segunda-feira, 27 de junho de 2011

Terapia da fofoca

Estou convencido de que minha vizinha elevou a fofoca ao mais puro estado de entretenimento. E com ela descobri que a fofoca generalista e impessoal tem lá sua graça, afinal.

Essa jovem senhora de 60 e poucos anos e eu fofocamos quase que diariamente, geralmente antes, durante e na saída do elevador. Como ela desce alguns andares abaixo, chego a ficar segurando a porta por alguns minutos, enquanto o papo não se esgota. E nunca citamos um nome sequer.

Hoje, por exemplo, falamos sobre um vizinho que fez a mudança pelas escadas e danificou as paredes com a quina de algum móvel. Não sabendo quem era o tal vizinho, criticamos genericamente os vizinhos que se mudam sem os devidos cuidados, estejam eles de chegada ou de saída. E sem ofender ninguém, nem mesmo os bons costumes.

Já desabafamos contra todos os vizinhos sem nunca ter criticado um que fosse, por não saber de quem estamos falando. É o que atira bitucas de cigarro, o que carrega o lixo sempre depois do caminhão passar, o que abre as correspondências deixadas sobre o balcão do hall de entrada. Boas deixas não faltam. Podemos fofocar até sobre eu mesmo, sem que a vizinha saiba de quem estamos falando.

Às vezes minha vizinha e eu nos encontramos no portão, às vezes ela está regando as flores. Encontro-a com a freqüência que encontro a todos os outros moradores somados. Acho que ela passa o dia analisando o cotidiano do prédio, a quem cuida como um filho.

Confesso que em alguns dias a maior interação social que experimento são os 10 minutos de fofocas com essa senhora simpática e indiscreta. A fofoca que não se interessa pela vida dos outros é uma fofoca simplesmente pelo prazer da fofoca. Uma fofoca terapêutica.

São sempre elogiáveis as relações superficiais da vida.

7 comentários:

  1. "Podemos fofocar até sobre eu mesmo, sem que a vizinha saiba de quem estamos falando."
    hehehe demais!

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  2. "Podemos fofocar até sobre eu mesmo, sem que a vizinha saiba de quem estamos falando."

    assim como pode fofocar sobre ela, malandro!!!

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  3. Bahhh...verdade.Mas nem tinha me passado pela cabeça tal malandragem...hehehe

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  4. Bah Andrei, tu é muito mestre mesmo! Sério cara, teus textos são muito divertidos... Relatos simples sobre o teu cotidiano, que nos fazem viajar enquanto lemos. Eu já imaginei toda a cena aqui, tu segurando a porta do elevador pra ela, ela bicudiando a vizinhança e esperando o teu horário pra conversar contigo.... :)

    Que amor.
    Quero botão de "curtir" aqui também. hehe

    Beijão

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  5. Pior é que eu segurando a porta do elevador pra vizinha poder terminar a fofoca é uma cena que eu mesmo jamais imaginaria que pudesse acontecer...eheheh

    Obrigado, Camila!
    Beijo!

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  6. Bah primuxo, adorei o texto, também fiquei imaginando as cenas hilárias deste cotidiano de fofocas ai...coisa boa!!!

    Beijos!

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  7. Bah, estou quase como a tua vizinha ae, e vou te dizer que é bom mesmo! hahahahaha
    Muito bom o texto Andrei!!!!

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