terça-feira, 31 de maio de 2011

Bons momentos com Woody Allen

Tenho folheado alguns livros que há tempos não viam qualquer espécie de luz. Bom para dar uma oxigenada, tanto nos livros quanto na memória. E quando fui reler os trechos que havia sublinhado do ótimo Que Loucura!, do Woody Allen, achei que iria enfartar de tanto rir. Compartilho abaixo alguns deles:

...lembro-me de ter olhado o relógio. Eram precisamente 4h15 da manhã. Tenho certeza disto porque nosso relógio está parado há 21 anos nesta hora.

Eu e minha filha o levamos à ópera em Milão. No meio do segundo ato, Needleman debruçou-se no balcão do camarote e caiu no poço da orquestra. Orgulhoso demais para admitir que tinha sido um acidente, passou a ir todas as noites na ópera e a cair lá de cima.

Quando morreu, Needleman estava, como sempre, trabalhando em diversos projetos. Um deles era a criação de uma nova Ética, baseada em sua teoria de que ‘os bons costumes são não apenas mais morais, como podem ser praticados por telefone’”.

E onde fica a ciência quando alguém lhe propõe os eternos mistérios, tais como: De onde se originou o cosmos? (O próprio, não o time de futebol.) Há quanto tempo existe? A matéria se iniciou com uma explosão ou por ordem de Deus? Se a segunda hipótese é verdadeira, por que não começou Ele o serviço duas semanas antes, ainda a tempo de curtir o verão?

O Dr. Brackish Menzies, que trabalha no Observatório de Monte Wilson, ou está em observação no Hospício de Monte Wilson (sua letra não é muito legível), afirma que, se tais seres (extraterrestres) viajassem à velocidade da luz, levariam milhões de anos para chegar à Terra, e que, a julgar pela má qualidade das peças atualmente em cartaz , tal expedição dificilmente valeria a pena.”

domingo, 29 de maio de 2011

Minha alma gêmea (lê romances pornográficos)

Livros catados pelos sebos da vida sempre reservam alguma surpresa. Além de comprar obras de valor inestimável por cinco ou dez pilas, levamos de brinde uma que outra maravilha rabiscada pelos donos anteriores.

Já há algum tempo, arrematei O Muro, de Jean Paul Sartre, em um sebo de São Leopoldo. Na folha de rosto, a pequena Sandra – criança, como a letra denuncia - devia estar brincando de completar títulos de livro. Escreveu na folha de rosto: “do meu jardim”. Na última página, achando incompletos os dados sobre o autor, Sandra acrescenta lindamente ao lado do ano de 1980(!): “omde acomteseu a guerra mundial”. Fico imaginando o que a pequena Sandra, alfabetizada a obras existencialistas, poderia estar fazendo hoje em dia.


Os leitores gostam de enriquecer os livros legando suas opiniões, impressões, devaneios para a posteridade. No meu Bom dia para os defuntos, de Manuel Scorza, um leitor sublinhou a frase “Deus dava de ombros desdenhoso”, e arriscou uma piada na margem: “dar de ombros divino”. Socializando, na última página este blogueiro expõe tudo aquilo que pensou sobre o livro: “o capítulo 9 é sensacional”. Um dia alguém há de concordar ou discordar.

Finalmente, o melhor exemplo disso tudo encontrei não em um sebo, mas num exemplar retirado na biblioteca da faculdade. Era A Casa dos Budas Ditosos, pornografia disfarçada do baiano João Ubaldo Ribeiro. Lá pelas tantas do romance, ao lado de uma passagem realmente engraçada, a leitora anota assim: “se você morreu de rir com esse parágrafo, é minha alma gêmea”. E assina embaixo um nome que já esqueci.

Como eu havia morrido de rir com aquele parágrafo, descobri não apenas que almas gêmeas existem, mas também que eu tinha a minha. Não é lindo isso? Quantas risadas estamos deixando de dar juntos, minha alma gêmea e eu? Foi pelo benefício da dúvida que preferi não responder.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Jazz na sexta

Nesta sessão que inicia hoje, este blogueiro emocionado traz toda semana um jazzinho, com breves comentários. A intenção é brindar os amigos apreciadores e, quiçá, atrair novos ouvintes para o gênero.

n.1 - Groovin’ High, de Dizzy Gillespie

Todo clássico do jazz (os standards) já foi regravado à exaustão, por incontáveis músicos, ligados ao gênero ou não. Comparando com o rock, é como se toda banda já tivesse feito uma releitura de Stairway To Heaven ou Smoke On The Water e lançado em álbum.

Groovin’ High, música que dá início a esta sessão, foi composta pelo trompetista Dizzy Gillespie, as bochechas infladas mais famosas e virtuosas do jazz, em 1945, iníco da era bebop, movimento mais legal em mais de um século de reviravoltas de New Orleans ao contemporâneo.

Em uma busca rápida pelo meu HD via Windows Media Player, encontro cinco versões de Groovin’. Trata-se de um jazz rápido e empolgante, que parece feito para trilha sonora de comédia pastelão. Todo vídeo de humor poderia ter um jazz de Charlie Parker (em breve) ou Dizzy Gillespie como pano de fundo.

Abaixo, duas versões deste som. A primeira, com o próprio Dizzy, a segunda, a preferida deste blogueiro, com o saxofonista Lou Donaldson.

Groovin' High - Dizzy Gillespie

Groovin' High - Lou Donaldson

terça-feira, 24 de maio de 2011

Os males da coluna diária

Podem cobrar futuramente, mas duvido que este blogueiro venha um dia a se aventurar no ofício de colunista diário, seja de jornal, site ou blog mesmo.

Sem entrar nos méritos da inspiração e do talento, que também podem faltar a este cronista, o requisito que certamente não cumpro é o desapego pelos meus escritos.

Sou muito apegado ao que escrevo. Lembro de cada título, de cada argumento, de cada frase que já tenha agradado a alguém, de cada comentário Se produzisse 365 textos por ano, como daria atenção a cada um deles? Crônicas são filhos que coloco no mundo. Sou a mãe, o leitor assume a paternidade.

Alguns textos são produtos de semanas de pensamentos, de inúmeras tentativas e erros, e até de desistência temporária, até que retorne a ele após aquela sacada que faltava e que surge inesperadamente. É um ritual dramático e às vezes desgastante (para este que vos escreve. Nada de generalizar).

Todo esse envolvimento faz do texto uma experiência difícil de imaginar enquanto exercício diário sem a impressão de que estaria banalizando o que mais gosto de fazer.

Paulo Sant’Ana, cronista idolatrado por este aprendiz, publicou 16 mil colunas em Zero Hora. As melhores, as mais árduas, para não condená-las à efemeridade da página de jornal, reuniu em três livros. Por três vezes, voltou do sótão com uma caixa cheia, carregando só o que o tempo não estragou. É um apegado ao texto, mas que ocupa os lapsos de inspiração com mais textos, alguns descartáveis. É cronista refém da coluna diária.

O colunista diário tem que ter muito a dizer. Dizendo muito, esquece muito o que já disse. Prefiro esquecer pouco. E não tenho tanta coisa assim a dizer.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Viver de improviso

Gosto demais de não saber o que quero da vida. Que sensação, amigos. Sempre que ela me assalta, não exito em elogiá-la. E durmo melhor depois.

Quem gosta de viver em cima de muitas conclusões, não pode perder de vista que a vida é, acima de tudo, uma invenção. Um improviso, como já ouvi dizer o octogenário poeta Ferreira Gullar, com quem compartilho a crença no poder do acaso que move o mundo.

O maior privilégio que se pode ter é o de inventar a si mesmo, e nisso pode estar nossa certeza de felicidade. Sermos nosso próprio criador e criatura. E a melhor forma de improvisar a vida é impondo a ela o mínimo de delimitações, oferecendo o máximo de opções que se pode prospectar numa noite de quase inverno.

Quanto a mim, confesso que vivo de puro improviso. Não sei por que sou e até quando quero ser jornalista, se um dia escreverei um livro, que livro será esse, quando vou querer ter filhos, onde irei criá-los, se irei aprender francês ou gaita-de-boca. Talvez chegue aos 30 querendo ser professor, aos 40 um fotógrafo, aos 50 um eremita. O certo é que hoje há infinitas possibilidades, e tê-las comigo, jogar com elas, pra lá e pra cá, é inventar a vida.

Somos aquilo que fomos capazes de criar. Somos o rascunho sem direito à arte final. Mas com inúmeras folhas em branco.

terça-feira, 17 de maio de 2011

30 palavras-chave para gostar do frio

Para acrescentar, questionar ou remover a gosto:

Cobertor; Café; Blues; Sopa; Pinhão; Neve; Livro; Filme; Touca; Luva, Manta; Lareira; Chocolate quente; Serra; Neblina (a.k.a cerração); Abraço; Cor cinza; Pratos quentes; Jazz; Cama; Amanhecer; Sofá; Pele; Filosofia; Coisas de lã; Bancos de praça; Solzinho; Fogão a lenha; Turistas lindas

domingo, 15 de maio de 2011

Saldo do Gauchão

Com os dois clubes tendo sido eliminados da Libertadores de forma decepcionante, o menos provável era que no confronto direto fosse revelada uma superioridade muito grande de um dos lados. E o 3X2 para o Grêmio no Beira-Rio, e o 3x2 para o Inter no Olímpico, denotam esse equilíbrio total e justificado.

Parabéns aos colorados. Mas vamos ao Grêmio:

O Grêmio perdeu nos pênaltis, após sete rodadas de cobranças, mas redescobriu nestas finais que tem elementos para formar um time competitivo para o Brasileiro. Sem badalação, mas competitivo, como exige um campeonato de pontos corridos.

Time que pode ter Vilson na zaga ao lado de Rodolfo, que tem um grande volante (Rochemback) e dois meias que se completam (Douglas e Lúcio), e, finalmente, um imprescindível atacante de velocidade (Leandro). E em pouco tempo, estarão de volta Gabriel e André Lima, dois bons reforços em relação ao time das finais. E Escudero pode ganhar novas chances, assim como Fernando.

É preciso reforçar, sem dúvidas. Investir em um bom lateral-esquerdo, pelo menos mais um atacante de área e um reserva para o Douglas. Mas não há motivos para crise no Olímpico. E domingo começa tudo de novo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Preguiça

"Na minha próxima vida, quero ser um gato. Dormir 20 horas por dia e esperar ser alimentado. Sentar por aí lambendo meu cu. Os humanos são desgraçados demais, irados demais, obcecados demais." (Charles Bukowski)

Seria meu gato o Bukowski reencarnado?

domingo, 8 de maio de 2011

Sobre o Gre-Nal

No post de 16 de fevereiro, este blogueiro escalava o Grêmio que considerava ideal para a Libertadores.

Curiosamente, o time tinha a dupla de zaga Vilson e Rodolfo, que finalmente foi a campo no Gre-Nal de ontem, e o seguinte meio-de-campo, que, perdõem a redundância, finalmente foi a campo no Gre-Nal de ontem: Rochemback, Fernando, Douglas e Escudero.

Alguém tem dúvidas de que o técnico Renato leu, ainda que com atraso, o referido post antes de escalar o time que jogou o Gre-Nal?

Brincadeira à parte, é apenas óbvio que um time que joga com Vilson no lugar de Rafa Marques e Fernando no lugar de Adilson tem muito mais chances de ganhar um jogo. Só precisou o acaso de um desconforto muscular e uma suspensão para essa verdade aparecer.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Homenagens

Eis que domingo é o Dia das Mães. Data tão bonita, que nem ficamos tristes por ela cair sempre no domingo. Quem não tem prazer em dar à sua mãe um belo presente? Pode-se questionar o cunho comercial do dia dos namorados, do natal, da páscoa. Mas o Dia das Mães é dia de dar presente e ninguém discute.

Dia das Mães, portanto, e eu adoraria poder escrever aqui uma bela homenagem para a minha, ou a todas. Mas de que forma, se sou assumidamente um péssimo redator de homenagens? Talvez só a poesia me seja um texto tão estranho quanto a reverência.

Desobri isso quando minha própria progenitora, repetidas vezes, pedia-me que escrevesse homenagens em determinadas situações: para pôr no jornal, para ser lida em voz alta, essas coisas. Mas nem com a maior boa vontade - que me é característica em assuntos maternos - saiu uma única palavra.

Sou bloqueado para homenagens, assim como não sei dar feliz aniversário sem recorrer aos eternos clichês. E se sou eu o aniversariante, nada de útil encontro para dizer além de agradecer. Não sei se há relação entre essa três coisas, mas parece haver.

Homenagens me deixam tímido. Assim como Manoel de Barros diz que é fraco para elogios, eu digo que sou fraco para elogiar. Vão-se embora as palavras na hora de expressar como uma pessoa é importante pra mim. Talvez porque é fácil ser superficial, e ninguém quer soar superficial em sua grande ode.

Preciso com urgência de uma oficina criativa. Nem parece que trabalhei por seis meses na Assembléia Legislativa, assistindo diariamente a deputados homenageando a quase todos os vivos e mortos imagináveis.

Não vá seguir o amigo leitor o mau exemplo deste amigo. Elogie gratuitamente, digam às suas mães o quanto elas são importantes para vocês, por mais que elas já saibam. Como minha também sabe, porque elas sempre sabem. Mesmo sem ler nada a respeito.

domingo, 1 de maio de 2011

Amigos e livros

Faço com os meus amigos o mesmo que com os meus livros. Sei onde posso encontrá-los, mas raramente os procuro. A boa sacada não é minha, naturalmente. É do pensador Ralph Waldo Emerson, um cara de boas sacadas que viveu no século XIX e que, se não atribuísse tanta coisa ao poder divino, seria ainda mais recomendável. Ainda assim, vale a pena ler suas idéias sobre amor, intelecto, autoconfiança e amizade, todos temas e títulos dos seus ensaios.

Sobre amigos e livros, a analogia é perfeita. Pouco folheio meus livros já lidos, mas se me falta algum, não paro de olhar para a estante, sabendo que está incompleta, que um espaço está vazio. Com os amigos, dá-se o mesmo. Não costumo ligar, não costumo visitar, não costumo puxar conversa no MSN. Creio que sou um fiasco.

O importante é o amigo saber que não é por falta de interesse que deixo de procurá-lo. Pelo contrário. Como todos sabem, amo demais meus amigos. É para não me sentir banal que modero o convívio. É para preservar do dia-a-dia, que torna tudo enjoativo, minha voz, minhas palavras e até meu silêncio. É por confiar que não serei esquecido, mesmo que ausente, e talvez seja até melhor lembrado assim. E para ser procurado, também.

Outro componente, não tão poético, é a falta de tempo, de oportunidades de reencontro, que a vida impinge. As amizades praticamente rivalizam como todo o resto da nossa agenda. Estamos sempre mudando, e as mudanças tendem normalmente a separar os amigos, raramente a juntá-los. Seria esse o único lado ruim de mudar? Difícil afirmar, uma vez que a mudança também traz novos companheiros, igualmente necessários.

Finalmente, olhar para a estante de livros faz pensar no tempo que resta para reler todos aqueles que mais me marcaram. Nunca releio, mas sei que sempre há tempo. Além disso, não importa quantos volumes novos irei adicionar, eles estarão sempre lá, bem guardados, assim como os amigos. Para me tornar menos incompleto, e por isso não abro mão deles. Ainda que raramente os procure.