Nada como poder recorrer ao infinito calendário de efemérides sempre que os assuntos começam a rarear na mente do blogueiro. Se há uma semana fui salvo pelo Dia da Mulher, hoje o Dia da Poesia vem salvar este blog do inferno da desatualização.
Não sou especialista em poesia. Não sou especialista em nada, é verdade, mas em poesia passo ainda mais longe. Mas sei recitar por aí uma meia duzia de poemas que gosto bastante, principalmente do Augusto dos Anjos e do Manoel de Barros, meus dois poetas preferidos.
Costumo demorar uma semana para decorar um poema a ponto de recitá-lo com segurança. O último que aprendi foi até aqui o mais difícil (creio que seja dos mais fáceis para quem é do ramo), mas também é dos mais belos que já conheci. Chama-se Em paz, e é de autoria do poeta mexicano Amado Nervo (1870-1919). Ei-lo:
Já bem perto do ocaso, eu te bendigo, ó Vida,
porque nunca me deste esperança mentida,
nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.
Porque vejo, ao final de tão rude jornada,
que a minha sorte foi por mim mesmo traçada;
que, se extraí os doces méis ou o fel das cousas,
foi porque as adocei ou as fiz amargosas:
quando eu plantei roseiras, eu colhi sempre rosas.
Decerto, aos meus ardores, vai suceder o inverno:
mas tu não me disseste que maio fosse eterno!
Longas achei, confesso, minhas noites de penas;
mas não me prometeste noites boas, apenas,
e em troca tive algumas santamente serenas…
Fui amado, afagou-me o Sol. Para que mais?
Vida, nada me deves. Vida, estamos em paz!
Nenhum comentário:
Postar um comentário