quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Minha maior sorte

Dia desses, conversando com um amigo (já notaram que sempre começo assim?), contava a ele sobre tudo o que costumava fazer quando ia para casa (São Chico). Principalmente a rotina de encontrar velhos conhecidos, matar a saudade, essas coisas que pra mim são tão comuns. Foi quando, em notável tom de lamento, ele disse que me invejava, pois essa era uma experiência que fazia muita falta em sua vida: a de ter amigos de infância. Não um ou dois, que até os tinha, mas vários, uma turma. Como o blogueiro aqui tem.

Atribuiu a isso o fato de ter nascido e se criado na cidade grande, onde os vínculos são mais difíceis de serem mantidos. Dizia que aqueles nascidos e se criados em capitais geralmente perdem algo importante, esse relação fácil e quase inevitável com os amigos de infância. Por vários motivos: ou moram longe, ou mudam de escola com maior freqüência, ou se afastam depois de crescidos. E eu ainda complementei dizendo que, no interior, até se afastar é difícil, pois estamos sempre esbarrando nos velhos conhecidos, querendo ou não.

Vivi exatos 87% da minha vida na minha cidade natal e querida, de 20 mil habitantes. E desde que saí, não passei mais do que um mês sem visitar o que deixei por lá: mãe, família, amigos, meus gatos, até lugares queridos. São partes de mim, da mesma forma que acredito ser parte deles. São aquilo com que me importo, minha preocupação frequente, onde sei que posso sempre buscar um pouco mais de felicidade.

Não digo que lá é que fui mais feliz, que pra lá quero voltar a viver, que estou triste aqui. Algumas coisas daqui de fora não existem lá, e são importantes também. A felicidade está sempre nas medidas certas, também entre a saudade e o reencontro. Só digo que não vivo sem essas ligações.

Sei que posso estar enganado e vir a receber muitos exemplos contrários. O orgulho de ser provinciano pode fazer com que eu ache meus Campos de Cima da Serra melhor em tudo. Mas tão logo ouvi aquela confissão de meu amigo, meu ego inflou de felicidade, porque ia de encontro com algo que sempre pensei. Essa incomparável sorte de pertencer a uma pequena comunidade. E não vejo como trocaria isso por qualquer outra coisa na vida.

6 comentários:

  1. Eu reclamo bastante de São Chico, de como é uma cidade cheia de atrasos e tal, mas vendo por esse teu ponto de vista, tenho que concordar contigo.
    Nada como andar na rua e saber o nome de todo mundo, nada como poder ver teus velhos amigos todos os dias, ou nos finais de semana... E nada como sair daqui da terrinha, ir para qualquer "cidade grande" e encontrar um conhecido. A gente fica morrendo de felicidade e, quando volta pra cá, conta pra todo mundo: "encontrei fulano em Porto Alegre!" hehehe...
    É um privilégio nosso mesmo, fazer parte dessa terrinha tão gostosa que é São Chico!

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  2. Verdade, Camila. Acho que uma das coisas que mais sinto falta aqui em Bento é encontrar conhecidos na rua, como sempre acontecia em Porto Alegre e até em São Leo.

    Aqui o pior é ver pessoas até parecidas com alguém que conheço, mas logo se dar conta de que jamais seria essa pessoa, pelo simples motivo de que ninguém de São Chico que conheço vem pra Bento...eehehe

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  3. Ô Andrei... daqui a um tempo tu pode juntar todos esses textos sobre peculiaridades de São Chico e da vida por aqui e montar um livro! Quanta coisa legal tu recupera nessa teu blog...

    Então... esse é um dos prazeres de se viver ou ter raízes por aqui. Em qualquer canto que se vá a gente se sente em casa, por causa das memórias, das pessoas conhecidas, dos grandes amigos...E se afastar, hehe...é mesmo, quase impossível!
    Tb não troco isso por nada!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Bah, qdo fui embora de São Chico me sentia bem assim e todo o final de semana batia em São Chico! Sem dúvidas o colo da mãe faz falta, mas nada se compara com a falta dos amigos. Eu atravessava a Borges à caminho do trampo sem dar um "daê" ou um singelo "oi" quase me deixou em depressão. Porém encontrar constantemente o Zuza, o Seco, o Bola, o da Sois, o Beto (sempre na Lima e Silva) dava um alento na situação.
    Mas, inacreditavelmente, parecia q as sextas era um dia mágico e q eu contava as horas pra ir pra rodoviária pegar o 19:15, ou carona com o Beto e algumas vezes passar no posto colocar $50 no Celta e subir a Serra, passando algum tempo na BR116.
    Outra coisa era jogar play e tomar velho Gold com Coca no apê da Duque! Tah certo q eu sempre perdia no play, mas estar na cia dos amigos jah tava de bom tamanho...
    Se não fosse a falta de emprego São Chico seria outra cidade. Almoçar em casa e dar mil "DAÊs" não tem preço...

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  6. Eu me encontro na mesma situação do teu amigo. Me criei numa cidade grande, sempre cheio de amigos, mas nem sempre mantendo os mesmos. Faz-se amizade fácil, perde-se com a mesma velocidade. Não é a mesma relação de amizade, aquelas de infância ou de uma cidade pequena. Fui descobrir o que é isso em São Chico! Aliás, grande motivo que me levou a trocar de habitat! Por aqui podemos ficar meses sem ver um amigo e, quando o reencontramos, parece que nos vimos ainda na semana passada e que nada mudou entre nós. Virtudes de um lugar chamado São Chico...

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