quarta-feira, 21 de abril de 2010

Só falta a metralhadora

Está claro que o futebol é terreno mais do que propício para a mídia explorar a sua tendência a usar e abusar de termos militares para dramatizar as realidades que constrói. O jogo, por exemplo, não é só um jogo, é uma “guerra”. A torcida é a “nação”. O treinador é o “comandante”. Se ele for bom, é o “estrategista”. O centro-avante é o “artilheiro”, o “matador”.

Não há chute forte, o que há é uma “bomba”, um “tiro”. O time é a “esquadra”. A equipe que mais atacou desferiu um “bombardeio”, “massacrou” o “inimigo”. Recentemente, a manchete de um jornal num dia de Gre-Nal era “Um castelo vai ruir”. O negócio é sair de baixo. E por aí vai.

Sem querer bancar o politicamente correto, acho válidas as críticas feitas à mídia neste sentido. O abuso do belicismo inflama o torcedor, principalmente o menos instruído, que acaba acreditando que futebol é guerra mesmo, que o inimigo faria um favor em morrer.

Mas o que critico aqui não é a prática da imprensa, já tão carregada destes vícios, mas sim a recente prática da diretoria gremista, de vender aos seus torcedores campanhas fortemente baseadas no belicismo, no militarismo.

Primeiro, em setembro do ano passado, foi lançado o Exército Gremista. Agora, há poucos dias, inventaram a Artilharia Gremista. Ambas com grande divulgação, para o torcedor realmente comprar a idéia de que está ingressando numa vida militar mesmo. Não por acaso, o novo estádio irá se chamar Arena. Talvez sejam resquícios do sucesso da “batalha dos aflitos”, jogo histórico em que o Grêmio voltou à primeira divisão (“elite”) do Campeonato Brasileiro.

O que se passa na cabeça dos marketeiros do Olímpico? Alem de pouco educativas, são campanhas de um mau gosto tremendo. Qual a relação possível de ser feita entre a troca de pontos por produtos em uma loja e o termo “artilharia”? Só por pagar uma mensalidade ao clube estarei ingressando em seu “exército”? Onde compro minha metralhadora? Já está a venda na lojinha do Olímpico?

5 comentários:

  1. Não há democracia no futebol!

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  2. Me atrevo a comentar sobre o assunto, mas só pq se refere a outros quesitos e não a tática ou técnica, hehe...

    Sou tão alienada em relação ao futebol que não tinha reparado na quantidade de elementos bélicos que a mídia tem associado ao esporte. E agora tu me chama a atenção pra outro ponto: justo o Grêmio (o meu tipo, bolas) faz tanto uso desse "arsenal"!

    E como tu disse não é querer dar uma de politicamente correta, mas a coisa já é tão perigosa entre alguns torcedores que estimular isso, mesmo que "sem querer querendo", é, no mínimo, colocar mais lenha na fogueira!

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  3. Comentário muito pertinente. Concordo 100% com suas colocações. Infelizmente essa é a realidade.

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  4. É verdade, Cláudia, mesmo "sem querer", a mídia contribui para a violência no futebol através desta argumentação belicista. Poucos, principalmente os menos instruídos,leem criticamente o que é dito, a maioria apenas absorve e acredita.

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  5. Que o teu Grêmio esteja preparado para a "guerra" no domingo!
    Como torcedor, passa na lojinha do Grêmio e adquire a tua metralhadora!
    HAHA

    bjs.

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