quarta-feira, 14 de março de 2012

Em paz


Nada como poder recorrer ao infinito calendário de efemérides sempre que os assuntos começam a rarear na mente do blogueiro. Se há uma semana fui salvo pelo Dia da Mulher, hoje o Dia da Poesia vem salvar este blog do inferno da desatualização.

Não sou especialista em poesia. Não sou especialista em nada, é verdade, mas em poesia passo ainda mais longe. Mas sei recitar por aí uma meia duzia de poemas que gosto bastante, principalmente do Augusto dos Anjos e do Manoel de Barros, meus dois poetas preferidos.

Costumo demorar uma semana para decorar um poema a ponto de recitá-lo com segurança. O último que aprendi foi até aqui o mais difícil (creio que seja dos mais fáceis para quem é do ramo), mas também é dos mais belos que já conheci. Chama-se Em paz, e é de autoria do poeta mexicano Amado Nervo (1870-1919). Ei-lo:

Já bem perto do ocaso, eu te bendigo, ó Vida,

porque nunca me deste esperança mentida,

nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.


Porque vejo, ao final de tão rude jornada,

que a minha sorte foi por mim mesmo traçada;

que, se extraí os doces méis ou o fel das cousas,

foi porque as adocei ou as fiz amargosas:

quando eu plantei roseiras, eu colhi sempre rosas.


Decerto, aos meus ardores, vai suceder o inverno:

mas tu não me disseste que maio fosse eterno!

Longas achei, confesso, minhas noites de penas;

mas não me prometeste noites boas, apenas,

e em troca tive algumas santamente serenas…


Fui amado, afagou-me o Sol. Para que mais?

Vida, nada me deves. Vida, estamos em paz!


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