domingo, 31 de julho de 2011

Li, reli e postei

O texto abaixo é sensacional. Um dos mais inspiradores que já li e um dos mais belos também. Trata-se do trecho de um discurso feito pelo escritor norte-americano David Foster Wallace a uma turma de formandos em Letras que o elegeu paraninfo, e que a revista piauí traduziu e publicou um mês após sua morte, por suicídio, em 2008.

Li A liberdade de ver os outros pela primeira vez há um ano, mais ou menos, e reli esta semana, em que muito se falou do DFW, graças à primeira tradução de um livro dele no Brasil. Se tiverem um tempinho, leiam, pois é de uma sabedoria incrível. Como um especialista sobre o autor definiu em um artigo de jornal, é uma "linda lição de ser gente".


A liberdade de ver os outros

Dois peixinhos estão nadando juntos e cruzam com um peixe mais velho, nadando em sentido contrário. Ele os cumprimenta e diz:

- Bom dia, meninos. Como está a água?

Os dois peixinhos nadam mais um pouco, até que um deles olha para o outro e pergunta:

- Água? Que diabo é isso?

Não se preocupem, não pretendo me apresentar a vocês como o peixe mais velho e sábio que explica o que é água ao peixe mais novo. Não sou um peixe velho e sábio. O ponto central da história dos peixes é que a realidade mais óbvia, ubíqua e vital costuma ser a mais difícil de ser reconhecida. Enunciada dessa -forma, a frase soa como uma platitude - mas
é fato que, nas trincheiras do dia-a-dia da existência adulta, lugares comuns banais podem adquirir uma importância de vida ou morte.

Boa parte das certezas que carrego comigo acabam se revelando totalmente equivocadas e ilusórias. Vou dar como exemplo uma de minhas convicções automáticas: tudo à minha volta respalda a crença profunda de que eu sou o centro absoluto do universo, de que sou a pessoa mais real, mais vital e essencial a viver hoje. Raramente mencionamos esse egocentrismo natural e básico, pois parece socialmente repulsivo, mas no fundo ele é familiar a todos nós. Ele faz parte de nossa configuração padrão, vem impresso em nossos circuitos ao nascermos.

Querem ver? Todas as experiências pelas quais vocês passaram tiveram, sempre, um ponto central absoluto: vocês mesmos. O mundo que se apresenta para ser experimentado está diante de vocês, ou atrás, à esquerda ou à direita, na sua tevê, no seu monitor, ou onde for. Os pensamentos e sentimentos dos outros precisam achar um caminho para serem captados, enquanto o que vocês sentem e pensam é imediato, urgente, real. Não pensem que estou me preparando para fazer um sermão sobre compaixão, desprendimento ou outras "virtudes". Essa não é uma questão de virtude - trata-se de optar por tentar alterar minha configuração padrão original, impressa nos meus circuitos. Significa optar por me libertar desse egocentrismo profundo e literal que me faz ver e interpretar absolutamente tudo pelas lentes do meu ser.

Num ambiente de excelência acadêmica, cabe a pergunta: quanto do esforço em adequar a nossa configuração padrão exige de sabedoria ou de intelecto? A pergunta é capciosa. O risco maior de uma formação acadêmica - pelo menos no meu caso - é que ela reforça a tendência a intelectualizar demais as questões, a se perder em argumentos abstratos, em vez de simplesmente prestar atenção ao que está ocorrendo bem na minha frente.

Estou certo de que vocês já perceberam o quanto é difícil permanecer alerta e atento, em vez de hipnotizado pelo constante monólogo que travamos em nossas cabeças. Só vinte anos depois da minha formatura vim a entender que o surrado clichê de "ensinar os alunos como pensar" é, na verdade, uma simplificação de uma idéia bem mais profunda e séria. "Aprender a pensar" significa aprender como exercer algum controle sobre como e o que cada um pensa. Significa ter plena consciência do que escolher como alvo de atenção e pensamento. Se vocês não conseguirem fazer esse tipo de escolha na vida adulta, estarão totalmente à deriva.

Lembrem o velho clichê: "A mente é um excelente servo, mas um senhorio terrível." Como tantos clichês, também esse soa inconvincente e sem graça. Mas ele expressa uma grande e terrível verdade. Não é coincidência que adultos que se suicidam com armas de fogo quase sempre o façam com um tiro na cabeça. Só que, no fundo, a maioria desses suicidas já estava morta muito antes de apertar o gatilho. Acredito que a essência de uma educação na área de humanas, eliminadas todas as bobagens e patacoadas que vêm junto, deveria contemplar o seguinte ensinamento: como percorrer uma confortável, próspera e respeitável vida adulta sem já estar morto, inconsciente, escravizado pela nossa configuração padrão - a de sermos singularmente, completamente, imperialmente sós.

Isso também parece outra hipérbole, mais uma abstração oca. Sejamos concretos então. O fato cru é que vocês, graduandos, ainda não têm a mais vaga idéia do significado real do que seja viver um dia após o outro. Existem grandes nacos da vida adulta sobre os quais ninguém fala em discursos de formatura. Um desses nacos envolve tédio, rotina e frustração mesquinha.

Vou dar um exemplo prosaico imaginando um dia qualquer do futuro. Você acordou de manhã, foi para seu prestigiado emprego, suou a camisa por nove ou dez horas e, ao final do dia, está cansado, estressado, e tudo que deseja é chegar em casa, comer um bom prato de comida, talvez relaxar por umas horas, e depois ir para cama, porque terá de acordar cedo e fazer tudo de novo. Mas aí lembra que não tem comida na geladeira. Você não teve tempo de fazer compras naquela semana, e agora precisa entrar no carro e ir ao supermercado. Nesse final de dia, o trânsito está uma lástima.

Quando você finalmente chega lá, o supermercado está lotado, horrivelmente iluminado com lâmpadas fluorescentes e impregnado de uma música ambiente de matar. É o último lugar do mundo onde você gostaria de estar, mas não dá para entrar e sair rapidinho: é preciso percorrer todos aqueles corredores superiluminados para encontrar o que procura, e manobrar seu carrinho de compras de rodinhas emperradas entre todas aquelas outras pessoas cansadas e apressadas com seus próprios carrinhos de compras. E, claro, há também aqueles idosos que não saem da frente, e as pessoas desnorteadas, e os adolescentes hiperativos que bloqueiam o corredor, e você tem que ranger os dentes, tentar ser educado, e pedir licença para que o deixem passar. Por fim, com todos os suprimentos no carrinho, percebe que, como não há caixas suficientes funcionando, a fila é imensa, o que é absurdo e irritante, mas você não pode descarregar toda a fúria na pobre da caixa que está à beira de um ataque de nervos.

De qualquer modo, você acaba chegando à caixa, paga por sua comida e espera até que o cheque ou o cartão seja autenticado pela máquina, e depois ouve um "boa noite, volte sempre" numa voz que tem o som absoluto da morte. Na volta para casa, o trânsito está lento, pesado etc. e tal.

É num momento corriqueiro e desprezível como esse que emerge a questão fundamental da escolha. O engarrafamento, os corredores lotados e as longas filas no supermercado me dão tempo de pensar. Se eu não tomar uma decisão consciente sobre como pensar a situação, ficarei irritado cada vez que for comprar comida, porque minha configuração padrão me leva a pensar que situações assim dizem respeito a mim, a minha fome, minha fadiga, meu desejo de chegar logo em casa. Parecerá sempre que as outras pessoas não passam de estorvos. E quem são elas, aliás? Quão repulsiva é a maioria, quão bovinas, e inexpressivas e desumanas parecem ser as da fila da caixa, quão enervantes e rudes as que falam alto nos celulares.

Também posso passar o tempo no congestionamento zangado e indignado com todas essas vans, e utilitários e caminhões enormes e estúpidos, bloqueando as pistas, queimando seus imensos tanques de gasolina, egoístas e perdulários. Posso me aborrecer com os adesivos patrióticos ou religiosos, que sempre parecem estar nos automóveis mais potentes, dirigidos pelos motoristas mais feios, desatenciosos e agressivos, que costumam falar no celular enquanto fecham os outros, só para avançar uns 20 metros idiotas no engarrafamento. Ou posso me deter sobre como os filhos dos nossos filhos nos desprezarão por desperdiçarmos todo o combustível do futuro, e provavelmente estragarmos o clima, e quão mal-acostumados e estúpidos e repugnantes todos nós somos, e como tudo isso é simplesmente pavoroso etc. e tal.

Se opto conscientemente por seguir essa linha de pensamento, ótimo, muitos de nós somos assim - só que pensar dessa maneira tende a ser tão automático que sequer precisa ser uma opção. Ela deriva da minha configuração padrão.

Mas existem outras formas de pensar. Posso, por exemplo, me forçar a aceitar a possibilidade de que os outros na fila do supermercado estão tão entediados e frustrados quanto eu, e, no cômputo geral, algumas dessas pessoas provavelmente têm vidas bem mais difíceis, tediosas ou dolorosas do que eu.

Fazer isso é difícil, requer força de vontade e empenho mental. Se vocês forem como eu, alguns dias não conseguirão fazê-lo, ou simplesmente não estarão a fim. Mas, na maioria dos dias, se estiverem atentos o bastante para escolher, poderão preferir olhar melhor para essa mulher gorducha, inexpressiva e estressada que acabou de berrar com a filhinha na fila da caixa. Talvez ela não seja habitualmente assim. Talvez ela tenha passado as três últimas noites em claro, segurando a mão do marido que está morrendo. Ou talvez essa mulher seja a funcionária mal remunerada do Departamento de Trânsito que, ontem mesmo, por meio de um pequeno gesto de bondade burocrática, ajudou algum conhecido seu a resolver um problema insolúvel de documentação.

Claro que nada disso é provável, mas tampouco é impossível. Tudo depende do que vocês queiram levar em conta. Se estiverem automaticamente convictos de conhecerem toda a realidade, vocês, assim como eu, não levarão em conta possibilidades que não sejam inúteis e irritantes. Mas, se vocês aprenderam como pensar, saberão que têm outras opções. Está ao alcance de vocês vivenciarem uma situação "inferno do consumidor" não apenas como significativa, mas como iluminada pela mesma força que acendeu as estrelas.

Relevem o tom aparentemente místico. A única coisa verdadeira, com V maiúsculo, é que vocês precisam decidir conscientemente o que, na vida, tem significado e o que não tem.

Na trincheira do dia-a-dia, não há lugar para o ateísmo. Não existe algo como "não venerar". Todo mundo venera. A única opção que temos é decidir o que venerar. E o motivo para escolhermos algum tipo de Deus ou ente espiritual para venerar - seja Jesus Cristo, Alá ou Jeová, ou algum conjunto inviolável de princípios éticos - é que todo outro objeto de veneração te engolirá vivo. Quem venerar o dinheiro e extrair dos bens materiais o sentido de sua vida nunca achará que tem o suficiente. Aquele que venerar seu próprio corpo e beleza, e o fato de ser sexy, sempre se sentirá feio - e quando o tempo e a idade começarem a se manifestar, morrerá um milhão de mortes antes de ser efetivamente enterrado.

No fundo, sabemos de tudo isso, que está no coração de mitos, provérbios, clichês, epigramas e parábolas. Ao venerar o poder, você se sentirá fraco e amedrontado, e precisará de ainda mais poder sobre os outros para afastar o medo. Venerando o intelecto, sendo visto como inteligente, acabará se sentindo burro, um farsante na iminência de ser desmascarado. E assim por diante.

O insidioso dessas formas de veneração não está em serem pecaminosas - e sim em serem inconscientes. São o tipo de veneração em direção à qual você vai se acomodando quase que por gravidade, dia após dia. Você se torna mais seletivo em relação ao que quer ver, ao que valorizar, sem ter plena consciência de que está fazendo uma escolha.

O mundo jamais o desencorajará de operar na configuração padrão, porque o mundo dos homens, do dinheiro e do poder segue sua marcha alimentado pelo medo, pelo desprezo e pela veneração que cada um faz de si mesmo. A nossa cultura consegue canalizar essas forças de modo a produzir riqueza, conforto e liberdade pessoal. Ela nos dá a liberdade de sermos senhores de minúsculos reinados individuais, do tamanho de nossas caveiras, onde reinamos sozinhos.

Esse tipo de liberdade tem méritos. Mas existem outros tipos de liberdade. Sobre a liberdade mais preciosa, vocês pouco ouvirão no grande mundo adulto movido a sucesso e exibicionismo. A liberdade verdadeira envolve atenção, consciência, disciplina, esforço e capacidade de efetivamente se importar com os outros - no cotidiano, de forma trivial, talvez medíocre, e certamente pouco excitante. Essa é a liberdade real. A alternativa é a torturante sensação de ter tido e perdido alguma coisa infinita.

Pensem de tudo isso o que quiserem. Mas não descartem o que ouviram como um sermão cheio de certezas. Nada disso envolve moralidade, religião ou dogma. Nem questões grandiosas sobre a vida depois da morte. A verdade com V maiúsculo diz respeito à vida antes da morte. Diz respeito a chegar aos 30 anos, ou talvez aos 50, sem querer dar um tiro na própria cabeça. Diz respeito à consciência - consciência de que o real e o essencial estão escondidos na obviedade ao nosso redor - daquilo que devemos lembrar, repetindo sempre: "Isto é água, isto é água."

É extremamente difícil lembrar disso, e permanecer consciente e vivo, um dia depois do outro.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Só serve pra sentir saudade

Certas coisas só servem pra sentir saudade. E só por isso as mantemos em nossas vidas, ainda que nem sempre em lugares devidamente arejados.

Toda vez que tento dar uma organizada nas gavetas, é a mesma história. O esforço para manter guardado um monte de coisa que não uso mais, mas que um dia servirão para sentir saudade.

Objetos sem função, muitas vezes sem nenhuma beleza e que ainda ocupam meu precioso espaço. Coisas que nem pra enfeite servem, como diz o personagem do Xico Sá no filme O Cheiro do Ralo, quando tenta vender um bonequinho numa garrafa, que “só serve pra fazer poesia”. Mas que simplesmente não consigo jogar no lixo.

Coisas que já dão certo aperto no coração, outras que, por este cronista ainda não ser tão velho assim, ainda nem deixaram saudade, mas que já estão programadas para saudades futuras. Como o rascunho do projeto do trabalho de conclusão da faculdade, por exemplo. Ia jogar fora, mas guardei.

Posso citar aqui os cadernos antigos, cheios de desenhos, redações e letras de músicas traduzidas. Já descartei muitos, mas é impossível que me desfaça de todos. Tão significativos quanto as fotos de infância e adolescência, estão ali meus traços a lápis e caneta, minhas ideias de toda uma época. Como pode não vir a ser valioso um dia, ainda que só para minhas próprias lembranças?

Para diversificar os exemplos, listo mais alguns: desde antigas camisetas que não servem mais, como a do time do colégio e a da formatura do 2º grau (a da faculdade ainda serve!), até coisas mais recentes, como o primeiro crachá ou as primeiras credenciais de imprensa.

A cada dia de limpar gavetas, uma pequena pilha de tralhas vai para o lixo. Outra, cada vez menor, é reorganizada e empurrada para o fundo, mas sempre é mantida. E se um dia perdê-las, será só uma saudade a mais. A das tralhas que me traziam saudades.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Do livro Despertar: uma vida de Buda

...você não deve praticar ações gentis em favor de um nascimento celestial, mas sim para que dia e noite, corretamente livre de pensamentos rudes, amando igualmente tudo que vive, você possa se esforçar para se livrar de toda a confusão da mente e praticar contemplação silenciosa; no fim, apenas isso traz benefício; além disso não há realidade.

Jack Kerouac, inspirado em ensinamento budista


O primeiro que pôr em prática ganha um bombom.



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Feliz Dia do Amigo

Últimas horas de mais um Dia do Amigo, data que sempre me pega de surpresa. Alguém lembra, durante o ano, que o 20 de julho é o Dia do Amigo? Eu, definitivamente, não.

Dia de lembrar que meus grandes amigos estão espalhados por aí. Ou melhor, meus amigos e eu estamos todos espalhados por aí. Pela serra, pelo estado, pelo país, pelo mundo. Alguns não vejo há meses, outros não vejo há semanas, outros não vejo há alguns dias. Mas de todos eles, que saudades.

Consola este cronista que, se a vida impõe que nos vejamos cada vez menos, também permite que cada reencontro seja momento de rara felicidade, muito além do que a convivência cotidiana pode proporcionar.

Tenho amigos com quem só converso sobre futebol. Com outros o assunto é tão somente os dilemas e glórias da profissão. Alguns são aqueles com quem compartilho apenas impressões sobre as mulheres e seu universo todo particular. Há ainda os que invariavelmente me recordam da infância vivida junto, são minhas memórias em forma de amigo. E há, lógico, os inestimáveis, aqueles que não exigem que eu fale qualquer palavra que sirva apenas para legitimar presença.

Os amigos mais amigos são como uma fogueira que não precisa que joguemos lenha a todo instante para impedir que apague. Mas para abrir o leque das felicitações, proponho que hoje comemoremos o dia de todos os amigos. Pois as datas comemorativas estão aí para serem banalizadas, ora essa.

Portanto, se você já brindou comigo um gol do Grêmio no bar, Feliz Dia do Amigo. Se já fomos apresentados por um conhecido em comum e no dia seguinte acenamos um para o outro, Feliz Dia do Amigo. E se me conheceste com os cabelos loiros e lisos da infância, e tão somente nesta época, Feliz Dia do Amigo.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Breve post sobre desenhos

A notícia de que o saudoso Capitão Planeta finalmente terá o reconhecimento que sempre mereceu - irá virar filme - realmente mexeu com meu eu nostálgico. O que não é assim tão difícil, já que sou refém resignado da nostalgia. Mas não costumo ser nostálgico numa terça-feira à tarde.

É que o até hoje tão menosprezado Capitão Planeta foi um dos desenhos da minha infância. O preferido, ao lado da Corrida Maluca e do Scooby Doo. Mais tarde vieram Os Cavaleiros do Zodíaco, inesquecível, e o bom Marsupilami, que passava no Disney Club, assim como Doug. Tinha alguns que eu não gostava, mas eram bem poucos. Tom & Jerry, por exemplo.

Como era bom acordar cedo para assistir desenhos tomando leite com Nescau. Só depois de velhos conhecemos a preguiça e o ranço matinal. Triste era quando o cozinheiro da TV Colosso chamava para o almoço. Lembram?

À distância, os desenhos de hoje parecem muito estranhos, non sense total. Não sei nem citar nomes, mas passem os olhos pela TV Globinho ou algum outro programa infantil um dia e comprove.

Será que as crianças de hoje, quando forem adultas irão lembrar dos personagens com quem elas passam as manhãs? Ou será que os desenhos perderam tanto espaço para os vídeo-games e computadores, que serem apelativos foi só o que restou?

E para você, amigo leitor, qual o desenho da sua infância?

domingo, 17 de julho de 2011

Dia de Baden Powell

Baden Powell, amigos. Ainda que sem nenhum motivo aparente, preciso começar a semana falando sobre Baden Powell.

Não sei dizer há quanto tempo Baden é o meu grande ídolo na música brasileira, lado a lado com João Bosco, assim como também não sei se ouvir o Baden é que me comove ou se eu que recorro a ele quando estou comovido, por algum motivo. Quem ouvir Samba Triste, por exemplo, há de me entender.

Baden é um dos maiores violonistas de todos os tempos e um dos grandes compositores brasileiros. Não há nada de novo nisso. Mas me chama a atenção também a voz dele, uma voz frágil, que em nada lembra a de um cantor, mas que é muito agradável de ouvir. O Baden velhinho tem uma certa voz sábia de avô.

As parcerias mais clássicas de Baden são com Vinícius de Moraes, com quem compôs Samba da Bênção (clássico de formaturas) e os afrosambas (Canto de Ossanha, Berimbau, etc.). Mas ele também tem ótimas parcerias com Paulo César Pinheiro (Lapinha) e Billy Blanco (Samba Triste), entre outros.

Baden tem sons de profunda melancolia e de singela alegria. Não é para todas as horas, requer alguma introspecção. Não desperdicemos o Baden nos fones de ouvido da volta pra casa, por exemplo.

Também não desperdicemos o Baden lendo estas palavras sobre ele. Afinal, podemos ouvi-lo nos links abaixo:

Samba Triste (ouvir) (ouvir - instrumental)

Lapinha (ouvir)

Tem dó (ouvir)

Round Midnight (ouvir)

Trecho de um pocket show em Paris (ouvir)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Década e meia de rock

No Dia Mundial do Rock, uma cronologia apressada, porém honesta, do gênero na vida deste blogueiro.

1996 – 1997 - Aos 10 anos, só ouvia o Acústico MTV dos Titãs, presente de aniversário que tinha tudo pra dar errado, pois eu não ouvia rock, mas que funcionou. Época de Mamonas Assassinas e de ouvir as bandas do Planeta Atlântida.

1998 - Conheço o Alive III do KISS. Desenhava Gene Simmons no caderno, aprendia inglês traduzindo letras inteiras. Está no meu MP3 player até hoje.

1999 – Fã de KISS, conheço outras bandas, mas sem estabelecer grandes vínculos. As bandas preferidas dos meus colegas eram Iron Maiden, Black Sabbath, Os Raimundos, Tequila Baby.

2000 – Dou uma chance ao Guns N’ Roses e viro fã. Live Era 87-93 é o álbum que mais ouvi na vida, sem sombra de dúvidas. Também conheço Rage Against The Machine, mas à primeira audição não chega a me emocionar muito. Deixo o cabelo crescer.

2001 – Logo em janeiro, assistindo o Rock in Rio III, viro ainda mais fã de Guns. No colégio, começamos com a banda Jack Daniel’s. Época de se envolver em polêmicas com pagodeiros. Será que ainda existe isso?

2002 – Resolvo ceder às influências da minha mãe, que sabe tudo de rock e há tempos insistia para que eu ouvisse Eric Clapton, Stones, Janis Joplin e Led Zeppelin. Bendita influência!

2003 – Assistindo a um especial na MTV, conheço The Doors. E Jim Morrison é meu maior ídolo até hoje. Graças a Jim, chego ao Blues, à literatura Beat, à contracultura em geral e passo a dar ainda mais atenção ao rock dos anos 60.

2004 – 2005 - Corto o cabelo. Nas aulas de violão com o mestre Luis Fernando, conheço João Bosco. Neste período, quase só escuto MPB, principalmente Baden Powell e Chico, além do próprio João. Em novembro de 2005, o show do Pearl Jam, no Gigantinho, foi o primeiro grande show que assisti. Foi demais.

2006 – Resolvo que quero ouvir só blues. Afinal, o que não for blues, não cabe na vida de um bluesman. Etta James vira minha cantora favorita.

2007-2009 – Começo a virar menos roqueiro, mais jazzista. Mas também, com a internet cada vez mais rápida, é a época de baixar discografias de todas as bandas imagináveis e não ouvir quase nada.

2010 – Assisto ao vivo, em Porto Alegre, Guns N Roses em março e Aerosmith em maio. Minha adolescência, enfim, pode descansar em paz. Conheço Canned Heat e Going Up The Country é a música que mais escuto no ano.

2011 – Concluo que, nestes anos todos, nunca dei a Bob Dylan a atenção que ele merecia. E há duas semanas, só escuto Bob Dylan.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Simplifique

Quanto mais simples, melhor. Estou cada vez mais convencido de que esse é o princípio básico da nossa busca da felicidade, que já é felicidade em si.

Admiro tudo que resta intocado pela sofisticação. A culinária simples, por exemplo. Por mais repetitiva que possa ser, deixo o paladar refinado para os que vivem a vida refinada. Fico com o arroz, o bife e a batata frita.

Relacionamentos têm que ser simples, se é que isso é possível. Quantos não terminaram tendo como explicação somente o fato de ser complicado? Até as brigas devem ser simples, para os dois lados entenderem o por quê.

Simples deveriam ser todas as nossas ações e reações cotidianas e também nossas perguntas para a vida. Que sejam simples, elementares e despretensiosas. E sem esperar por respostas, já que essas são tudo, menos simples.

Vamos viver como um blues de poucos e simples acordes, soando no mesmo ritmo, para comportar melhor o improviso melódico. Se a vida é um improviso, quanto mais simples for, erraremos menos. E se o caminho percorrido foi simples, smpre saberemos para onde voltar

Não nos desperdicemos, portanto, nas complexidades que estão aí. Sejamos, nós mesmos, auto-sustentáveis. E cada vez mais, busquemos simplificar.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O simpático Tim-Tim

Enquanto uma nova crônica que venha para revolucionar os costumes do nosso século não surge por aqui, compartilho essa materinha que saiu no clicBento e na ZH do último dia 1º. É a história de uma sacada bem bacana dos vizinhos de Garibaldi.

Turismo direto do front

Há mais de duas décadas, um veterano da 2ª Guerra Mundial passeia diariamente pelas ruas de Garibaldi, na Serra. Trata-se do Tim-Tim, um legítimo caminhão do exército dos anos 40 transformado em um elegante ônibus de turismo.

A história do Tim-Tim – nome alusivo ao brinde de champanhe, bebida que é um dos símbolos de Garibaldi – começa, ou recomeça, em 1990, quando foi adquirido pela prefeitura junto ao exército brasileiro. O prefeito da época viu o caminhão parado em um quartel de Porto Alegre, e imaginou que poderia dar a ele uma nova utilidade. E desse dia até o primeiro passeio pelo centro histórico do município de 30 mil habitantes foi só o tempo de reformar a cabine e substituir a carroceria pelo reboque que o transforma num ônibus para até 50 passageiros.

Durante o período da guerra, entre 1939 e 1945, foram fabricadas mais de 500 mil unidades destes caminhões militares, que serviam para o transporte de tropas e de suprimentos para o front. Mais de 60 anos depois, poucos continuam trafegando, e dificilmente algum outro tenha mudado tão radicalmente de função.

Há 20 anos na boleia do Tim-Tim, Renato Corbelini conta com orgulho histórias dos turistas que já conduziu, transportando desde um grupo de freiras de diversos países até atores e atrizes globais. E o parceiro nunca o deixou na mão.

- Estamos sempre atentos à manutenção do ônibus, que é mesmo muito antigo, mas ele jamais nos deu problema. O único problema é a quantidade enorme de gasolina que ele consome – brinca.

Os passeios são agendados pela Secretaria de Turismo de Garibaldi, e ocorrem geralmente nos finais de semana, sempre conduzidos por um guia de turismo que conta a história do município. Na semana passada, foram feitas reformas na lataria e alguns reparos na pintura. Tudo para deixar o velho Tim-Tim ainda mais bonito para o inverno.

domingo, 3 de julho de 2011

Trajetos

Sou apegado a certos trajetos. O ritual de cumpri-los diariamente, principalmente o da volta do trabalho para casa, no finzinho da tarde, é uma agradável rotina que cultivo há bastante tempo.

No frio quase congelante dessa época, com um vento batendo no rosto, mãos no bolso da jaqueta, sem pressa para chegar, cultuando a invenção da touca, da luva, dos fones de ouvido, tudo é bom humor na volta pra casa, ali pelas 18h30.

Caminho 20 minutos nesse caminho trabalho-casa. Além de revigorante, ainda tem a vantagem de ser um hábito saudável, o que nunca foi uma das bandeiras que ergui na vida.

Cumprir com um mesmo trajeto todo santo dia nos torna íntimos das ruas por onde passamos. Das vitrines das lojas; dos rostos nas paradas de ônibus; dos malabaristas prateados do sinal vermelho, do fim de expediente do comércio e das repartições públicas.

Todos os envolvidos somos partes de um cenário que nós mesmos protagonizamos e repetimos diariamente, e gosto de saber disso enquanto caminho.

Quase chegando em casa, há ainda a irresistível vitrine da pet shop, com seus filhotes de cães e gatos que geralmente dormem tranqüilos, alheios ao caos do mundo lá fora. Na última esquina, o trailer do cachorro quente sempre bombando. E então o lar.

É inevitável que um dia a rotina mude, que outros caminhos surjam, e que eu sinta falta de meu trajeto diário do fim da tarde. E me pergunto se, como toda boa relação que chega ao fim, sentirá ele minha falta também.



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