quarta-feira, 30 de março de 2011

Nostalgia digital

Aposentei meu primeiro pen drive há pouco mais de um ano. Tinha memória de 1gb e nem era um pen drive de verdade, mas sim um ex-MP3 player, convertido em pen drive depois de estragar. E que ainda foi substituído por outro ex-tocador de música, de 2gb e trajetória semelhante. Após outras experiências, só no ano passado fui ter um pen drive de verdade, de 4gb, que me acompanha até hoje.

Pois foi agora há pouco, remexendo em gavetas cujas tralhas desde a última mudança não viam alguma luz, que encontrei aquele primeiro pen drive improvisado, já coberto de poeira, denunciando a condição de aposentado. Na hora soube que era inevitável ver quais arquivos restavam dentro dele, coisas que há um ano certamente eram importantes, mas que hoje podiam restar esquecidas em uma espécie de depósito eletrônico. Nascia nesse momento a nostalgia digital.

Fui direto na pasta “Músicas”. Encontrei apenas um arquivos em MP3, que logo identifiquei porque estava ali. Era a música Energy, da banda The Apples In Stereo, usada como trilha em um programa de rádio na época do Portal3, meu primeiro estágio. Os ex-colegas daquela época haverão de lembrar como eu cantarolava o refrão dessa música – trilha de um comercial da Pepsi - o tempo todo.

Algumas crônicas estavam soltas no depósito, como folhas separadas de um caderno qualquer. Os arquivos nem tinham os títulos das crônicas, mas sim o argumento de cada uma: "10 motivos para conhecer São Chico”, “Saudade”, “sobre Tom Waits”. E tinha até um currículo, que me permitiu, ao ler todas aquelas informações defasadas, matar mais um pouco da saudade de quem eu mesmo era há pouco mais de um ano.

A pasta TCC, onde achei que encontraria os primeiros fichamentos do trabalho de conclusão, os primeiros esboços, artigos em formato PDF, para minha surpresa, estava vazia. Já havia jogado fora, talvez em alguma mudança de pen drive. Ao contrário de tudo o que some no mundo material, no depósito digital não temos nem em quem colocar a culpa pelo que desaparece.

O resto é resto: Photoshop CS3 portable, uma reportagem da Piauí copiada no bloco de notas, legenda de filme e alguns artigos retirados da internet e copiados no Word, que nunca cheguei a ler.

Como toda gaveta que abrimos depois de muito tempo, também esse lugar em que despejamos nossas coisas do mundo digital, quando abrimos, trazem muitas lembranças. Como toda a gaveta, lembranças boas. Daquilo que, por algum motivo, não jogamos na lixeira.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Nada pior do que tarde demais...

"Lindo" não é o adjetivo mais comum para classificar qualquer texto de Charles Bukowski, o mais maldito dos escritores considerados malditos. Mas o beberrão sacana e pornográfico também tem seus momentos de puro lirismo. Sem deixar de lado a mesma sabedoria das linhas mais sujas que escreveu.

Por isso, só posso dizer que as linhas abaixo não formam nada menos do que um lindo poema. Feito este intróito, vejam que beleza o poema abaixo, livremente traduzido por este blogueiro (posto o original nos comentários).

Oh Yes

há coisas piores do que
estar sozinho
mas muitas vezes leva-se décadas
para percebê-las
e na maioria das vezes
quando você faz
é tarde demais
e não há nada pior
do que
tarde demais.


quarta-feira, 23 de março de 2011

Eles voltaram: 10 blues para o seu outono

Sucesso absoluto em 2010, a explosiva lista de Blues Para o Seu Outono está de volta, republicada, contemplando os novos leitores que ganhamos nos últimos tempos.

Já dizia Janis Joplin, que "o Blues nada mais é do que sofrer por algo que não se tem". Nestes dias de friozinho contemplativo, vamos chorar as mágoas com a poesia e o ritmo dos grandes mestres do Blues.

1 – Gamblers Blues – do grande Lightnin’ Hopkins. Permitam-me dizer, nenhum bluesmantocou violão como ele (pelo menos entre os que não venderam a alma na encruzilhada). Esta música tem uma introdução de violão que fiz questão de aprender nas primeiras aulas com o mestre e amigo Luis Fernando Herrmann. E a voz de Hopkins é daquelas perfeitas para uma noite de frio, chuva, café, fogão a lenha, nostalgia. Ouvir.

2 – Hoochie Coochie Man – clássico de Willie Dixon, o maior compositor da história do Blues, sem discussões, gravada originalmente por Muddy Waters.Uma das frases de guitarra mais marcantes da história do blues, dobrada por uma harmônica que é a cara do blues. Esta versão é - desculpe o termo pra lá de antigo - matadora. Ouvir.

3 – Little Red Rooster –Traduzida livremente como “galinho vermelho”, esta também é de Willie Dixon, gravada originalmente por Howlin’ Wolf. Incluo na lista por ter sido aquela que me fez gostar de blues. Para ser preciso, foi com a gravação do Rolling Stones no álbum Flashpoint, com participação do Eric Clapton. É a que entra na lista. Ouvir.


4 – I Just Want to Make Love to You – Todas as (muitas) gravações dessa música me agradam. Certamente, porque a música é boa mesmo. Dá pra escolher a versão de Muddy Waters, de Etta James, do Chuck Berry, é só procurar. Aqui, mando a de Etta James, para ter uma voz feminina (e que voz!). Ouvir.

5 – Love in Vain – Composição de um dos pioneiros do Blues, o lendário Robert Johnson. A letra é de um drama impossível de passar batido. Algo como o cara que seguiu a amada até a estação e ficou aos prantos ao ver o trem partir, achando que todo o seu amor foi em vão. A versão original, gravada por Robert Johnson em 1937, merece ser preservada nesta lista, por raiva da versão dos Rolling Stones - uma delas, a do Stripped, de 1995 – que me mostrou que eu nunca seria um bom tocador de Blues no violão. Ao contrário do meu amigo Angelo Casara, que a executa com perfeição. Ouvir.

6 – They call it Stormy Mondayde T-Bone Walker, é a letra de Blues mais inspirada que eu conheço. Em primeira pessoa, o narrador fala simplesmente de uma tristeza difícil de traduzir e exemplificar. É o lamento do Blues e pronto. Que dura a semana inteira, até que no sábado o cara sai para tocar e se livrar de todos os problemas da dura vida do homem abandonado pela mulher. A interpretação de Eric Clapton, no álbum The Blues, de 1990, é incrível. Ouvir pt.1 Ouvir pt.2

7 – The Spy – Poesia pura neste blues do The Doors. O primeiro verso já carrega uma imagem incrível, daquelas que só Morrison saberia criar. Algo como “eu sou o espião na casa do amor. Eu sei os sonhos que você está sonhando”. Também uma das melodias mais bonitas cantadas pelo poeta maior do Rock. Na cinebiografia que leva o nome da banda, Morrison (Val Kilmer) cantando os versos de The Spy para Pamela (Meg Ryan) é uma das melhores cenas do filme. Ouvir.

8– Smokestack Lightnin’ – de Howlin’ Wolf, de 1951, um dos intérpretes mais peculiares do Blues. É dele mesmo a versão mais conhecida desta música. O melhor aqui é o clima sombrio criado pelos uivos em falsete de Wolf. Clima que o Aerosmith desconsiderou quando gravou esta Smokestack no seu MTV Unplugged. Apesar disso, a versão deles é boa também. Mas aqui mantenho a do Lobo Uivante. Ouvir.

9 – I Can’t Quit You BabyOutra do Willie Dixon, gravada originalmente por Otis Rush, mas celebrizada pelo Led Zeppelin, em 1969. Daqueles blues beeeem arrastados, impossível de ouvir em momentos de agitação, mas perfeitos para as horas mais calmas, ou aqueles em que buscamos ficar mais calmos. Mais contemplativos também. Ouvir.

10 – Champagne and Reefer – Na letra deste Blues, Muddy Waters (dia desses um amigo malandro perguntou se eu conhecia o Águas Barrentas) pede "champanhe de manhã, e um baseado, pra ficar bem chapado". A melhor versão que já ouvi está no recente DVD Shine a light, dos Rolling Stones, onde a banda recebe o espirituoso e craque guitarrista Buddy Guy para cantar e tocar junto. Ouvir.

domingo, 20 de março de 2011

Feliz estação nova

Acabou, amigos. O longo e tenebroso verão acabou. Espero que os partidários da estação tenham aproveitado ao máximo, que tenha valido cada gota de suor e cada noite mal dormida.

A partir de agora, tudo é outono. Tudo são casaquinhos do avô, café passado com trilha sonora, cobertores que parecem ter sido feitos sob encomenda, de tão aconchegantes, mulheres cada vez mais belas, mostrando todo o bom gosto, a elegância e belos sorrisos.

Outono. Volto-me novamente para o blues e para o jazz, que na minha casa pouco se dão com o verão, por pura incompatibilidade de gênios. No verão ouço mais samba, rock e samba-rock. Sons que reidratam, repõem a energia que o calor consome. Agora, quero só a sossegada contemplação outonal por um bom tempo. Quero ler o dobro de livros em relação ao verão.

Percebo as pessoas mais calmas no outono. Agitação pra quê? Sintamos a cordialidade aflorando pelas ruas novamente, agora que o nervoso verão se foi. Vamos matar a saudade dos pratos quentes. Vou ali preparar uma sopa e já volto.

Sei que pego pesado com o verão, que, afinal, nos dá também algumas alegrias, como os vestidos curtos e esvoaçantes e a cerveja rigorosamente gelada. Mas peço um voto de confiança, e podem me cobrar daqui três meses: começa agora nosso auge de felicidade em 2011.

sábado, 19 de março de 2011

Lembre de alguém que...

A imagem acima é uma dessas que estão em moda nas redes sociais, em que associamos amigos (linkando seus perfis na rede a algum dos ítens) a alguma espécie de símbolo. Em uma delas,por exemplo, escolhemos qual amigo mais se assemelha a determinado personagem dos Simpsons, por exemplo.

Esta que trouxe para o blog, em especial, além de ser simpática, sugere um bom exercício para pensarmos naquelas pessoas importantes, que tornam a nossa vida igualmente relevante:

É simples

Lembre (na minha livre adaptação do original tag - algo como "etiquetar", no contexto das redes sociais) de alguém que...

...mudou tua vida
...é realmente alto
...é o teu irmão não-biológico
... gosta de música boa
...é a pessoa mais esperta que tu conheces
...fala muito
...é um velho amigo
...você sempre pode contar
...tua irmã não-biológica
...sempre te fará rir muito
...é um salva-vidas
...fica bem com roupa listradas
...é um novo amigo
...tu sentes saudade (ou sente falta)
...tu podes confiar
...é um bom amigo
...tu viajarias pelo mundo com
...tu tens medo
...tem belos olhos
...sabe fazer uma boa comida

quarta-feira, 16 de março de 2011

Um ano em doze lembranças

Daqui a 10 dias, o Andreinews, a leitura que você normalmente não leva para o banheiro, completa o seu primeiro ano de vida. Só um ano, mas o suficiente para que o blogueiro não imagine mais sua vida sem esse blog.

É, amigos, fechamos a primeira temporada com números bem bacanas. Foram até aqui 164 postagens, o que, acredito, dê uma média de uma a cada dois dias e algumas horas, e mais de 17 mil acessos, sendo que nem todos foram da mãe do blogueiro.

Claro que, muito mais importante do que os números, são os comentários (não só postados no blog) que mais fazem a diferença e animam o blogueiro a seguir com essa ideia que às vezes beira a escravidão.

Para quem não acompanha desde o início a brincadeira, segue abaixo uma lista com12 postagens, uma de cada mês, e que estão entre as mais lidas e/ou comentadas do blog, além de figurarem entre as favoritas do autor.

- Um carinho na terrinha (31 de março)
- Saudade crônica (23 de abril)
- Manias, meras manias (6 de maio)
- O dia em que me revoltei (16 de junho)
- Meu pequeno grande amigo (5 de agosto)
- Argumentos encalhados (21 de setembro)
- As roupas caseiras (2 de outubro)
- Eis o verão (4 de novembro)
- Contar histórias (13 de dezembro)
- Expectativas pra quê? (27 de janeiro)
- O silêncio na amizade (25 de fevereiro)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Só porque ontem foi o Dia da Poesia


A poesia está guardada nas palavras --
é tudo que
eu sei.

Meu fado é o de não saber quase tudo.

Sobre o nada eu tenho profundidades.

Não tenho conexões com a realidade.

Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.

Para mim poderoso é aquele que descobre as

insignificâncias (do mundo e as nossas).

Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.

Fiquei emocionado e chorei.

Sou fraco para elogios.

Manoel de Barros


domingo, 6 de março de 2011

A banda

De algumas passagens da vida, só saberemos da real importância que tiveram muito tempo depois. Isso se nos dispusermos a descobrir, naturalmente.

Exemplo: Tive uma banda de rock na adolescência. Não resistiu a essa fase. Ficou lá no início da década passada e hoje repousa na memória. Mas finalmente vejo que aquela singela aventura roqueira influenciou em cada aspecto do que é minha personalidade hoje. E me deixou um valioso legado afetivo.

Quando se tem uma banda, se faz muitos amigos. Sempre há um monte de bandas iniciando ao mesmo tempo, e com isso abre-se um novo círculo social, assim como a turma da escola, da vizinhança, do futebol (mais tarde agregamos a turma do bar, do trabalho, da faculdade).

O adolescente que toca (ou canta) em uma banda dificilmente afunda na timidez quando adulto. Subir em um palco com muito mais pessoas para lhe julgar do que para aplaudir requer uma cara de pau que poucas situações irão exigir futuramente.

A banda ensina a importância da repetição, o valor da insistência incansável quando se busca melhorar em algo. As melhores bandas que conheço nunca estão satisfeitas com o som que tocam.

Ter banda também é ter alguns amigos unidos como jamais estariam; É ter aquela impressão de proximidade com nossos ídolos; É investir tempo, dinheiro e energia sem esperar retorno. E é mais tarde aprender que, de alguma forma, tudo valeu a pena.