terça-feira, 24 de maio de 2011

Os males da coluna diária

Podem cobrar futuramente, mas duvido que este blogueiro venha um dia a se aventurar no ofício de colunista diário, seja de jornal, site ou blog mesmo.

Sem entrar nos méritos da inspiração e do talento, que também podem faltar a este cronista, o requisito que certamente não cumpro é o desapego pelos meus escritos.

Sou muito apegado ao que escrevo. Lembro de cada título, de cada argumento, de cada frase que já tenha agradado a alguém, de cada comentário Se produzisse 365 textos por ano, como daria atenção a cada um deles? Crônicas são filhos que coloco no mundo. Sou a mãe, o leitor assume a paternidade.

Alguns textos são produtos de semanas de pensamentos, de inúmeras tentativas e erros, e até de desistência temporária, até que retorne a ele após aquela sacada que faltava e que surge inesperadamente. É um ritual dramático e às vezes desgastante (para este que vos escreve. Nada de generalizar).

Todo esse envolvimento faz do texto uma experiência difícil de imaginar enquanto exercício diário sem a impressão de que estaria banalizando o que mais gosto de fazer.

Paulo Sant’Ana, cronista idolatrado por este aprendiz, publicou 16 mil colunas em Zero Hora. As melhores, as mais árduas, para não condená-las à efemeridade da página de jornal, reuniu em três livros. Por três vezes, voltou do sótão com uma caixa cheia, carregando só o que o tempo não estragou. É um apegado ao texto, mas que ocupa os lapsos de inspiração com mais textos, alguns descartáveis. É cronista refém da coluna diária.

O colunista diário tem que ter muito a dizer. Dizendo muito, esquece muito o que já disse. Prefiro esquecer pouco. E não tenho tanta coisa assim a dizer.

5 comentários:

  1. Adorei esta frase: "Dizendo muito, esquece muito o que já disse. Prefiro esquecer pouco. E não tenho tanta coisa assim a dizer".

    Continue refém da coluna diária, eu mera leitora, agradeço!!!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, Amanda!

    E continue lendo, que quem agradece sou eu!

    ResponderExcluir
  3. Pô Andrei, que legal. Eu escrevo muito pouco, nossa, tenho muito menos prática... Mas sinto a mesma coisa com relação aos meus textos!!
    Legal que tu pensa assim. Significa que tu dá valor, que se esforça pra escrever, e não o faz na correria.
    Claro, não pode comparar com o Sant'Ana, que muitas vezes fez crônicas na correria... Mas aí são "ossos do ofício".

    Com certeza continuarei assumindo a paternidade de muitos dos teus textos ;) hehe

    Beijo.

    ResponderExcluir
  4. Pois é, escrever todo dia requer uma tolerância com o texto que vai sair na correria, que eu ainda não tenho(só pra matérias) e que não ensinam na faculdade...ehehe

    Beijo!

    ResponderExcluir
  5. E ai Andrei....
    Muito bem escrito o seu artigo, gostei.
    Fica bem evidente em tuas palavras o gosto pelo o que fazes, a clareza em tuas colocações mostra a quem está lendo que sem dúvidas tú Andrei gostas de escrever e ser simplesmente o Andrei.Beijo.Jacqueline xavier Pereira.

    ResponderExcluir