Noite
passada, por volta das 21h, conversava pelo chat do Facebook com uma amiga, quando ela
interrompeu bruscamente seu próprio raciocínio: “Já venho, mãe
no telefone”. Bem assim, com essas mesmas palavras que uso para
interromper uma conversa toda vez que minha mãe liga (normalmente
depois das 20h dos dias mais calmos da semana, porque ela acha que eu
sou muito ocupado).
Só
ontem, ao ser destinatário e não remetente da mensagem, percebi que "já venho, mãe
no telefone" é das frases mais bonitas que podemos dizer. Pode valer mais que "eu te amo", só pra citar uma que sempre
declaramos à toa por aí. E talvez seja a
única que não permita ao amigo responder algo como "não
demore", por mais urgente que possa ser a pauta do bate-papo.
Mãe
no telefone é uma interrupção sincera. Nem a mãe que por acaso
diz "já venho, filho chorando", está tão isenta de qualquer desconfiança. Ninguém mente sobre uma ligação da mãe, que é
coisa séria. Inventamos outras desculpas, nunca essa. Não há o
menor receio de ser mal interpretado diante de tal justificativa. Com
saudade de mãe não se brinca. E nossas saudosas mães, quando
ligam, é porque estão de coração apertado. Acredito que não haja
sono tranqüilo para uma mãe sem antes ter notícias do filho. Mas
nem por isso elas ligam todas as noites. Preferem dormir preocupadas
a dar a entender que estão ficando chatas com suas preocupações.
Não
bastasse todo o trabalho de criar, de educar, de entregar para os
braços pouco acolhedores do mundo, caber ainda à mãe a tarefa de
ligar para o filho distante é demais. Mas nós, filhos desgarrados
do lar, somos assim, esquecemos de dar notícias, sempre distraídos
com o cotidiano a as buscas que nos dispersam de quem está sempre
disponível.
Menos
mal que toda a distância, toda a saudade, toda a falta de notícias
e a consequente preocupação mútua, encontra toda a redenção
nesta simples frase, que pode ser dita ou digitada em dois segundos, de forma tão automática quanto escrevemos o próprio nome.
"Já venho. Mãe no telefone".
ehehe que bonito!
ResponderExcluirMesmo que as vezes pareça que não temos muito assunto para falar, escutar a voz de nossos filhos que estão distante é um alento. Mães não se acostumam com a ausencia dos filhos, mesmo sabendo que estão muito bem. Acho que é um pouco de ciúme de ver que cresceram o suficiente para "andarem sozinhos"...
ResponderExcluirObrigado pela leitura, Carla! Identifico esse ciúme na minha mãe também. Como ela sempre diz quando eu acho que ela está exagerando, mães são todas iguais, só muda o endereço.
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