quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Mãe no telefone


Noite passada, por volta das 21h, conversava pelo chat do Facebook com uma amiga, quando ela interrompeu bruscamente seu próprio raciocínio: “Já venho, mãe no telefone”. Bem assim, com essas mesmas palavras que uso para interromper uma conversa toda vez que minha mãe liga (normalmente depois das 20h dos dias mais calmos da semana, porque ela acha que eu sou muito ocupado).

Só ontem, ao ser destinatário e não remetente da mensagem, percebi que "já venho, mãe no telefone" é das frases mais bonitas que podemos dizer. Pode valer mais que "eu te amo", só pra citar uma que sempre declaramos à toa por aí. E talvez seja a única que não permita ao amigo responder algo como "não demore", por mais urgente que possa ser a pauta do bate-papo.

Mãe no telefone é uma interrupção sincera. Nem a mãe que por acaso diz "já venho, filho chorando", está tão isenta de qualquer desconfiança. Ninguém mente sobre uma ligação da mãe, que é coisa séria. Inventamos outras desculpas, nunca essa. Não há o menor receio de ser mal interpretado diante de tal justificativa. Com saudade de mãe não se brinca. E nossas saudosas mães, quando ligam, é porque estão de coração apertado. Acredito que não haja sono tranqüilo para uma mãe sem antes ter notícias do filho. Mas nem por isso elas ligam todas as noites. Preferem dormir preocupadas a dar a entender que estão ficando chatas com suas preocupações.

Não bastasse todo o trabalho de criar, de educar, de entregar para os braços pouco acolhedores do mundo, caber ainda à mãe a tarefa de ligar para o filho distante é demais. Mas nós, filhos desgarrados do lar, somos assim, esquecemos de dar notícias, sempre distraídos com o cotidiano a as buscas que nos dispersam de quem está sempre disponível.

Menos mal que toda a distância, toda a saudade, toda a falta de notícias e a consequente preocupação mútua, encontra toda a redenção nesta simples frase, que pode ser dita ou digitada em dois segundos, de forma tão automática quanto escrevemos o próprio nome. "Já venho. Mãe no telefone".

3 comentários:

  1. Mesmo que as vezes pareça que não temos muito assunto para falar, escutar a voz de nossos filhos que estão distante é um alento. Mães não se acostumam com a ausencia dos filhos, mesmo sabendo que estão muito bem. Acho que é um pouco de ciúme de ver que cresceram o suficiente para "andarem sozinhos"...

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  2. Obrigado pela leitura, Carla! Identifico esse ciúme na minha mãe também. Como ela sempre diz quando eu acho que ela está exagerando, mães são todas iguais, só muda o endereço.

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