sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O silêncio na amizade

O silêncio é o avalista da grande amizade.

Quando há constrangimento no silêncio, na pausa que encerra um assunto, desconfio que não há grande amizade. O que não chega a ser ruim, pois é com pequenas e grandes amizades que enriquecemos a vida. Mas não há dúvidas: quando o silêncio deixa de configurar um drama e a mente não precisa trabalhar de forma alucinada à procura de uma frase qualquer, estou diante de uma grande amizade.

Acredito que todos tenhamos bem mais amizades pequenas do que grandes. Acumulamos amizades superficiais (sem o tom pejorativo normalmente atribuído ao termo) de acordo com a nossa habilidade e pré-disposição. E se os grandes amigos são os que fazem a vida valer a pena, os pequenos amigos quebram um bom galho na ausência quase sempre frequente e inevitável destes senhores. Com sua parceria, amenizam o silêncio das grandes ausências, que também avalizam a grande parceria.

O único problema das pequenas amizades é que elas nos exigem estar sempre driblando o silêncio. E o quebramos com um novo tema qualquer, o mais banal, apenas para cumprir tabela. A quietude, que tanto aprendemos a respeitar na presença dos grandes amigos, há de ser feridacom uma bobagem qualquer apenas pela nossa insegurança diante da nova amizade. Tem que se ter sempre um assunto, ser legal e eloquente.

Se derrotados pelo silêncio, eu e meu pequeno amigo estaremos condenados a achar um ao outro entediantes, ou a duvidar da nossa própria capacidade de fazer amigos. Tudo porque o silêncio ainda depõe contra essa pequena amizade. E avaliza as que a ele resistem.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Vejam que ideia sensacional

Achei simplesmente genial o vídeo abaixo, um comercial que reconstitui a abertura dos Simpsons, mas com pessoas reais. Cada detalhe foi lembrado e devidamente incluído na clássica sequência do desenho. Os responsáveis estão de parabéns.

Como de costume, compartilho com os amigos leitores neste período "entre-crônicas":

Come Home To The Simpsons from devilfish on Vimeo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ser incompleto

Não é novidade se eu disser que certas coisas podem ser muito parecidas na superfície, porém muito diferentes se observadas um pouco mais de perto. Mas e quando o mesmo se dá com nossos próprios sentimentos? Como, por exemplo, quando confundimos a diferença entre sentir saudade ou sentir falta de algo. São coisas diferentes, ao meu ver. Pois tenho saudade de muitas coisas, mas sinto falta de bem poucas.

Quando nos referimos a algo que passou, como a infância, a adolescência, o último inverno, estamos falando simplesmente de saudades. Não nos fazem falta estes recortes da vida, são apenas lembranças boas. Será tudo o que teremos um dia, mas ainda assim, são só lembranças.

Quando a saudade é de alguém querido que perdemos, provavelmente estamos sentindo falta de algo que nos deixou incompletos. Mas e se for saudade de alguém que fez parte de um período específico da nossa existência como estes já citados? Aí a saudade volta a se mostrar diferente, se não costumamos sentir falta desta pessoa em nosso dia-a-dia.

Em inglês, fala-se "I miss you" quando se quer expressar aquilo que chamamos de sentir saudade. Em um sentido mais literal, eles estão dizendo "Eu perdi você". Como se tivesse perdido a chave de casa ("I miss my key"). O que vai mais de encontro do sentido que atribuímos a "sentir falta de". Quando perdemos algo, sentimos falta daquilo. E só por isso notamos que perdemos. A língua inglesa pode não ter correspondente para a palavra saudade. Mas eles sabem dizer que sentem falta. Eles perdem.

Sempre banalizei a saudade, já me auto-intitulei um entusiasta da saudade. Tenho saudade de quase tudo. Mas reconheço que são poucas as coisas e pessoas que me fazem falta. Que me fazem incompleto.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Grêmio da Libertadores

Amanhã é dia de conferir a estreia do Grêmio na primeira fase da Libertadores 2011. O jogo contra o Oriente Petrolero, da Bolívia, tem tudo pra ser barbada, assim como toda essa fase, em que os adversários são pífios.

Aproveitando a situação, fui lá no clicEsportes e montei a escalação que considero ideal para o Grêmio jogar, não só amanhã, mas também nos próximos jogos (um pouco diferente da que o Renato anuncia). Passando para as oitavas-de-final, é obrigatório contratar um atacante que jogue pelos lados, para fazer dupla com o Borges. Feito isso, o grupo estará bom e competitivo.

Os amigos podem montar suas escalações nesse link aqui.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Eu, o 60º

Nesta semana que passou, acompanhei com alguma atenção a história dessa menina de 16 anos, aprovada em 9 vestibulares para medicina. Espantoso. Lembrei de cara de como foi minha inglória passagem por esta breve, mas decisiva etapa da vida.

Em 2004, fui o 60º colocado no vestibular de Jornalismo da Unisinos (devia ter 2 por vaga). Pior que isso, ainda zerei a prova de História. Deveria ser proibido zerar uma prova, mas não era. E para desgraça do sistema de ensino, fui aprovado. Acho que a redação sobre a importância do ócio criativo evitou o que seria uma pequena tragédia: ser o primeiro reprovado em um vestibular de universidade privada.

Ao contrário do que pode parecer, não foi tão difícil zerar a prova de História. Seguindo algum conselho infeliz, marquei a letra D em todas as alternativas. Pois aquela era a única letra que não constava entre as respostas corretas naquelas dez questões. E se eu já não cogitava prestar vestibular em universidade federal antes disso, nunca mais mudei de ideia.

Não lembro exatamente por que abdiquei de responder às questões de História, disciplina da qual que sempre simpatizei. Não saber a resposta de nenhuma delas não chega a ser um motivo, pois também não sabia nada de algumas outras matérias, e mesmo assim quebrei a cabeça, fiz alguns cálculos, puxei por algumas aulas de química e física na memória, olhei para a prova do colega ao lado. Mas na fatídica prova de História, de cara entreguei os pontos. Parti pra malfadada malandragem.

Fato é que não confio em avaliações dessa ordem. Não gosto de vestibulares, assim como detesto as tais dinâmicas de grupo. Vocês já fizeram dinâmica de grupo? Poucas situações podem ser mais embaraçosas. Quando nos pedem, por exemplo, para nos apresentarmos ao grupo de forma criativa, e tudo o que vem à mente é um grande branco, um vazio de criatividade. E nesse momento você vê aquele tão sonhado emprego ou estágio indo embora.

Vestibular pode ser traumatizante, e até acredito que uma pessoa consiga ser aprovada em nove vestibulares. Mas se essa menina vier a resistir a nove dinâmicas de grupo, aí sim, só me restará tirar o chapéu.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Elogio da compreensão

Julgar é, sem dúvida alguma, mais fácil do que compreender. Logo, nosso hábito é o de julgar sem a preocupação da compreensão. E o que é procurar compreender? É perguntar-se, tão somente. Mesmo assim, parece bem mais simples, rápido e prático julgar.

Acontece que nem tudo na vida tem a irrelevância de um jogo de futebol, onde apenas classificamos times e jogadores em bons e ruins, para logo mudamos de opinião após um gol, um frango, um jogo ganho ou perdido.

Os julgamentos que fazemos na vida real costumam ter consequências. Requerem compreensão, e essas requerem dúvidas. Se, diante de cada fato, não fôssemos dominados pelo impulso de atribuir valores, mas sim tivéssemos a habilidade de descobrir o porquê das coisas serem como são, das pessoas fazerem o que fazem, quantos mal-entendidos poderíamos evitar? Não viveríamos num mundo mais tolerante, no mínimo?

Julgamentos carregam a pretensão da resposta pronta e da explicação vazia. A compreensão nos oferece os benefícios da dúvida. O que o julgador já descobriu há tempos, nós, que vamos tentar compreender, talvez nem venhamos a descobrir. Mas dos equívocos do julgador, e da sua preguiça de pensar, tenho certeza que estaremos livres.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A batalha de Bento Gonçalves

*Matéria publicada no jornal Pioneiro, nesta segunda-feira (7)

Como o Brasil derrotou a Argentina no rúgbi pela primeira vez na história e ainda carimbou vaga para o Pan de Guadalajara

Por volta das 21h30 do último sábado (5), as seleções de rúgbi de Brasil e Argentina entravam no gramado da Arena do Sesi para o último confronto da primeira fase do torneio Sul-Americano disputado no fim de semana. Aos brasileiros, caberia o papel de sempre: assistir a mais uma vitória da invicta trajetória argentina.

A derrota ainda seria amenizada, pois o objetivo do dia já havia sido alcançado: a inédita classificação para o Pan-Americano, que será disputado em outubro, em Guadalajara, no México. Mas eles queriam mais, e para isso arriscaram uma jornada épica na noite serrana.


Quando as seleções deixavam o gramado para o intervalo, com vitória parcial de 7 a 0 para os brasileiros, obtida graças a um try de Daniel Gregg depois convertido por Lucas Duque, aquela parecia a maior façanha a ser alcançada naquela noite. Prova disso era o presidente da Confederação Brasileira de Rugby (CBRu), Sami Arap, nas arquibancadas, gritando para o cinegrafista oficial da competição:

– Filma o placar! É histórico! É histórico!

E era mesmo. Quando o assunto é rúgbi na América do Sul, vitória da Argentina poderia fazer parte do livro de regras. Los Pumas, como são chamados os jogadores, são os campeões de todas as edições do torneio Sul-Americano, disputado desde 1951. Nunca haviam perdido um jogo sequer. Boa parte desse grupo integra a equipe que irá disputar o próximo campeonato mundial. Em Bento, a disputa foi na modalidade sevens, uma variação do esporte original em que as equipes se enfrentam com sete jogadores para cada lado.

Inconformados com o placar negativo, no segundo tempo os argentinos pressionaram de todas as formas, e o jogo se passou praticamente todo no campo de defesa do Brasil. Mas, tendo acusado o golpe, as investidas no ataque eram desorganizadas, nervosas. E a cada recuperada de bola pelos brasileiros, a torcida, toda de pé pela primeira vez após um dia inteiro de disputas, tinha amostras de que o impossível estava por acontecer. Em 14 minutos, dois tempos de sete, deu-se a maior vitória do rúgbi nacional.
A vida depois da proeza
Após o jogo, o clima era de muita emoção. Cerca de 300 pessoas acompanharam a façanha, entre torcedores, membros da organização, além das próprias delegações dos seis países que disputam o torneio. Ninguém parecia acreditar no que tinha acabado de ver naquela noite em que uma chuva fina caía para refrescar o calor intenso. O autor do lance que definiu a partida extravasou:

– Ainda não consigo pensar no tamanho desta vitória. Achava que ia morrer sem ver o Brasil ganhar da Argentina – vibrou Daniel Gregg.

O torneio prosseguiu ontem. O sonho do Brasil de fazer a final ouro acabou parando na semifinal diante do Uruguai (5 a 7). Os vizinhos acabariam perdendo a decisão para a Argentina, que antes passara pelo Chile. As quatro seleções representarão a América do Sul em Guadalajara.

Na final prata, contudo, ainda foi possível fazer 17 a 12 nos chilenos e terminar um fim de semana histórico com outra comemoração brasileira na Serra.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A vida e o tempo

E unânime. Todos achamos que o tempo passa cada vez mais rápido. Todos lembramos das promessas de ano novo como se tivesse sido sábado passado, mas já passou um mês. Aquela dor nas costas que na última semana parecia não ter fim, nem lembramos mais. Tudo passou há mais tempo do que parece.

Sobre essa impressão de que o tempo está cada vez mais acelerado, a melhor teoria que conheço (a grosso modo) é de alguém que nos diz que, quando temos 1 ano, este ano é 100% da nossa vida. Aos 20, um ano corresponde a apenas 5% da existência. O que achamos que passa muito rápido, na verdade, apenas significa menos. Fascinante, não?

Para o blogueiro, um ano corresponde a pouco menos de 4% da sua passagem por este mundo até o presente momento. Nem quero calcular o que venha a representar um fim de semana. Deve ser por isso que não me incomodo em trabalhar um fim de semana sim, um não.

Ainda considerando essa teoria, é claro que a nossa vida só pode ser curta, mesmo. Habitamos por aqui um percentual pra lá de desanimador do tempo de existência da própria vida. Até o Oscar Niemayer pode reclamar que a vida curta, que mesmo assim devemos entender. Milhões de anos de vida na Terra, e só nos cabe 70, 80, 90 deles.

A vida é curta, a morte é certa. Nossa passagem por aqui representa uma fração nada significativa para a própria vida. Ou seja: Não podemos nos levar tão a sério.