domingo, 29 de maio de 2011

Minha alma gêmea (lê romances pornográficos)

Livros catados pelos sebos da vida sempre reservam alguma surpresa. Além de comprar obras de valor inestimável por cinco ou dez pilas, levamos de brinde uma que outra maravilha rabiscada pelos donos anteriores.

Já há algum tempo, arrematei O Muro, de Jean Paul Sartre, em um sebo de São Leopoldo. Na folha de rosto, a pequena Sandra – criança, como a letra denuncia - devia estar brincando de completar títulos de livro. Escreveu na folha de rosto: “do meu jardim”. Na última página, achando incompletos os dados sobre o autor, Sandra acrescenta lindamente ao lado do ano de 1980(!): “omde acomteseu a guerra mundial”. Fico imaginando o que a pequena Sandra, alfabetizada a obras existencialistas, poderia estar fazendo hoje em dia.


Os leitores gostam de enriquecer os livros legando suas opiniões, impressões, devaneios para a posteridade. No meu Bom dia para os defuntos, de Manuel Scorza, um leitor sublinhou a frase “Deus dava de ombros desdenhoso”, e arriscou uma piada na margem: “dar de ombros divino”. Socializando, na última página este blogueiro expõe tudo aquilo que pensou sobre o livro: “o capítulo 9 é sensacional”. Um dia alguém há de concordar ou discordar.

Finalmente, o melhor exemplo disso tudo encontrei não em um sebo, mas num exemplar retirado na biblioteca da faculdade. Era A Casa dos Budas Ditosos, pornografia disfarçada do baiano João Ubaldo Ribeiro. Lá pelas tantas do romance, ao lado de uma passagem realmente engraçada, a leitora anota assim: “se você morreu de rir com esse parágrafo, é minha alma gêmea”. E assina embaixo um nome que já esqueci.

Como eu havia morrido de rir com aquele parágrafo, descobri não apenas que almas gêmeas existem, mas também que eu tinha a minha. Não é lindo isso? Quantas risadas estamos deixando de dar juntos, minha alma gêmea e eu? Foi pelo benefício da dúvida que preferi não responder.

5 comentários:

  1. O muro foi uma das coisa mais inpactantes que já li foi o Muro.onde moro não tenho acesso a livrarias onde possa encontra-la.Caso voce tenha uma cópia eletronica e, se puder, mande-me... ficarei grato: aurelio_tf!@hotmail.com

    ResponderExcluir
  2. Gente, achei isso bacana demais... Parabéns pela percepção aguçadíssima, Andrei. E eu aqui, viajando na fantasia, imagino isso virando um filme, ou inspirando um belo romance... Ai, meu Deus! rsrs...

    ResponderExcluir
  3. Gostei, Andrei, mas me permita uma penada a respeito do tal baiano consagrado: ele mescla piada de botequim com pornografia pura. Basta ler O Sorriso do Lagarto, onde a páginas tantas ele descreve, com detalhes plenamente dispensáveis, uma tranza (escrevo com Z porque com S soaria como trança, a de cabelos) entre dois homossexuais. Mas li O Muro, maravilhoso, embora esse tal de Casas dos Budas Ditosos eu tenha preferido largá-lo a alguma favela literária. Abraços.

    ResponderExcluir
  4. tua alma gêmea podia ter deixado o telefone né...

    ResponderExcluir
  5. É, acho que ela sacaneou de propósito. Essas mulheres...ehehe

    ResponderExcluir