São
16h da primeira quinta-feira de outubro e o calor do sol castiga
quem transita pelo populoso centro de Caxias do Sul. Próximo à
esquina da avenida Júlio de Castilhos com a rua Moreira César, um
rapaz de não mais de 1,70m se move com passos calculados, tentando não
sair da sombra de uma árvore, no canteiro central. Ele tem a pele
bronzeada, a barba por fazer e o cabelo arrepiado a base de gel e
spray. Veste calça jeans e uma camisa do Juventude. Entre os dedos
da mão direita, segura um cigarro que mal tem tempo de levar à
boca. Não mão esquerda, está com dois buquês de crisântemos
rosa. Outros 5 buquês, de rosas vermelhas e amarelas, mantém presos
sob o braço esquerdo. Com o olhar atento de quem está sempre na
rua, não perde de vista o balde que está ao lado da porta
de uma ótica, recheado com pelo menos mais 5 buquês de flores
diversas. Nesta tarde, como em qualquer outra, a missão de Diego
Moroni é repassar o maior número possível deles para as mãos dos
românticos transeuntes ou motoristas da cidade.
O
vendedor de flores que até pouco tempo atrás podia ser visto todas as tardes na esquina da rua Coronel Flores com a Sinimbu, mas que há
alguns dias deixou de ter ponto fixo, é o tipo de pessoa que já
deve ter ouvido mais de uma vez que deveria se candidatar a vereador, pela popularidade de que desfruta. Entre seus incontáveis
amigos do Centro, estão senhores em carros tão enormes quanto luxuosos, que baixam os
vidros para trocar com Diego algumas palavras sobre qualquer
banalidade que caiba em 10 ou 15 segundos, e senhoras – mais
freguesas do que os homens – preocupadas em ter algum enfeite para
receber as visitas na sala de estar. Vendendo flores desde os 10 anos
de idade, Diego já descobriu que regar as amizades, e principalmente
a clientela, é fundamental para não perdê-las.
Diego
nasceu em São Marcos, há 35 anos, mas mora em Caxias desde os 20,
no bairro Reolon. Divide a casa com o pai, a mãe, 8 irmãos e um
cunhado, mas planeja se mudar em breve para um apartamento no Centro.
Quer morar com a namorada. Já foi entregador de jornal e chapista do
McDonald’s, mas sempre trabalhando meio turno, pois nunca deixou de
vender suas rosas, crisântemos, orquídeas e gerberas.
Nos
finais de semana, Diego faz bicos como vendedor de bebidas em shows e
em estádios de futebol, o que explica se seu rosto parecer familiar
para públicos bem distintos. Com o salário e a comissão que recebe
por buquê vendido, sua renda mensal gira em torno de R$ 1.000, sem
contar os bicos.
Bem
articulado, Diego concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual
Cristóvão Mendonza. Preocupado
em atender bem a clientela estrangeira, chegou a frequentar por dois
anos um curso de inglês. “Quando o cliente diz ‘no’,
eu respondo ‘obrigado’.” Mas por que obrigado? "Porque é
assim também na língua dele”, confunde-se. Mas o que vale é a
intenção. Nas suas mãos, os buquês custam R$ 10 cada, mas,
“dependendo da cara do freguês”, como não tem vergonha de
admitir, pode oferecer 2 ramalhetes por R$ 15. A clientela feminina é
mesmo maioria. “Algumas compram para oferecer para uma amiga, mas a
maioria é para enfeitar a casa”, analisa.
Na tarde em que acompanhamos o seu trabalho, enquanto ele está em sua estratégica posição sob a árvore do canteiro, uma senhora se aproxima do balde com os buquês. Ele interrompe uma conversa com uma amiga que estava passando por ali ao acaso, deixa-a aguardando e atravessa a rua para atender a também já conhecida Neusa Nery, de 42 anos, freguesa há alguns anos. Nessa ocasião, Neusa compra dois ramalhetes de rosas para a mãe e um ramalhete de crisântemo para a cunhada, ambas falecidas. É véspera de finados, o que, segundo Diego, não chega a incrementar o movimento. Talvez os mortos prefiram arranjos comprados prontos nas floriculturas. Antes de ir embora, Neusa deixa um elogio. “Sempre que eu penso em comprar flor, minha referência aqui em Caxias é ele”, brinca, sob o olhar orgulhoso do vendedor.
Na tarde em que acompanhamos o seu trabalho, enquanto ele está em sua estratégica posição sob a árvore do canteiro, uma senhora se aproxima do balde com os buquês. Ele interrompe uma conversa com uma amiga que estava passando por ali ao acaso, deixa-a aguardando e atravessa a rua para atender a também já conhecida Neusa Nery, de 42 anos, freguesa há alguns anos. Nessa ocasião, Neusa compra dois ramalhetes de rosas para a mãe e um ramalhete de crisântemo para a cunhada, ambas falecidas. É véspera de finados, o que, segundo Diego, não chega a incrementar o movimento. Talvez os mortos prefiram arranjos comprados prontos nas floriculturas. Antes de ir embora, Neusa deixa um elogio. “Sempre que eu penso em comprar flor, minha referência aqui em Caxias é ele”, brinca, sob o olhar orgulhoso do vendedor.
Quando não há nenhum freguês em potencial passando
por perto, ocasião em que Diego aproveita para acender mais um
cigarro, aproveitamos para perguntar qual o segredo para ser um bom
vendedor de flores. “É saber trovar”, ensina. O que é trovar?
“É ver uma senhora passando e sugerir: ‘vai uma flor para
enfeitar a casa?’. Ou se passa um casal, perguntar para o homem:
‘não quer dar uma rosa para a namorada?’”. Mas não há
argumento que supere a simpatia, um dom que ele sabe dizer até
quando desenvolveu. “Sou simpático assim desde os 8 anos. Acho que
desde essa idade que eu aprendi a gostar de alegrar as pessoas, de
fazer todo mundo rir”, conta, com um sorriso bem característico,
que é quase disfarçado. Talvez como o de quem acabou de contar uma
piada que talvez só ele tenha entendido e você ficou no vácuo.
Diego é mesmo um gozador. Ou será que alguém que leve a vida muito a sério vestiria, por baixo da camisa do Juventude, uma do Caxias, só para agradar a alviverdes e grenás? Das 8:30 às 20:30, o florista Diego, que os colegas conhecem por Alemãozinho, ganha seus dias se aproveitando da melhor forma dos afetos humanos. Pois enquanto houver romantismo, haverá um florista sorrindo pela rua.
Diego é mesmo um gozador. Ou será que alguém que leve a vida muito a sério vestiria, por baixo da camisa do Juventude, uma do Caxias, só para agradar a alviverdes e grenás? Das 8:30 às 20:30, o florista Diego, que os colegas conhecem por Alemãozinho, ganha seus dias se aproveitando da melhor forma dos afetos humanos. Pois enquanto houver romantismo, haverá um florista sorrindo pela rua.
*foto Paulo Pasa