domingo, 16 de maio de 2010

Ensaio sobre uma sensação cujo nome desconheço

Sinto que vou passar por esta vida sem conseguir apreender algo que, me parece, pode ser justamente a sua essência. Não sei se serei mais um frustrado, pois também desconheço se a mais alguém parece haver na existência esta coisa inapreensível.

É como o tempo, por exemplo, do qual temos várias noções, mas nunca entendemos plenamente. Há um sentimento recorrente que me escapa a compreensão. Mas vou tentar descreve-lo, embora até isso seja difícil.

Parece uma necessidade de compreender porque é bom estar no mundo, participando de algo que seja o “mundo”, mas que só é bom absorvendo o tempo presente da existência. Por isso, ao mesmo tempo em que é uma sensação ótima, é também de melancolia, de reconhecer nossa finitude.

É um sentimento recorrente quando ouço determinada música, que pode ser You Can’t Always Get Whay You Want, dos Stones, quando brinco com um gato e ele se retorce todo, aí faço faz cócegas na barriga dele, quando leio os devaneios de Jack Kerouac numa noite fria, quando troco a calça jeans e a camisa pólo pelo abrigo, a camiseta desbotada e o casaquinho cinza de malha sempre que chego em casa. São só algumas ilustrações.

O mais intrigante é que esta mesma sensação me ocorre também em momentos de fragilidade emocional, e são quando acho a melancolia bela, reconheço nela algum prazer de simplesmente senti-la. Pode ser quando alguma pessoa vai embora e sei que dificilmente voltarei a vê-la, quando vejo um cachorro dormindo tranquilo no pé da escada na estação do trem ou quando presencio uma discussão sem sentido algum.

Só pode ser inquietante uma sensação da qual ão se conhece nenhum conceito. Mas em todas estas alegrias e tristezas, que não duram um segundo, percebo uma certa paz, que me liga a essa experiência que não sei contar. Solos de sax têm poderoso efeito de trazê-la à tona. É uma angústia de se pegar pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo.

Às vezes dá vontade de deixar tudo de lado e contemplar esta sensação, a fim de absorvê-la e se deixar tomar por ela. Mas não sei como faria isso. Henry D. Thoreau, poeta americano, morou dois anos, dois meses e dois dias em uma cabana em um bosque, justamente para “sugar o tutano da vida”, tirar o que nela há de mais essencial, livrar-se das simulações da vida.

Gosto da intenção dele, mas considero que este tutano está justamente no cotidiano, junto dos seres que estão conosco nesta experiência de viver, não precisamos de isolamento para extrair da vida a nossa própria.

O cotidiano, infelizmente, tende a nos afastar da reflexão. Leva-nos a, pura e simplesmente, agir dentro de uma rotina quase mecânica. Talvez aí esteja a culpa de, quando uma breve sensação de felicidade, que nos aparece nas alegrias ou nas pequenas tristezas, ser tão difícil de compreender. É perturbador. Mas quem mandou querer entender a vida?

2 comentários:

  1. Domingo 11h46 da manhã... To achando que tu chegou de alguma festa e resolver atualizar o blog. Isso ta me cheirando a reflexões pós-algumas garrafas de vinho!!!
    Que loucura! Muita coisa pra pensar!
    "É uma angústia de se pegar pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo". Muito bom, Andrei, mas muito complexo pra minha cabecinha!!!
    Preciso digerir isso tudo e voltar aqui mais adiante... =)

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  2. Bahh, curioso esse horário indicado pelo blog para a postagem (domingo, 11h46). Estaria eu sonâmbulo?!

    De fato, o texto beira o "non sense", mas juro que não há influência de álcool ou substâncias psico-ativas! Tô limpo!

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