<span style="font-size: small;"><span style="color: #222222;"><span lang="zxx" style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-size: 13px;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: small;"><span style="color: #222222; font-style: italic;"><span lang="zxx">Não dá para exigir que o expectador deixe o cinema com a mesma empolgação daqueles que terminaram a última página de </span></span><span style="color: #222222;"><span lang="zxx">On the road</span></span><span style="color: #222222; font-style: italic;"><span lang="zxx">, decididos a mudar algo em suas vidas. São experiências totalmente diferentes, a começar pelo tempo: comparar duas horas numa sala em frente a uma tela com alguns dias e noites mergulhados em mais de 300 páginas parece inadequado. Finalmente, n</span></span><i>ão sei que impacto pode ter o filme para quem não teve contato com a obra original. Talvez seja chato, maçante e sem sentido (o roteiro poderia contextualizar melhor o cenário em que se dão as loucuras daquela turma). Para este leigo em cinema, mas fã dos beats, valeu a pena. Se você já leu o livro, corra para o cinema. Se não leu, ainda é melhor correr para a livraria. </i></span></div>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-59869318498196273832012-08-05T20:09:00.000-07:002012-08-05T20:25:17.142-07:00100 atualizadas antes de dormir<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em um futuro não tão distante, tenho certeza que os amigos me ouvirão depositar a culpa de meus fracassos no botão F5, este que me faz passar o dia
atualizando nada na tela do computador.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Maldito vício adquirido e agravado com o tempo, esse de ter
que atualizar centenas de vezes por dia o Twitter, o e-mail, o Facebook, o site
de notícias, o site de esportes, como se estivesse à espera de algo muito
importante e que nunca chega.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não é nada científico, mas creio que nove em cada 10
atualizações de página não resultam em absolutamente nada. É tão impressionante
que até de madrugada, quando não tem mais ninguém pra escrever nada site
nenhum, nem nas redes sociais, ainda assim eu não paro de atualizar, atualizar,
atualizar.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Minha produtividade se torna inversamente proporcional à
quantidade de atualizações de páginas, que na maioria das vezes atualizam a si
mesmas. Penso em como deveria ser fácil ser jornalista quando se tinha à frente
tão somente uma inerte folha de papel na máquina de escrever.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O vício de dar F5 deve ter efeitos devastadores a longo
prazo. Quase posso sentir meu cérebro pedindo por atualizações enquanto tento
dormir. É verdade que ainda não cheguei a interromper o sono para ligar o
computador e dar uma última checada no mundo, mas sinto que esse dia não está
longe. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A necessidade de ter alguém me falando algo no mundo virtual
contradiz minha própria personalidade do lado de cá – de cá? –, em que nem gosto
tanto assim de ser mencionado, notificado, marcado ou convidado para muita
coisa. Mas como convencer meu sistema nervoso disso à essa altura dos acontecimentos, quando já sou um caso perdido, um cérebro disperso entre janelas e abas aguardando a próxima atualização manual?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Como não existe ainda um adesivo que a gente grude na
pele para controlar a vontade de dar F5, prevejo anos de sofrimento para o atualizante compulsivo. Aos inventores se soluções mágicas para a humanidade, fica a dica e o apelo. Aceito até ser cobaia. </span></div>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-67577982695342751902012-08-04T19:17:00.001-07:002012-08-04T19:28:57.541-07:00Retomando<br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-size: 13px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Amigos, nunca achei que fosse ficar tanto tempo sem escrever. </span>
<span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">É verdade que não sou um blogueiro disciplinado, mas fato é que se passaram quatro meses sem uma única palavra postada aqui - o que nem por um dia sequer deixou de me incomodar nesse período. Passei parte desse tempo sem escrever nada de fato e cheguei a achar que o assunto tivesse acabado, o que me deprimiu um pouco. Mas novas ideias surgiram e com elas a vontade de me comunicar de novo. Por isso vou tentar mais uma vez. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-size: 13px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Espero não ter perdido meu pequeno, porém apreciável público de leitores, e também que eu consiga manter uma rotina de atualizações freqüentes - e legais.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #333333; font-size: 13px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Desculpem as férias prolongadas, mas o blog finalmente está de volta. Ponto para a vontade, que finalmente equilibra o jogo com a preguiça. </span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">E </span><span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">esse post é só para contar isso mesmo.</span><span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> </span>
<span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-44646541023391243452012-03-27T18:42:00.007-07:002012-03-27T19:23:08.347-07:00Dois belos parágrafos de Kurt VonnegutNo livro de ensaios e memórias "Um Homem Sem Pátria", o escritor e grande humanista Kurt Vonnegut, então com 83 anos (morreu aos 85, em 2007), encerra seu último capítulo - e até onde eu sei sua extensa carreira literária - com a pérola que reproduzo abaixo para os amigos leitores. <div><br /></div><div>Acho que as palavras do Vonnegut exprimem - com muito mais beleza e clareza, naturalmente - muito do que eu sempre tento dizer e defender em meus textos.<div style="font-style: normal; "><br /></div><div><i>"Mas eu tinha um tio bom, meu falecido tio Alex. Era muito lido e sábio. E a principal queixa que fazia dos outros seres humanos era que raramente notavam quando eram felizes. Por isso quando tomávamos limonada debaixo da macieira no verão, digamos, e conversávamos ociosamente sobre isto e aquilo, quase zunindo como abelhas, tio Alex subitamente interrompia a tagarelice agradável para exclamar: 'Se isto não é bacana, então não sei o que é.'</i><div><i><br /></i><div><i>Por isso eu faço o mesmo agora, assim como meus filhos e netos. E insisto com vocês para por favor notarem quando estiverem felizes, e exclamarem, ou murmurarem ou pensarem a certa altura: "Se isto não é bacana, então não sei o que é."</i></div></div></div></div>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-17484692930133651122012-03-21T23:02:00.002-07:002012-03-21T23:12:03.848-07:00O medo da morte<p class="MsoNormal">Afinal, o que é que tanto nos incomoda, preocupa ou amedronta diante da inegável certeza de que um dia encararemos a cara feia da morte?</p> <p class="MsoNormal">São os planos que deixaremos inacabados? É não poder mais fazer o que gostamos ou nunca mais estar com aqueles que amamos por toda a vida? É o medo do que vem a seguir, ou de que nada a venha a seguir?</p> <p class="MsoNormal">Deixar de existir sempre me pareceu o mais tão trágico aspecto da morte. Tão trágico quanto curioso, tenho que admitir. O mundo segue, mas você não. É inconcebível. Viramos mera lembrança de quem nos conheceu, até que eles venham a morrer também e aí seremos parte de um passado sem testemunhas, até que nossa existência possa servir no máximo para algum descendente conquistar uma dupla cidadania no futuro.</p> <p class="MsoNormal">Desconsiderando toda a carga filosófica do tema, o simples ato físico de morrer, por si só, já me incomoda o suficiente. Parar de respirar. Os cinco sentidos nos abandonando enquanto a mente nos oferece algum devaneio que nos tire a consciência do fim, caso a morte não nos alcance de forma abrupta.</p> <p class="MsoNormal">Temos certeza da morte, mas não sabemos quando iremos morrer e por isso planejamos coisas. Coisas que nos farão detestar nossa morte tanto quanto a dos nossos familiares, amigos e ídolos. E jamais nos acostumaremos com a ideia de ter nossas empreitadas interrompidas.</p> <p class="MsoNormal">O que vem primeiro: o medo ou o ódio da morte? Com qual destes sentimentos é menos doloroso conviver? </p> <p class="MsoNormal">Assim como este texto, tudo que a morte nos deixa são perguntas e mais perguntas.</p>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-45129081167076854962012-03-14T10:52:00.005-07:002012-03-14T11:17:03.815-07:00Em paz<div><span style="font-size: 100%;"><br /></span></div><span style="font-size: 100%;">Nada como poder recorrer ao infinito calendário de efemérides sempre que os assuntos começam a rarear na mente do blogueiro. Se há uma semana fui salvo pelo Dia da Mulher, hoje o Dia da Poesia vem salvar este blog do inferno da desatualização. </span><div style="font-size: 100%; font-style: normal; "><br /></div><div style="font-size: 100%; font-style: normal; ">Não sou especialista em poesia. Não sou especialista em nada, é verdade, mas em poesia passo ainda mais longe. Mas sei recitar por aí uma meia duzia de poemas que gosto bastante, principalmente do Augusto dos Anjos e do Manoel de Barros, meus dois poetas preferidos. </div><div style="font-size: 100%; font-style: normal; "><br /></div><div style="font-size: 100%; ">Costumo demorar uma semana para decorar um poema a ponto de recitá-lo com segurança. O último que aprendi foi até aqui o mais difícil (creio que seja dos mais fáceis para quem é do ramo), mas também é dos mais belos que já conheci. Chama-se <i>Em paz</i>, e é de autoria do poeta mexicano Amado Nervo (1870-1919)<span style="font-size: 100%; ">. Ei-lo:</span></div><div style="font-size: 100%; "><br /></div><div><p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><em><span style="font-family: Tahoma; ">Já bem perto do ocaso, eu te bendigo, ó Vida,</span></em><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><em><span style="font-family: Tahoma; ">porque nunca me deste esperança mentida,</span></em><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><em>nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.</em></span></i><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><br /><em>Porque vejo, ao final de tão rude jornada,</em></span></i><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><em>que a minha sorte foi por mim mesmo traçada;</em></span></i><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><em>que, se extraí os doces méis ou o fel das cousas,</em></span></i><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><em>foi porque as adocei ou as fiz amargosas:</em></span></i><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><em>quando eu plantei roseiras, eu colhi sempre rosas.</em></span></i><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><br /><em>Decerto, aos meus ardores, vai suceder o inverno:</em></span></i><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><em>mas tu não me disseste que maio fosse eterno!</em></span></i><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><em>Longas achei, confesso, minhas noites de penas;</em></span></i><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><em>mas não me prometeste noites boas, apenas,</em></span></i><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><em>e em troca tive algumas santamente serenas…</em></span></i><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><br /><em>Fui amado, afagou-me o Sol. Para que mais?</em></span></i><span style="font-family: Tahoma; "><o:p></o:p></span></p> <p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><em>Vida, nada me deves. Vida, estamos em paz!</em></span></i><span style="font-size: 9pt; font-family: Tahoma; color: rgb(51, 51, 51); "><o:p></o:p></span></p><p align="center" style="margin-top: 0cm; margin-right: 0cm; margin-left: 0cm; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; line-height: 15.75pt; "><i><span style="font-family: Tahoma; "><em><br /></em></span></i></p></div>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-49052290473646576862012-03-08T11:33:00.002-08:002012-03-08T11:36:06.428-08:008 de março, dia da gratidão<p class="MsoNormal"><span>8 de março, vocês sabem, não deveria ser o Dia Internacional da Mulher. Pois não há homem que se preze que não dedique todos os seus dias a uma ou a tantas mulheres quanto for possível dedicar-se.</span></p><p class="MsoNormal">8 de março, para este blogueiro e todo e qualquer homem de bem, é tão somente o Dia Internacional do Agradecimento à Mulher Por Todo o Encantamento que Sua Presença em Nossas Vidas Proporciona.</p><p class="MsoNormal">É o dia de celebrar todas as fofinhas irresistíveis tipo Renata Ceribelli (antes do Medida Certa); as gostosas tipo Shakira; as lindas tipo Scarlett Johansson; as mulheres perfeitas tipo Jennifer Aniston; as de voz rouca tipo Natália Lage; as talentosas tipo Adele; as MILFs (ver no Google) tipo Patrícia Poeta; as cerebrais tipo Márcia Tiburi; as bravas tipo Marina Silva. E só não elaboro a lista com mulheres do meu convívio cotidiano pois não escaparia de cometer injustiças imperdoáveis.</p><p class="MsoNormal">Uma inegável vantagem que o Jornalismo me trouxe, desde a faculdade, foi a possibilidade de ter e conviver com muitas colegas e amigas mulheres, em sua grande maioria bonitas, inteligentes e espirituosas. E o convívio com mulheres de tais predicados, aí independendo a área de atuação, é um presente absolutamente sem preço.</p><p class="MsoNormal">Agradeço às mulheres pela certeza de que, todo santo dia, um olhar, uma frase, um gesto, um beijo de mulher irá fazer valer a pena ter saído da cama em uma manhã preguiçosa.</p><p class="MsoNormal">Agradeço às mulheres pela certeza de que a cada fim de tarde, durante a caminhada na Avenida Mauá, pelo menos um belo rosto querendo ficar suado ou um shortinho harmonizado com coxas quase roliças me farão querer dar mais uma volta para ter o replay do lance, e que meu dia será um pouco mais feliz assim.</p><p class="MsoNormal">Sem ser necessário prolongar esta crônica de fim de tarde, quando tanto já foi lido e o assunto já cansou, desconsidere o amigo leitor a obviedade biológica da frase e concorde comigo: Que ambiente inóspito seria este mundo sem as mulheres.</p>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-65458358907275174592012-02-23T21:17:00.007-08:002012-02-24T07:46:19.336-08:00Um bom lugar pra ler um livro<p class="MsoNormal" style="font-size: 100%; "><span style="font-weight: normal; ">Dia desses, tive o prazer de ler algo em um blog sobre o que talvez seja moda no mundo das tatuagens (com o qual não tenho grande intimidade). São as chamadas </span><b><a href="http://praler.org/2012/02/08/a-pele-em-que-elas-habitam/">tatuagens literárias</a></b>, que, como o nome indica, leva o tatuado a gravar na pele – ao invés de postar no Facebook – uma passagem de um livro, uma frase, um poema ou até um desenho que se relacione com a obra. Bacana demais.</p> <p class="MsoNormal" style="font-weight: normal; font-size: 100%; ">Gostei tanto do que vi, que fiquei imaginando quais de minhas passagens preferidas dos livros lidos até aqui ficariam bem estampadas no cóccix, no antebraço ou na nuca, a tríade sensual das tatuagens das mulheres. </p> <p class="MsoNormal" style="font-weight: normal; font-size: 100%; ">Pois imaginem os amigos, na ocasião do primeiro encontro íntimo, deparar com um conto inteiro de Ernest Hemingway reproduzido nas costas da futura amada. Não eleva o patamar da coisa? </p> <p class="MsoNormal" style="font-weight: normal; font-size: 100%; ">Talvez eu viesse a pedir em casamento a mulher que tivesse tatuado em seu corpo qualquer trecho de As Vinhas da Ira ou Pergunte ao Pó, meus livros preferidos. Talvez ela mesma me pedisse em casamento se eu identificasse de que capítulo ela retirou a passagem.</p> <p class="MsoNormal" style="font-weight: normal; font-size: 100%; ">Mas e se, ao invés de alguns parágrafos de prosa, a menina mostrasse com quem se está lidando exibindo em suas costas a letra de Like a Rolling Stone, do Bob Dylan, para que se desbravasse até o “you got no secrets to conceal” que encerra a última estrofe? Não me ocorre forma melhor de começar um novo amor.</p> <p class="MsoNormal" style="font-weight: normal; font-size: 100%; ">Também não desprezaria jamais a opção feminina por belos versos de Vinicius de Moraes, como estes que sempre me vem à mente:</p> <p class="MsoNormal" style="font-weight: normal; font-size: 100%; "><i>De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo. <o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="font-weight: normal; font-size: 100%; "><o:p> </o:p><span style="font-size: 100%; ">Gosto de tribais, aprecio com moderação as estrelinhas, borboletas e fadinhas e também me agrada a fauna brasileira bem desenhada. Mas creio que nada disso possa excitar um bom leitor tanto quanto ver a literatura escrita na pele. Palpável como um papel.</span></p>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-72860183160644399102012-02-16T17:35:00.004-08:002012-02-16T20:38:23.975-08:00Só depois do CarnavalAmigos leitores. Passei boa parte desta quinta-feira terminando com carinho uma crônica, iniciada dias antes, para postar aqui e tirar do topo o mais rápido possível o tão rejeitado post sobre futebol. <div><br /></div><div>Porém, como me ocorreu que ninguém passaria por aqui durante os dias de Carnaval, preferi manter na manga o estimado texto, guardando-o para quando todas as marchinhas já tiverem sido cantadas e a ressaca estiver devidamente curada. <div><br /></div><div>A propósito, qual a melhor marchinha de Carnaval? Meu voto:<br /><div><br /></div></div>Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô<br />Mas que calor, ô ô ô ô ô ô<br />Atravessamos o deserto do Saara<br />O Sol estava quente e queimou a nossa cara<br />Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô<br />Mas que calor, ô ô ô ô ô ô...</div>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-53708286566035196912012-02-09T07:34:00.000-08:002012-02-09T09:50:58.103-08:00Sem títulos, nada de ídolos<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 100%; ">Sei que não deveria, mas estou deveras preocupado com o Grêmio, esta instituição de esperanças mentidas por quem resolvi um dia torcer.</span></p> <p class="MsoNormal">Para além do fato de nos encaminharmos para mais um ano tragicômico, preocupa-me ainda mais a realidade de que nós, gremistas da minha geração, vivemos provavelmente o período de maior escassez de ídolos entre todos os torcedores de todos os clubes do mundo. </p> <p class="MsoNormal">A falta de um único ídolo para chamar de nosso faz com que por alguns momentos reverenciemos qualquer jogador mediano, desde que mostre certa dose de esforço pelo time. Que se limite a assustar o adversário com um carrinho ou um balão pela lateral. Somos carentes como o rapaz que se apaixona pela primeira garota que lhe oferece um oi sorridente.</p> <p class="MsoNormal">É melancólico ver a maneira como jogadores com qualidade para marcar época no clube saíram condenados ao ostracismo, pelo simples infortúnio de terem participado de algumas das temporadas menos gloriosas do clube. Como o meia Gilberto, por exemplo, ou o Fábio Rochemback, este recém saído para o futebol chinês. Se Renato Portaluppi jogasse hoje, dificilmente deixaria seu nome na História. </p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 100%; ">No futebol, ídolos não são necessariamente os melhores jogadores, mas são obrigatoriamente atletas pertencentes a times que marcam época, que permanecem para sempre na memória afetiva do torcedor. </span></p> <p class="MsoNormal">Qual foi o último grande jogador idolatrado pela torcida gremista, unanimidade mesmo? Sandro Goiano não vale. Diego Clementino também não. Tampouco o congolês Kidiaba. Talvez Danrlei, o primeiro a chegar e último a deixar o glorioso time Campeão da Libertadores, em 95. E lá se vão quase dez anos de sua saída, em 2003. </p> <p class="MsoNormal">Só nos resta lamentar o que o Grêmio está fazendo de si mesmo.</p>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-17091944393778421082012-02-02T09:57:00.000-08:002012-02-02T10:34:04.950-08:00Da sedução involuntária<p class="MsoNormal">Após um longo, quente e improdutivo janeiro, este blogueiro retoma suas atividades abordando este inesgotável tema que é a beleza da mulher, esta entidade que dá sentido e equilíbrio ao mundo, desde que o mundo é mundo.</p> <p class="MsoNormal">Os grandes cronistas que admiro sabem que reside na mulher o mais valioso objeto de inspiração. E se deles não absorvi o talento, a técnica ou a verve para o texto afiado, pelo menos do gosto pelo tema me apropriei desde as primeiras aventuras com as palavras escritas, percebendo ser para sempre impossível deixar de exaltar a beleza de entrar em um elevador recém deixado por uma mulher cheirosa, que pode ou não ter dado um oi sorridente enquanto segurou a porta pra você.</p> <p class="MsoNormal">Ou quando ela sai com seu cachorrinho para passear e sorri quando você dá licença a ela no portão do prédio. E então ela espera que você lance um sorriso amistoso para o cachorrinho dela.</p> <p class="MsoNormal">Sou um espectador atento dos mais despretensiosos gestos femininos, convencido de que o mundo fica mais bonito a cada ajeitada no cabelo, seja durante uma festa ou uma caminhada no fim da tarde, quando até o suor sob as axilas tem lá sua poesia quando suado pela mulher certa. </p> <p class="MsoNormal">A mulher que, sem cerimônias, serve o próprio copo na mesa do bar e acompanha uma gordurosa porção de fritas, me conquista mais facilmente do que aquela que, com elegância, gasta meia hora para entornar uma taça de espumante, clara ou disfarçadamente contrariada.</p> <p class="MsoNormal">No mercado do encantamento à primeira vista, empregar corretamente verbos desafiadores vale mais do que a bolsa combinando com o vestido. Uma tatuagem na nuca, ou à altura do cóccix, vale mais do que a mais irretocável das maquiagens. E dançar mal é tão lindo quanto dançar bem.</p> <p class="MsoNormal">Sedução involuntária. Vocês, mulheres, estão fazendo isso certo.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-12267463507027021762011-12-07T18:43:00.000-08:002011-12-08T16:53:32.790-08:00Breve retrospectiva pessoal de 2011<p class="MsoNormal">Chegando ao fim de mais um ano, é hora de puxar pela memória e relembrar o que mais me marcou nestes últimos 12 meses (acreditando que nada muito significativo venha a ocorrer nas próximas semanas). E sugerir aos amigos que façam suas próprias retrospectivas, certamente bem mais interessantes do que as que veremos na TV nos próximos dias. </p> <p class="MsoNormal"><b>Melhor música</b>: Empate técnico entre <i><b><a href="http://www.youtube.com/watch?v=Ti3t7MAwaaM">Rumour Has It</a></b></i>, da Adele, e <b><i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=XUeC0uYbvB0">Sinhá</a></i></b>, do Chico com o João Bosco (que, convenhamos, não é uma parceria, mas sim uma covardia).</p><p class="MsoNormal"><b>Melhor álbum</b>: <i style="font-weight: bold; "><a href="http://wyntonmarsalis.org/discography/title/wynton-marsalis-and-eric-clapton-play-the-blues">Wynton Marsalis & Eric Clapton Plays The Blues</a>. </i>Por reunir dois dos meus músicos preferidos celebrando o meu gênero musical preferido, reafirmando-o como tal. No link dá pra ouvir tudo. </p> <p class="MsoNormal"><b>Melhor filme</b>: O drama <i><b><a href="http://www.cineclick.com.br/filmes/ficha/nomefilme/minhas-maes-e-meu-pai/id/16729">Minhas Mães e Meu Pai</a></b></i>, que embora seja de 2010, concorreu ao Oscar este ano, e foi mais ou menos nessa época que eu assisti.</p> <p class="MsoNormal"><b>Melhor livro</b>: <b><i><a href="http://blog.meiapalavra.com.br/2011/06/07/rum-diario-de-um-jornalista-bebado-hunter-s-thompson/">Rum: Diário de um Jornalista Bêbado</a></i></b>, do Hunter S. Thompson. Sensacional, li em dois dias, coisa rara de acontecer. </p> <p class="MsoNormal"><b>Melhor show</b>: Não fui a muitos neste ano, é verdade, mas sem dúvida o <a href="http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a3578304.xml"><b><i>Chico, no último dia 29</i></b>,</a> foi histórico (e caro, por isso tenho que escolhê-lo). Destaque absoluto pro arranjo de <a href="http://www.youtube.com/watch?v=ctheuUa60nM&feature=related"><i><b>Geni e o Zepelin</b></i></a>, como mostra o vídeo gravado neste dia (mas não por mim). </p> <p class="MsoNormal"><b>Melhor crônica</b>: Essa da Eliane Brum no site da Época : <b><i><a href="http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI247981-15230,00.html">Meu filho, você não merece nada</a></i></b></p><p class="MsoNormal"><b>Melhor dia</b>: 3/11, quando eu finalmente passei na prova prática da auto-escola e fui reconhecido pelo Detran como um legítimo condutor de veículos automotores(pode parecer banal, mas foram uns seis meses de espera entre burocracias, provas mal-sucedidas, demissões de examinadores, etc, e o que é mais enlouquecedor: com o carro comprado!).</p>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-53358371950396892102011-12-04T21:39:00.000-08:002011-12-04T22:23:59.107-08:00Vida: Mata-mata ou pontos corridos?<p class="MsoNormal">Tomo emprestado do futebol a metáfora que pode ajudar a entender como avaliamos nossa safisfação com a existência: Sua vida, amigo leitor, é vivida em mata-mata ou pontos corridos?</p> <p class="MsoNormal">São estas as duas principais formas de disputa dos torneios futebolísticos. A primeira é eliminatória, como a Copa do Brasil, aquela em que uma equipe elimina a outra em confronto direto, até a partida final, que consagra o campeão. Na outra, todas as equipes se enfrentam, e vence quem soma mais pontos no final. Como o Campeonato Brasileiro.</p> <p class="MsoNormal">O mata-mata mantém suspensas as comemorações pelas pequenas vitórias,uma vez que só o triunfo final dará sentido a estes suados triunfos. A euforia de uma vitória em quartas-de-final pode ser reduzida a pó se no domingo seguinte o time perder nas semifinais. Um jogo ruim, um dia de azar, acaba com toda uma campanha que se desenhava exitosa. </p> <p class="MsoNormal">Nos pontos corridos, os três pontos da partida final têm a mesma importância daqueles disputados no jogo de estreia na competição e de todos os outros. O que torna todos os jogos decisivos, ainda que nenhum seja eliminatório. É permitido tropeçar, desde que se reequilibre antes do tombo para seguir em frente. </p> <p class="MsoNormal">Aplicando tais regras ao nosso cotidiano, considero que vive sob as regras do mata-mata aquele que deixa de saborear as pequenas conquistas da vida, pois não vê sentido em comemorar vitórias tão frágeis, que podem desaparecer ao primeiro tropeço logo adiante. Tudo são projeções para um futuro que possa dar sentido ao presente, e só no final irá descobrir - ou decidir - se foi feliz ou não. </p> <p class="MsoNormal">O sujeito adepto dos pontos corridos, por sua vez, sabe que a felicidade é feita de alegrias efêmeras e fugidias, com fim unicamente em si mesmas, e independem de um futuro glorioso. Por saber viver o presente, comemora o dia em que tudo o que obteve foi a condição de ter uma noite tranquila de sono. E seus dias ruins jamais irão anular a lembrança dos dias bons que se passaram.</p> <p class="MsoNormal">Dadas as opções, reitero a pergunta: que fórmula você escolheu? Viver à espera do resultado final, para avaliar se a vida deu certo ou errado, ou colher do presente, a cada dia, um pouco da felicidade que se pode ter?</p>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-17993465807492992352011-11-27T19:42:00.000-08:002011-11-27T19:49:34.213-08:00Morar sozinho<p class="MsoNormal">Nestes pouco mais de três anos como habitante único dos endereços por onde passei, descobri algumas coisas sobre esta valorosa arte de morar sozinho. </p><p class="MsoNormal">A principal delas, acredito, é que morar sozinho é como ser o único ator em um espetáculo repleto dos mais diversos personagens do cotidiano. E mesmo tendo que se virar para representar a todos, ser ainda sua própria platéia.</p> <p class="MsoNormal">Mais do que tentar ser um pouco cozinheiro, diarista, eletricista e encanador, é ser seu próprio psicólogo, quando você está deprimido e não encontra saídas para uma vida feliz.</p> <p class="MsoNormal">É ser seu próprio enfermeiro, quando a doença atinge o corpo e é preciso controlar o repouso, preparar a canja, tomar os remédios com seus devidos intervalos de tempo.</p> <p class="MsoNormal">É ser sua própria mãe, para reclamar dos horários, mandar dormir um pouco mais cedo, sugerir as contenções de despesas.</p> <p class="MsoNormal">É também tentar ser seu amigo, tanto o que te faz rir, quando sentir que falta um pouco de diversão, quanto o que te convence a sair de casa em uma noite preguiçosa.</p> <p class="MsoNormal">Morar sozinho pode ser a melhor escolha de sua vida. Da minha, acredito que tenha sido. Mas ao mesmo tempo em que nos oferece certa independência das regras familiares, nos torna ainda mais dependentes de nós mesmos.</p>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-3319068545603133782011-11-16T19:35:00.000-08:002011-11-16T21:11:27.532-08:00Traumas musicais<p class="MsoNormal">Há uma triste verdade sobre as músicas que gostamos. Por mais que a gente queira, elas jamais servirão para funções nobres como as de despertador e toque de celular.</p> <p class="MsoNormal">Já faz algum tempo que insisto em ser acordado por músicas legais e empolgantes, acreditando que isso possa tornar menos árduo esse momento crítico do dia. Mas não só isso não funciona, como recentemente precisei remover <i>Give it away</i>, do Red Hot Chili Peppers, da minha playlist por puro trauma.</p> <p class="MsoNormal">Acostumei então a escolher um som de alarme sabendo que logo terei de dizer adeus, como em qualquer relação desgastada. É uma escolha difícil. Hoje acordo com <i>Purple Haze</i>, do Jimi Hendrix, sabendo que logo ela se tornará antipática, bem como aquelas que nos lembram amores mal-resolvidos.</p> <p class="MsoNormal">Com toques de celular as experiências são ainda piores. Talvez por eu não apreciar receber ligações em geral, o som do toque me remete ao chefe que liga durante a folga, ao amigo que me chama empolgado em um dia preguiçoso, às inevitáveis e imprevisíveis más notícias da vida. E foi por isso que nos últimos tempos excluí de minhas listas <i>Fly Away</i>, do Lenny Kravitz, <i>Higher Ground</i>, do Stevie Wonder (com dor no coração), e <i>Night Time is The Right Time</i>, do Ray Charles (e da minha formatura), entre outras que no início até me faziam deixar o celular tocando por um tempo maior que o necessário.</p> <p class="MsoNormal">Acredito que na época dos toques polifônicos ocorresse o contrário. Ouvir aquela singela simulação de uma música que gostássemos dava vontade de ouvir o som verdadeiro. Escolhemos músicas para despertador e toque sabendo que logo nos deixarão traumatizados, como as que ouvimos diariamente na abertura da novela.</p> <p class="MsoNormal">É verdade que, apesar dos pesares, não abri mão ainda de tornar musicais estes momentos do dia-a-dia. Se hoje o leitor me ligar, atenderei ouvindo <i>We’re Gonna Groove</i>, do Led Zeppelin. Mas dificilmente ouvirás esta bela música em uma festa na minha casa em um futuro próximo. </p>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-27967942176861666032011-11-06T19:42:00.001-08:002011-11-06T19:50:58.950-08:00Vocês que bebem pra esquecer<p class="MsoNormal">Admiro com certa inveja todos vocês que bebem pra esquecer. Pelo mesmo motivo que invejo os bons tocadores de harmônica: por simplesmente não dominar a arte.</p> <p class="MsoNormal">Ainda que sem poder oferecer qualquer explicação convincente, sempre que tenho mágoas a afogar, opto por permanecer sóbrio, para absorver toda a melancolia ao invés de despejá-la por aí.</p> <p class="MsoNormal">Da mesma forma que não sou um bom conselheiro para os amigos que por ventura precisem ser aconselhados, sou fraco para receber conselhos. Desabafo comigo mesmo e sou o meu pior juiz. </p> <p class="MsoNormal">Admiro e invejo quem recebe uma má notícia e vê nela antes de tudo um motivo para encher a cara à noite.</p> <p class="MsoNormal">Às intempéries da vida, reajo com não recomendável preguiça existencial. E sou da turma que até para beber uma cerveja precisa de um pouco de motivação.</p> <p class="MsoNormal">Sou anti-social nas más horas. Por algum motivo, sinto que um grande problema tira o direito de me sentir bem. Expurgo os fantasmas com doses fortes de reclusão, café e um pouco de blues. E mesmo do prazer das palavras, lidas ou escritas, preciso me distanciar. </p> <p class="MsoNormal">Se você enche a cara para esquecer, não importando se esquece de fato ou não, saiba que o admiro e invejo profundamente. </p>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5870359438360037968.post-43002072511408221722011-10-26T21:36:00.000-07:002011-10-27T13:45:17.517-07:00A era do ser banalizado<p class="MsoNormal">Nem sempre foi assim, mas em algum momento todos ficamos acostumados a ter nossos amigos e conhecidos disponíveis a qualquer momento, nestes sistemas de troca de mensagens instantâneas pela internet, como MSN e os chats do Gmail e do Facebook, por exemplo.</p> <p class="MsoNormal">A toda hora, nas redes sociais, mantemos nossos amigos atualizados sobre nossa rotina e acompanhamos os pormenores do que se passa na vida deles. Estamos por dentro de tudo, desde suas mais profundas crises existenciais até a hora da consulta no dentista.</p> <p class="MsoNormal">Acredito que um efeito colateral da comunicação pelas redes sociais, ou mesmo pelo Messenger, seja uma certa banalização de nós mesmos. Não ficarão nossos amigos enjoados de nós, que estamos o tempo todo diante de seus olhos, representados pelo nosso simpático e sorridente avatar, que passa o dia invadindo telas?</p> <p class="MsoNormal">Quando passamos manhã, tarde e noite conectados, estamos nos colocando à disposição em tempo integral, logo dando motivos para não sermos procurados. E narrar nossa rotina no Facebook ou no Twitter pode fazer de nós pessoas aparentemente maçantes e cansativas. </p><p class="MsoNormal">Há algum tempo reparei que tenho sentido mais saudade de pessoas que normalmente não me fariam tanta falta, pelo simples motivo de que raramente tenho contato virtual com elas. Creio que só a superexposição nas <i>timelines</i> alheias pode fazer com que pessoas legais se tornem mais superficiais do que outras nem tão interessantes, porém menos assíduas no cotidiano virtual.</p> <p class="MsoNormal">Como há alguns anos, quando a moda era dar toque no celular. Recebíamos toques e achávamos isso legal, pois alguém lembrara de nós. Mas se passávamos a receber esses toques repetidas vezes, da mesma pessoa, cedo ou tarde acabava o encanto, e então reclamaríamos do pé no saco que não tinha mais o que fazer. Só é legal até banalizar. E nossa atual onipresença na rede banaliza tudo. </p> <p class="MsoNormal">Desde o Orkut, em 2004, que sou um entusiasta das redes sociais. Mas tento usá-las com moderação, mesmo quando a vontade é de sair falando o que dá na telha. Pois em que mundo não virtual nós seríamos capazes de suportar a fala de nossos conhecidos sem nenhum intervalo que não seja o do sono obrigatório?</p> <p class="MsoNormal">Finalmente, deixo aqui a dúvida. Será que estamos deixando de ser pessoas legais e nos tornando chatos descartáveis, sempre disponíveis para o papo e que tudo contam a quem queira ou não saber? </p>Andrei Andradehttp://www.blogger.com/profile/07957710492521875274noreply@blogger.com9