Já há algum tempo, arrematei O Muro, de Jean Paul Sartre, em um sebo de São Leopoldo. Na folha de rosto, a pequena Sandra – criança, como a letra denuncia - devia estar brincando de completar títulos de livro. Escreveu na folha de rosto: “do meu jardim”. Na última página, achando incompletos os dados sobre o autor, Sandra acrescenta lindamente ao lado do ano de 1980(!): “omde acomteseu a guerra mundial”. Fico imaginando o que a pequena Sandra, alfabetizada a obras existencialistas, poderia estar fazendo hoje em dia.
Os leitores gostam de enriquecer os livros legando suas opiniões, impressões, devaneios para a posteridade. No meu Bom dia para os defuntos, de Manuel Scorza, um leitor sublinhou a frase “Deus dava de ombros desdenhoso”, e arriscou uma piada na margem: “dar de ombros divino”. Socializando, na última página este blogueiro expõe tudo aquilo que pensou sobre o livro: “o capítulo 9 é sensacional”. Um dia alguém há de concordar ou discordar.
Finalmente, o melhor exemplo disso tudo encontrei não em um sebo, mas num exemplar retirado na biblioteca da faculdade. Era A Casa dos Budas Ditosos, pornografia disfarçada do baiano João Ubaldo Ribeiro. Lá pelas tantas do romance, ao lado de uma passagem realmente engraçada, a leitora anota assim: “se você morreu de rir com esse parágrafo, é minha alma gêmea”. E assina embaixo um nome que já esqueci.
Como eu havia morrido de rir com aquele parágrafo, descobri não apenas que almas gêmeas existem, mas também que eu tinha a minha. Não é lindo isso? Quantas risadas estamos deixando de dar juntos, minha alma gêmea e eu? Foi pelo benefício da dúvida que preferi não responder.
O muro foi uma das coisa mais inpactantes que já li foi o Muro.onde moro não tenho acesso a livrarias onde possa encontra-la.Caso voce tenha uma cópia eletronica e, se puder, mande-me... ficarei grato: aurelio_tf!@hotmail.com
ResponderExcluirGente, achei isso bacana demais... Parabéns pela percepção aguçadíssima, Andrei. E eu aqui, viajando na fantasia, imagino isso virando um filme, ou inspirando um belo romance... Ai, meu Deus! rsrs...
ResponderExcluirGostei, Andrei, mas me permita uma penada a respeito do tal baiano consagrado: ele mescla piada de botequim com pornografia pura. Basta ler O Sorriso do Lagarto, onde a páginas tantas ele descreve, com detalhes plenamente dispensáveis, uma tranza (escrevo com Z porque com S soaria como trança, a de cabelos) entre dois homossexuais. Mas li O Muro, maravilhoso, embora esse tal de Casas dos Budas Ditosos eu tenha preferido largá-lo a alguma favela literária. Abraços.
ResponderExcluirtua alma gêmea podia ter deixado o telefone né...
ResponderExcluirÉ, acho que ela sacaneou de propósito. Essas mulheres...ehehe
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