quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A era do ser banalizado

Nem sempre foi assim, mas em algum momento todos ficamos acostumados a ter nossos amigos e conhecidos disponíveis a qualquer momento, nestes sistemas de troca de mensagens instantâneas pela internet, como MSN e os chats do Gmail e do Facebook, por exemplo.

A toda hora, nas redes sociais, mantemos nossos amigos atualizados sobre nossa rotina e acompanhamos os pormenores do que se passa na vida deles. Estamos por dentro de tudo, desde suas mais profundas crises existenciais até a hora da consulta no dentista.

Acredito que um efeito colateral da comunicação pelas redes sociais, ou mesmo pelo Messenger, seja uma certa banalização de nós mesmos. Não ficarão nossos amigos enjoados de nós, que estamos o tempo todo diante de seus olhos, representados pelo nosso simpático e sorridente avatar, que passa o dia invadindo telas?

Quando passamos manhã, tarde e noite conectados, estamos nos colocando à disposição em tempo integral, logo dando motivos para não sermos procurados. E narrar nossa rotina no Facebook ou no Twitter pode fazer de nós pessoas aparentemente maçantes e cansativas.

Há algum tempo reparei que tenho sentido mais saudade de pessoas que normalmente não me fariam tanta falta, pelo simples motivo de que raramente tenho contato virtual com elas. Creio que só a superexposição nas timelines alheias pode fazer com que pessoas legais se tornem mais superficiais do que outras nem tão interessantes, porém menos assíduas no cotidiano virtual.

Como há alguns anos, quando a moda era dar toque no celular. Recebíamos toques e achávamos isso legal, pois alguém lembrara de nós. Mas se passávamos a receber esses toques repetidas vezes, da mesma pessoa, cedo ou tarde acabava o encanto, e então reclamaríamos do pé no saco que não tinha mais o que fazer. Só é legal até banalizar. E nossa atual onipresença na rede banaliza tudo.

Desde o Orkut, em 2004, que sou um entusiasta das redes sociais. Mas tento usá-las com moderação, mesmo quando a vontade é de sair falando o que dá na telha. Pois em que mundo não virtual nós seríamos capazes de suportar a fala de nossos conhecidos sem nenhum intervalo que não seja o do sono obrigatório?

Finalmente, deixo aqui a dúvida. Será que estamos deixando de ser pessoas legais e nos tornando chatos descartáveis, sempre disponíveis para o papo e que tudo contam a quem queira ou não saber?

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Barrados no avião

Matéria deste blogueiro publicada no Pioneiro de quarta-feira (19), e na Zero Hora de quinta-feira (20)

A expectativa de um passeio ao Nordeste se transformou em uma grande dor de cabeça para uma família de Bento Gonçalves. Tudo porque, uma semana antes do embarque, a companhia aérea impediu que a filha de três anos do comerciante Volnei Pertile e de sua esposa, Eliane, embarcasse junto com eles e seus outros dois filhos para Porto Seguro (BA).

A pequena Maria Luísa é portadora de paralisia cerebral, causada por um acidente de trânsito quando ela tinha apenas sete meses de idade. Para que pudesse levá-la à viagem, a família obteve um laudo médico, exigido pela companhia, atestando que a menina estava apta a embarcar.

O documento foi aceito, mas a surpresa veio na última sexta feira (14), quando um e-mail enviado pela Gol Linhas Aéreas retificava a posição anterior, afirmando que o caso fora reavaliado por uma junta médica, e que, por questões de segurança, não seria permitido que a criança embarcasse com os pais.

Sentindo-se vítima de discriminação, a família tentou negociar, mas não obteve sucesso. Apoiada então em uma resolução de 2007 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que obriga as companhias aéreas a se adequar às necessidades das pessoas portadoras de deficiência, Pertile entrou com uma ação judicial contra a companhia.

– Maria Luísa tem dificuldades motoras, mas um acento de três pontas já seria suficiente para que ela pudesse viajar. Não encontramos uma explicação plausível, técnica ou jurídica para essa posição da empresa – afirma o advogado da família, Adroaldo Dal Mass.

O pai diz que, em consulta a outras companhias aéreas, obteve de todas elas a autorização para a viagem da pequena. Porém, a família aguarda para os próximos dias o resultado do pedido de uma liminar que pode permitir o embarque pela Gol.

– Hoje (ontem), me ligaram oferecendo desconto e uma maca para a minha filha viajar. Mas nossa luta agora não é mais pela viagem, mas sim pelos direitos da pessoa especial – comenta Volnei.

Em nota enviada à reportagem, a Gol Linhas Aéreas confirma ter oferecido ao cliente a possibilidade de transportar a criança em uma maca, e que as exigências da empresa estão em consonância com as normas de segurança estabelecidas pelas Autoridades Aeronáuticas.

sábado, 15 de outubro de 2011

Queridos mestres

Muitos dos meus seres humanos preferidos são professores. E alguns dos mais importantes também. Hoje percebo como não são apenas os colegas que me fazem falta nas salas de aula da vida. Os bons professores também sabem se tornar companhias imprescindíveis.
Não se constrói um bom ser humano sem bons professores. E os bons seres humanos que leem esse blog sabem que jamais esquecemos a convivência que tivemos, ou ainda temos, com nossos queridos mestres de toda a vida.
De todos os meus bons professores, fui melhor como amigo do que como aluno. Poucas vezes na vida fui bom aluno, pois meu interesse pelas aulas ia e voltava de tempos em tempo, sem que eu fizesse muito para mantê-lo além do estritamente necessário.
Mesmo assim, credito muito dos melhores traços da minha personalidade aos mestres com quem tive a oportunidade de aprender um pouquinho. Da pré-escola ao Trabalho de Conclusão na faculdade, aprendi a observar o mundo da forma como eles me sugeriam, chegando até a pegar o jeito deles falarem, daquela forma meio inconsciente com que isso acontece.
Acredito que os melhores professores são aqueles com quem aprendemos a gostar de algo que não sabíamos que poderíamos gostar. A paixão pela matéria que ensinam, aliada a algum carisma, sempre nos convence.
Sem citar nomes, para não cometer o pecado de esquecer alguém por pura falha da memória, aproveito as últimas horas deste Dia do Professor para dar, em forma de palavras, um imenso abraço nos queridos mestres que tanto me ensinaram. E pelo carinho que dispenso a todos eles, sei que citá-los aqui seria só um detalhe.

domingo, 9 de outubro de 2011

Crie a sua Apple

Os amigos leitores provavelmente já assistiram ao vídeo que mostra o belo discurso proferido por Steve Jobs aos formandos de Stanford, em 2005.

Embora em boa parte do texto o criador da Apple fale sobre o já surrado tema da importância de “fazer aquilo que amamos”, o discurso traz algumas reflexões muito legais, que, como sempre, se tornam mais sérias quando o autor se vai desse mundo (Jobs faleceu na última quarta-feira).

Assisti ao vídeo há algumas semanas, quando o assunto do dia era a renúncia de Steve Jobs ao cargo de CEO da sua Apple. E lembro-me de ter gostado principalmente de um trecho em que ele sugere como é possível ter aquela epifania que provoque a vontade de mudança diante da insatisfação:

"Quando eu tinha 17 anos, li uma citação que dizia algo como 'se você viver cada dia como se fosse o último, um dia terá razão'. Isso me impressionou, e nos 33 anos transcorridos sempre me olho no espelho pela manhã e pergunto, se hoje fosse o último dia de minha vida, eu desejaria mesmo estar fazendo o que faço? E se a resposta for "não" por muitos dias consecutivos, é preciso mudar alguma coisa."

Confesso que esta última frase, principalmente, me atingiu em cheio. Creio que por me sentir provocado a pensar que a passividade diante do que não nos satisfaz é uma regra da vida bastante difícil de burlar, e a imaginar o peso que pode ter a repetição de uma resposta negativa sobre o valor do que estamos fazendo com e para a nossa vida.

Acredito que, se passamos longos períodos da vida insatisfeitos, o mais comum é sucumbir à preguiça até de pensar se está bom ou ruim, e, se estiver mesmo ruim, no que daria pra melhorar. A preguiça é a fonte maior da tristeza e a tristeza, por sua vez, é fonte do marasmo que nos faz querer desistir e esperar o tempo, o nosso tempo, passar.

Este trecho do discurso de Jobs, em especial, é um convite a pensar em mudar. É uma passagem que pode vir à tona sempre que nos questionarmos sobre o sentido de nossas escolhas. Podemos conviver, eu mesmo já escrevi, com dias ruins, de achar que não está legal ou valendo à pena. Mas este mesmo sentimento, por dias consecutivos, é a deixa para tentar mudar. Acreditando que há sempre algo novo para fazermos de nós mesmos.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Estranged

Até para os que continuam fãs deste Axl Rose quase cinquentão, como eu, o show do Guns no Rock in Rio foi frustrante. Em alguns momentos, chegou a ser irritante.

O atraso, a chuva, as chatas sessões instrumentais, mas principalmente a sucessão de erros (solo de Welcome..., letra esquecida em November Rain, intro de Patience, entre outros), tudo contribuiu para que os críticos se tornassem mais críticos e os fãs um pouco mais céticos quanto ao futuro da banda e, especialmente, do Axl, que cantou bem abaixo do seu normal atual (comparações com 20 anos atrás não se justificam e nem interessam).

Mas não vou esconder que curti bastante alguns momentos. Acho que Rocket Queen e Nightrain foram bem executadas, por exemplo, assim como Better, uma das minhas preferidas do Chinese Democracy. E, para este fã, o fato principal foi que a banda finalmente tocou Estranged, 18 anos depois. E foi a melhor do show. Abaixo, compartilho aqui com os amigos que já estavam dormindo quando tudo aconteceu.