segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Ciúme

Parafraseando Guilherme de Almeida, que termina o poema O Ciúme dizendo, sobre sua amada, “tenho ciúme de quem não te conhece ainda, e cedo ou tarde te verás, pálida e linda, pela primeira vez”, vou contar que tenho sentimentos parecidos.

Um certo zelo velado pelas boas sensações que experimentamos e que não se repetem. Não para nós, mas apenas para os que ainda irão experimentá-las. Ciúme mais ou menos como o do poeta, ainda que mais singelo do que este irrecuperável ciúme da primeira visão de uma linda mulher.

Exemplos?

Ciúme da insegurança de quem vai sair de mãos dadas com a namorada pela primeira vez.

Da euforia de quem ainda vai passar no vestibular e ver seu nome no listão do jornal (só depois cai a ficha de que difícil mesmo é não passar na maioria dos vestibulares).

Da felicidade de quem dará início a muitas amizades de sala de aula, no colégio, na faculdade, onde for, e, sem que precise esforço, manterá as melhores.

Da irracionalidade de quem se tornará um fiel devoto de uma banda de rock (como eu fui duas vezes, pelo menos) e deixará crescer o cabelo, vestirá camisetas da banda, rasgará as calças, aprenderá a tocar um instrumento, formará uma banda com os amigos.

Do esforço de quem passará uma noite sem dormir apenas para descobrir como o dia amanhece (mais tarde viramos a noite ao natural e nem sempre é tão poético).

Tudo isso e muito mais já foi novidade em nossas vidas antes de se tornar comum. E poucas coisas guardam o sabor das primeiras vezes. O que não podemos reviver, desejamos que outros vivam igual. E não cansamos de falar o quanto foi bom. Mas só até onde o nosso ciúme permite.

6 comentários:

  1. Poema completo:

    O ciúme

    “Minha melhor lembrança é aquele instante no qual
    Pela primeira vez, me entrou pela retina
    Tua silhueta, provocante e fina
    Como um punhal

    Depois, passaste a ser unicamente aquela
    Que a gente se habitua a achar apenas bela
    E que é quase banal.

    E agora que te tenho em minhas mãos e sei
    Que os teus nervos se enfeixam todos em meus dedos
    E os teus sentidos são cinco brinquedos
    Com que brinquei

    Agora que não mais me és inédita; agora
    Que eu compreendo que, tal como te vira outrora
    Nunca mais te verei

    Agora que de ti, por muito que me dês
    Já não podes dar a impressão que me deste
    A primeira impressão, que me fizeste
    Louco talvez

    Tenho ciúme de quem não te conhece ainda
    E cedo ou tarde te verá, pálida e linda
    Pela primeira vez.”

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  2. oiee...
    lembra de mim...espero q sim..
    bjuss

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  3. fiquei um pouco na dúvida se "ciúme" seria a palavra que eu escolheria...

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  4. Tu fez eu quebrar a cabeça aqui, mas acho que fico com o "ciúme" mesmo...eheheh

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  5. que coisa né?!?
    concordo com os dois poetas, tu e o Guilherme de Almeida =D e me identifico mto c/ isso tudo também...
    É um pouco triste.
    (muito, provavelmente)

    bjao!

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  6. Pooois é, sobre ser triste ou não, é difícil definir.

    Se é verdade que as coisas invariavelmente percam o sabor das primeiras vezes, também é fato que poderíamos não ter nada para sentir ciúme, e isso caracterizaria uma vida bem vazia. O que deixa de ser o caso, quanto mais ciúme nós temos!

    Beijão

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