terça-feira, 27 de março de 2012

Dois belos parágrafos de Kurt Vonnegut

No livro de ensaios e memórias "Um Homem Sem Pátria", o escritor e grande humanista Kurt Vonnegut, então com 83 anos (morreu aos 85, em 2007), encerra seu último capítulo - e até onde eu sei sua extensa carreira literária - com a pérola que reproduzo abaixo para os amigos leitores.

Acho que as palavras do Vonnegut exprimem - com muito mais beleza e clareza, naturalmente - muito do que eu sempre tento dizer e defender em meus textos.

"Mas eu tinha um tio bom, meu falecido tio Alex. Era muito lido e sábio. E a principal queixa que fazia dos outros seres humanos era que raramente notavam quando eram felizes. Por isso quando tomávamos limonada debaixo da macieira no verão, digamos, e conversávamos ociosamente sobre isto e aquilo, quase zunindo como abelhas, tio Alex subitamente interrompia a tagarelice agradável para exclamar: 'Se isto não é bacana, então não sei o que é.'

Por isso eu faço o mesmo agora, assim como meus filhos e netos. E insisto com vocês para por favor notarem quando estiverem felizes, e exclamarem, ou murmurarem ou pensarem a certa altura: "Se isto não é bacana, então não sei o que é."

quarta-feira, 21 de março de 2012

O medo da morte

Afinal, o que é que tanto nos incomoda, preocupa ou amedronta diante da inegável certeza de que um dia encararemos a cara feia da morte?

São os planos que deixaremos inacabados? É não poder mais fazer o que gostamos ou nunca mais estar com aqueles que amamos por toda a vida? É o medo do que vem a seguir, ou de que nada a venha a seguir?

Deixar de existir sempre me pareceu o mais tão trágico aspecto da morte. Tão trágico quanto curioso, tenho que admitir. O mundo segue, mas você não. É inconcebível. Viramos mera lembrança de quem nos conheceu, até que eles venham a morrer também e aí seremos parte de um passado sem testemunhas, até que nossa existência possa servir no máximo para algum descendente conquistar uma dupla cidadania no futuro.

Desconsiderando toda a carga filosófica do tema, o simples ato físico de morrer, por si só, já me incomoda o suficiente. Parar de respirar. Os cinco sentidos nos abandonando enquanto a mente nos oferece algum devaneio que nos tire a consciência do fim, caso a morte não nos alcance de forma abrupta.

Temos certeza da morte, mas não sabemos quando iremos morrer e por isso planejamos coisas. Coisas que nos farão detestar nossa morte tanto quanto a dos nossos familiares, amigos e ídolos. E jamais nos acostumaremos com a ideia de ter nossas empreitadas interrompidas.

O que vem primeiro: o medo ou o ódio da morte? Com qual destes sentimentos é menos doloroso conviver?

Assim como este texto, tudo que a morte nos deixa são perguntas e mais perguntas.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Em paz


Nada como poder recorrer ao infinito calendário de efemérides sempre que os assuntos começam a rarear na mente do blogueiro. Se há uma semana fui salvo pelo Dia da Mulher, hoje o Dia da Poesia vem salvar este blog do inferno da desatualização.

Não sou especialista em poesia. Não sou especialista em nada, é verdade, mas em poesia passo ainda mais longe. Mas sei recitar por aí uma meia duzia de poemas que gosto bastante, principalmente do Augusto dos Anjos e do Manoel de Barros, meus dois poetas preferidos.

Costumo demorar uma semana para decorar um poema a ponto de recitá-lo com segurança. O último que aprendi foi até aqui o mais difícil (creio que seja dos mais fáceis para quem é do ramo), mas também é dos mais belos que já conheci. Chama-se Em paz, e é de autoria do poeta mexicano Amado Nervo (1870-1919). Ei-lo:

Já bem perto do ocaso, eu te bendigo, ó Vida,

porque nunca me deste esperança mentida,

nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.


Porque vejo, ao final de tão rude jornada,

que a minha sorte foi por mim mesmo traçada;

que, se extraí os doces méis ou o fel das cousas,

foi porque as adocei ou as fiz amargosas:

quando eu plantei roseiras, eu colhi sempre rosas.


Decerto, aos meus ardores, vai suceder o inverno:

mas tu não me disseste que maio fosse eterno!

Longas achei, confesso, minhas noites de penas;

mas não me prometeste noites boas, apenas,

e em troca tive algumas santamente serenas…


Fui amado, afagou-me o Sol. Para que mais?

Vida, nada me deves. Vida, estamos em paz!


quinta-feira, 8 de março de 2012

8 de março, dia da gratidão

8 de março, vocês sabem, não deveria ser o Dia Internacional da Mulher. Pois não há homem que se preze que não dedique todos os seus dias a uma ou a tantas mulheres quanto for possível dedicar-se.

8 de março, para este blogueiro e todo e qualquer homem de bem, é tão somente o Dia Internacional do Agradecimento à Mulher Por Todo o Encantamento que Sua Presença em Nossas Vidas Proporciona.

É o dia de celebrar todas as fofinhas irresistíveis tipo Renata Ceribelli (antes do Medida Certa); as gostosas tipo Shakira; as lindas tipo Scarlett Johansson; as mulheres perfeitas tipo Jennifer Aniston; as de voz rouca tipo Natália Lage; as talentosas tipo Adele; as MILFs (ver no Google) tipo Patrícia Poeta; as cerebrais tipo Márcia Tiburi; as bravas tipo Marina Silva. E só não elaboro a lista com mulheres do meu convívio cotidiano pois não escaparia de cometer injustiças imperdoáveis.

Uma inegável vantagem que o Jornalismo me trouxe, desde a faculdade, foi a possibilidade de ter e conviver com muitas colegas e amigas mulheres, em sua grande maioria bonitas, inteligentes e espirituosas. E o convívio com mulheres de tais predicados, aí independendo a área de atuação, é um presente absolutamente sem preço.

Agradeço às mulheres pela certeza de que, todo santo dia, um olhar, uma frase, um gesto, um beijo de mulher irá fazer valer a pena ter saído da cama em uma manhã preguiçosa.

Agradeço às mulheres pela certeza de que a cada fim de tarde, durante a caminhada na Avenida Mauá, pelo menos um belo rosto querendo ficar suado ou um shortinho harmonizado com coxas quase roliças me farão querer dar mais uma volta para ter o replay do lance, e que meu dia será um pouco mais feliz assim.

Sem ser necessário prolongar esta crônica de fim de tarde, quando tanto já foi lido e o assunto já cansou, desconsidere o amigo leitor a obviedade biológica da frase e concorde comigo: Que ambiente inóspito seria este mundo sem as mulheres.