sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Insônia

Tenho minhas noites de insônia. Muitas, até. Mas não diria que sofro de insônia, pois, embora suas consequências atrapalhem um pouco o meu dia seguinte, ela me rende momentos muito produtivos, em que muitas das coisas que o dia obscurece, curiosamente,de noite se esclarecem.

Bons textos meus são frutos de noites insones. Forjados no celular, em folhas de cadernos antigos ou até no verso de documentos importantes.

Também tomo decisões importantes enquanto o sono nãose apresenta. Geralmente esqueço delas no dia seguinte, mas ainda assim, são importantes, definitivas, dou novos rumos para minha vida esperando pelo sono. E quando ele vem, leva embora.

Vejo o filme da minha vida quase todas as noites. E sempre parece um filme novo, por mais que se repita.

Não sei vocês, mas a euforia me deixa mais insone que a depressão. Quando estou triste, durmo fácil. Não me empolgo para fazer planos, lembrar bons momentos, tomar decisões, nem escrever. Se estou feliz, fico inquieto, de mente (sem trocadilhos) e corpo. E então,custo a dormir.

Dormir é bom. E com preliminares é ainda melhor.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pequenas exigências

Costumo dizer que tudo o que exijo de uma cidade são um ou dois bons bares e uma ou duas boas padarias. Não mais do que isso. Sou pouco exigente. Também não morei em muitas cidades, apenas três – São Chico, São Leopoldo e Bento -, e, no que diz respeito a estas questões, tenho pouco do me queixar. Sempre tive um bar pra socializar, uma padaria para me encher de doces.

Mas há dias venho pensando que vale acrescentar aí uma última exigência, que até agora só Bento conseguiu cumprir: um bom espaço para a vida cultural da cidade acontecer. Nada demais, nada muito grande e complexo, nada muito caro.

Queria que em todo lugar tivesse um espaço onde, pelo menos, o grupo de teatro pudesse ensaiar, as bandas, tocar, onde professores de arte pudessem dar suas aulas, fotógrafos e pintores organizassem exposições, e, eventualmente, ocorresse por lá eventos como feira do livro, oficinas diversas, palestras, coisas assim...não ia ser bacana? E não me parece tão difícil assim. Teria o tamanho que cada cidade comportasse.

Em menos de dois meses que estou por aqui, já vi coisas muito bacanas na Casa das Artes - fundação ligada à Secretaria de Cultura de Bento - e de diversas áreas: shows musicais grandes, médios e pequenos, lançamentos de livros, exposições de fotos, oficinas de todos os instrumentos possíveis (na Semana da Música), apresentação de orquestra, exibições de filmes, e olha que saio pouco de casa.

Difícil aplicar tudo isso a outra cidade, pois é fato que até uma Secretaria de Cultura não é algo comum (já testemunhei a tentativa de criação de uma, que não foi nada bem sucedida). Geralmente, é uma secretaria que vem associada a uma infinidade de outros nomes: “Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Lazer”, por exemplo. Isso sufoca e inibe a cultura, só pode ser ruim. Talvez o primeiro passo esteja justamente aí: em cada município, dar à cultura um nome próprio. E depois um local.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

clicBento já está no ar!

Provando que este jornalista não vive apenas de escrever para o seu blog, compartilho com os amigos leitores minha nova empreitada (que já anuncio aqui há tempos), que é o clicRBS Bento Gonçalves: http://www.clicrbsbentogoncalves.com.br

Acessem, leiam, saibam o que que rola nesta cidade tão bacana onde passo parte dos meus 20 e poucos anos. Bom fim de semana a todos!


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Minha maior sorte

Dia desses, conversando com um amigo (já notaram que sempre começo assim?), contava a ele sobre tudo o que costumava fazer quando ia para casa (São Chico). Principalmente a rotina de encontrar velhos conhecidos, matar a saudade, essas coisas que pra mim são tão comuns. Foi quando, em notável tom de lamento, ele disse que me invejava, pois essa era uma experiência que fazia muita falta em sua vida: a de ter amigos de infância. Não um ou dois, que até os tinha, mas vários, uma turma. Como o blogueiro aqui tem.

Atribuiu a isso o fato de ter nascido e se criado na cidade grande, onde os vínculos são mais difíceis de serem mantidos. Dizia que aqueles nascidos e se criados em capitais geralmente perdem algo importante, esse relação fácil e quase inevitável com os amigos de infância. Por vários motivos: ou moram longe, ou mudam de escola com maior freqüência, ou se afastam depois de crescidos. E eu ainda complementei dizendo que, no interior, até se afastar é difícil, pois estamos sempre esbarrando nos velhos conhecidos, querendo ou não.

Vivi exatos 87% da minha vida na minha cidade natal e querida, de 20 mil habitantes. E desde que saí, não passei mais do que um mês sem visitar o que deixei por lá: mãe, família, amigos, meus gatos, até lugares queridos. São partes de mim, da mesma forma que acredito ser parte deles. São aquilo com que me importo, minha preocupação frequente, onde sei que posso sempre buscar um pouco mais de felicidade.

Não digo que lá é que fui mais feliz, que pra lá quero voltar a viver, que estou triste aqui. Algumas coisas daqui de fora não existem lá, e são importantes também. A felicidade está sempre nas medidas certas, também entre a saudade e o reencontro. Só digo que não vivo sem essas ligações.

Sei que posso estar enganado e vir a receber muitos exemplos contrários. O orgulho de ser provinciano pode fazer com que eu ache meus Campos de Cima da Serra melhor em tudo. Mas tão logo ouvi aquela confissão de meu amigo, meu ego inflou de felicidade, porque ia de encontro com algo que sempre pensei. Essa incomparável sorte de pertencer a uma pequena comunidade. E não vejo como trocaria isso por qualquer outra coisa na vida.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Um reencontro emocionante

Não sei se os amigos leitores já ficaram sabendo, mas, de qualquer forma, vale muito registrar por aqui o inesperado reencontro entre Axl Rose e o ex-baixista do Guns N' Roses Duff McKagan, na última quinta-feira, em Londres. O local foi a O2 Arena, curiosamente, o mesmo que marcou o reencontro do Led Zeppelin, em 2007.

Para mim, só assistir pelo Youtube já foi emocionante. Sei que não sou o único por aqui que curte a banda, e, consequentemente, não o único a querer vê-los juntos novamente. Pena que, principalmente pelas brigas entre Axl e Slash, parece quase impossível. Mas para os fãs, imaginar, por si só, já vale a pena.

sábado, 16 de outubro de 2010

Meus livros preferidos

9º – A sangue frio, de Truman Capote

O chamado “jornalismo literário” é a minha literatura preferida. E talvez o horizonte do jornalismo que mais tenha me prendido à profissão (e se eu um dia voltar aos bancos universitários, provavelmente será para uma especialização nesta área). É o gênero que, entre outras coisas, abraça o chamado livro-reportagem e/ou romance de não-ficção. É a reportagem feita com elementos da literatura, ou a literatura feita em cima de uma investigação jornalística.

São histórias que, por diversos motivos, não cabem nas páginas de um jornal ou uma revista (principalmente pro serem boas demais para cair no ostracismo no dia seguinte). E quando o escritor é bom, geralmente supera qualquer obra de ficção.

No Brasil, os livros do Caco Barcellos (Rota 66 e Abusado) são bons exemplos desse gênero. No mundo, um dos grandes momentos, sem dúvidas, é a publicação de A Sangue Frio (surpreendentemente boa tradução do título original In Cold Blood), do norte-americano Truman Capote.

Muitos escritores consagrados, dos melhores mesmo, já beberam da fonte do jornalismo literário, a maioria por ter começado a carreira como jornalista. Gabriel García Márquez (Notícia de um sequestro, Relato de um náufrago, etc), Norman Mailer (A Luta), Graciliano Ramos (Os sertões), entre outros.

Em A Sangue Frio, o grande barato foi Capote ter conseguido fazer a maior tempestade de um aparente copo d’água. A partir de uma pequena notícia de canto de página de um jornal – sobre uma família assassinada friamente em uma vila americana – ampliou o assunto até construir uma das maiores reportagens da história - provavelmente a mais bem escrita, pela qualidade do seu texto. E abriu caminhos para que outros autores fizessem o mesmo. Buscassem no aparentemente banal, histórias extraordinárias.

A Sangue Frio é de tirar o fôlego. É daqueles de ler sem parar (poucos livros são capazes de me fazer ler compulsivamente), principalmente pelo ritmo que Capote imprime à angustiante narrativa, seja quando escreve pela perspectiva dos assassinos em fuga, seja quando assume o ponto de vista dos policiais, e, principalmente, quando reconstitui o momento do assassinato dos cinco membros da família Clutter.

Não é um livro bom apenas por este ponde-de-vista jornalístico. É tão bom quanto os melhores romances policiais. E absurdamente real.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Enquete nova chegando

Aproveitando a inquietação manifestada no Twitter pela amiga Camila Dalzoto (@kkdalzoto), trouxe pra o Blog, em forma de enquete, a polêmica questão: o que fazer, viver ou juntar dinheiro?

No próprio twitter, já manifestei meu voto: juntar dinheiro vivendo. Ou seja, voto nulo...

Votem aí!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Eu, um viking

Em breve, terei uma boa explicação para a foto abaixo.

Bom fim de semana aos amigos leitores.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Meus 10 livros preferidos

10º - Trilogia Suja de Havana, de Pedro Juan Gutiérrez


Dos autores que compõem a lista dos livros que mais me marcaram até aqui, 24º ano de vida deste blogueiro,o cubano Pedro Juan Gutiérrez talvez seja o menos consagrado, o menos “de domínio público”. Só é conhecido por quem já o leu, ao contrário de um Gabriel García Márquez, ou um Truman Capote, por exemplo, que são ícones que transcendem seu universo de leitores. Não que seja uma raridade, só não é dos mais populares. Nem poderia ser.

Trilogia Suja de Havana foi o primeiro livro do PJG que li, e acredito que tenha escolhido pela capa, pelo nome, não lembro. A primeira impressão que tive, foi a de estar lendo uma versão latinoamericana de Charles Bukowski, um dos meus autores preferidos, que também trata de temas sórdidos, que vão de bebedeiras infernais ao cara trabalhar recolhendo defuntos na rua.

Não vou resenhar o livro, principalmente por não saber fazer isso. Assim como não sei contar porque acho um filme bom ou ruim, E também porque uma boa resenha dá pra achar por aí, como nesse blog aqui. Falando mais sobre o que fez com que eu gostasse tanto de Trilogia, acho que foi a forma como todo o drama narrado por Gutierrez faz qualquer vida mediana parecer feliz. Ou melhor, faz com que consigamos reconhecer a felicidade latente. Juro que, muitas vezes melhorei meu astral só pensando que tudo poderia ser pior, como o autor me mostrou narrando suas experiências enquanto um desempregado já muito além da falência e da perda daquilo que consideramos dignidade.

Escrevendo sobre o submundo da violência, do tráfico, das doenças, das privações, PJG mostra que até o tédio já é uma felicidade. E como não é raro estarmos entediados, achando tudo um saco, e aí que a obra do cubano, em especial Trilogia, ajuda a viver.

Passagens:
"Sexo não é para gente escrupulosa. Sexo é um intercâmbio de líquidos, de fluidos, de saliva, hálito e cheiros fortes, urina, sêmen, merda, suor, micróbios, bactérias. Ou não é. Se é só ternura e espiritualidade etérea, reduz-se a uma paródia do que poderia ser. Nada" (essa é de uma entrevista do autor e está na contracapa do livro, não da obra em si)


"Aí me ocorreu fazer aquilo que eu gosto sempre: entrar nela por trás e, de pé, fazer com que ela se dobrasse da cintura pra cima. Mas quando ela fez o que eu pedi, suas nádegas se abriram e do cu saiu um grande fedor de merda fresca. Tinha cagado. Sou porco, mas nem tanto. Aquilo me baixou o pau e me deu uma fúria terrível. Num segundo, fui invadido pelo ódio:
- você está cagada, está com a bunda fedendo a merda!
- eu?
- Caralho, você cagou. É uma porca.
- Mais porco é você! Com esse pau fedido, e eu chupei.
- Não é a mesma coisa.
- É igual!
- Você é uma porca ocm esse cu cagado.
- E você é muito fino. Até murchar esse pau. Você nasceu no meio da merda, não se faça de fino.
- Mas não tenho o cu cagado." (Pág.223. Literatura também é isso.)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O incrível caso do sumiço dos atacantes

Alguém lembra o último atacante – atacante mesmo – formado nas categorias de base do Grêmio? Há tempos esta questão me incomoda: o clube revela ótimos meiocampistas (Lucas, Anderson, Carlos Eduardo, Rafael Carioca, Douglas Costa), mas é incapaz de formar um goleador, um atacante de definição, aquele que livraria a direção de investir o que tem e o que não tem para ter um atacante à altura do clube.

Repassando de memória os últimos planteis do Grêmio ano a ano, vejo que, com boa vontade, dá pra considerar Cláudio Pitbull a última revelação tricolor com alguma vocação ofensiva. No ano do rebaixamento, 2004, foi ele um dos únicos a arrancar alguns aplausos da torcida, pelos gols que fazia.

Antes mesmo do Pitbull, não tivemos nada muito animador. Vá lá, consideremos Ronaldinho um atacante, só pra não ficar tão feio e eu não ter que ir mais longe ainda nessa busca. E pós 2004, lembro apenas de jogadores medianos como o rápido Marcelinho (hoje no Avaí) e o Everton (que passou pelo Inter e agora está no Bahia). E creio que até chegarmos a Bergson, em 2010, era isso, não?

Lembro que tínhamos até uma grande promessa, o Fernando Genro, neto do governador eleito e filho da Luciana, goleador na adolescência, mas que, até onde eu sei, já desistiu do futebol. Outro candidato a novo Jonas, o Rafael Martins, que empilhava gol nas jovens defesas adversárias, também não deu em nada. Para 2011 também não se fala em ninguém, e olha que os jornalistas esportivos adoram dar uma de olheiros.

Menos mal que nesses anos todos bons atacantes têm sido contratados, como o Rômulo, em 2006, o Maxi López, em 2009, e até o Jonas, entre idas e vindas. Mas quando o Grêmio terá, enfim, um atacante para chamar de seu?

sábado, 2 de outubro de 2010

As roupas caseiras

Abençoadas sejam as roupas de ficar em casa. Estas que convivem com a nossa preguiça, com a nossa moleza pós-expediente, com a nossa ressaca de fim de semana.

Louvado seja o casaquinho do avô, a calça do colégio, a camiseta da turma - que pode ser 81, 82, 301, 303, formandos de 2000, 2001, 2003. Camisetas que insistem em encolher, nunca somos nós que engordamos.

Gosto de blusas com cheiro de mãe; Camisetas com mancha de café; Calça com bolso furado; Bermuda que não fecha na cintura; Moletons que perderam a cor.

Minhas roupas de casa tendem a ser cinzas. Agora mesmo, estou de cinza. Cinza-doméstico daria um bom nome de cor.

As vestimentas caseiras, ao contrário de nós, gostam de domingo. Costuma ser o dia em que elas finalmente vêem a luz quase ao ponto de cegá-las, em contraste com a escuridão do guarda-roupa e o sufocamento pela pilha de roupas que a esmagam, já que elas estão lá embaixo.

De tanto conviver com chinelos, pantufas e meias, as roupas caseiras têm vaga lembrança de tênis ou sapatos. Não gostam de bebida, preferem televisão. Não têm amigos, preferem ficar na frente do computador. Não gostam de sair, preferem o aconchego do lar, junto do dono.

São roupas de estimação.