terça-feira, 26 de julho de 2011

Só serve pra sentir saudade

Certas coisas só servem pra sentir saudade. E só por isso as mantemos em nossas vidas, ainda que nem sempre em lugares devidamente arejados.

Toda vez que tento dar uma organizada nas gavetas, é a mesma história. O esforço para manter guardado um monte de coisa que não uso mais, mas que um dia servirão para sentir saudade.

Objetos sem função, muitas vezes sem nenhuma beleza e que ainda ocupam meu precioso espaço. Coisas que nem pra enfeite servem, como diz o personagem do Xico Sá no filme O Cheiro do Ralo, quando tenta vender um bonequinho numa garrafa, que “só serve pra fazer poesia”. Mas que simplesmente não consigo jogar no lixo.

Coisas que já dão certo aperto no coração, outras que, por este cronista ainda não ser tão velho assim, ainda nem deixaram saudade, mas que já estão programadas para saudades futuras. Como o rascunho do projeto do trabalho de conclusão da faculdade, por exemplo. Ia jogar fora, mas guardei.

Posso citar aqui os cadernos antigos, cheios de desenhos, redações e letras de músicas traduzidas. Já descartei muitos, mas é impossível que me desfaça de todos. Tão significativos quanto as fotos de infância e adolescência, estão ali meus traços a lápis e caneta, minhas ideias de toda uma época. Como pode não vir a ser valioso um dia, ainda que só para minhas próprias lembranças?

Para diversificar os exemplos, listo mais alguns: desde antigas camisetas que não servem mais, como a do time do colégio e a da formatura do 2º grau (a da faculdade ainda serve!), até coisas mais recentes, como o primeiro crachá ou as primeiras credenciais de imprensa.

A cada dia de limpar gavetas, uma pequena pilha de tralhas vai para o lixo. Outra, cada vez menor, é reorganizada e empurrada para o fundo, mas sempre é mantida. E se um dia perdê-las, será só uma saudade a mais. A das tralhas que me traziam saudades.

2 comentários:

  1. Sofro do mesmo mal...

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  2. Aham, "Toda vez que tento dar uma organizada nas gavetas, é a mesma história. O esforço para manter guardado um monte de coisa que não uso mais, mas que um dia servirão para sentir saudade."

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